PÉS NA AREIA

Ontem o dia amanheceu nublado, uma leve neblina caía, da janela pude observar a perfeita divisão de onde começava e terminava aquele lindo efeito da natureza. O vento a uma boa velocidade trazia a brisa molhada de encontro a minha face, frio intenso, mesmo assim eu não desistia de contemplar aquele momento.
Sem saber explicar me veio a vontade de descer e ir caminhar na praia, o frio seria maior, mas eu estava bem protegido, certamente poderia saborear o vento e o caminhar na areia. Aproveitaria o deserto da praia e conversaria com meu pai, que mesmo sabendo de toda minha vida lhe falaria dos meus medos, desejos e do meu amor, não me demorei, fui.
Era aproximadamente sete da manhã, o vento mais intenso, o barulho do mar, as ondas atrevidas querendo ir além do permitido por Ele, uma imagem deslumbrante. Decidi então que iria caminhar do norte para o sul, depois entraria na primeira condução e retornaria pra casa. Por mais que eu quisesse cumprir meus compromissos profissionais algo me dizia para ficar, caminhar sem preocupação, como um pássaro, sem compromisso social. preocupado apenas com sua própria liberdade.
Contemplava as palmeiras, a espuma da água, sentia o vento e caminhando ia. Decidi então tirar o tênis e sentir a areia nos pés, amarrei os cadarços e os pendurei no ombro, agora mais a vontade comecei meu discurso olhando para o firmamento, em tom baixo, estava perfeito não poderia ser interrompido ou ouvido pelos mortais, na praia era somente eu e Deus.
Comecei pedindo perdão pelos pecados, os declarei de forma genérica, seria impossível lembrar de todos. Agradeci por todas as bênçãos. Pedi sua proteção para os filhos e suas mães, pedi longevidade para todos e pedi para mim algo especial, que Ele me desse todo o amor disponível, que enchesse meu coração até transbordar para que dessa forma eu conseguisse perdoar aquele que me feriu de morte, que contra mim praticou toda a injustiça além do suportável, que feriu meus filhos, que jogou na lama a minha honra, e não satisfeito ainda tentou tirar minha vida.
As lágrimas brotaram dos olhos e se misturaram a brisa do mar, eu não conseguia controlar, chorava, soluçava que nem uma criança que perdeu algo que ela mais queria. Rapidamente fui sentindo um alívio, senti o amor preenchendo todos os espaços do meu coração, não deixando nada de vazio para o mal, excluindo de vez o ódio.
Me sentia leve, o vento me empurrava, a felicidade me fez sorrir, estava transbordando de amor. Comecei a falar comigo: que interessante, se eu tivesse planejado não teria acontecido, só pode ser de Deus.
A uma certa distância aparece não sei de onde uma criatura correndo devagar na minha direção, a cada momento mais próximo, olho para ele, apontando na minha direção ele diz: ele mandou te dizer que te ama, que tu verás o fim de quem te persegue. Fiquei estático, inerte, vem uma onda e molha meus pés. Qual explicação para tudo aquilo. O relógio desperta, seis da manhã, hora da minha oração diária, mas o sonho estava perfeito na minha mente. Ainda podia sentir a sensação do amor e dos pés na areia.