Waiting.
Desde criança sonhei com um lugar só meu. Um lugar no qual eu pudesse fazer o que quisesse, quando quisesse, e levar quem eu quisesse. Um lugar onde só existisse quem eu quisesse que existisse. Um lugar no qual eu pudesse construir meu próprio mundo. Passaram-se 27 anos, mas consegui. O lugar que mais amo no mundo - minha cabana, mas você já a conhece. Madeira, praticamente no meio do nada, árvores em volta, doces nos potes, whiskey no armário, livros na prateleira, quadros na parede. Tudo perfeito. Comecei a construí-la quando fiz 20 anos. Durante o primeiro ano, usei o dinheiro da faculdade, e meus pais não me perdoaram até hoje, mas sei que eles entenderam o quanto isso é importante pra mim. É inverno, minha estação preferida. Gosto da forma que as chamas crepitam na lareira. Gosto do vento que entra pelas poucas fendas que deixei propositalmente na parede. Gosto da neve que cai de uma forma quase poética e isso contribui para o fato de que ultimamente tenho vindo pra cá com mais frequência. Sabe, é onde me sinto à vontade para pensar em você. É o mesmo ritual sempre: estaciono o carro e entro - com o pé direito. Coloco o cd de uma banda qualquer para tocar (hoje The Head and The Heart), acendo algumas velas, sento na minha poltrona e penso. Nas vezes anteriores eu pensava na tua ida, mas hoje é diferente, e é por isso que resolvi escrever essa carta. Lembrei do dia em que nos conhecemos. Você estava parada, com toda a sua graça e leveza, e eu precisava arranjar uma forma de falar com você. Foi clichê, admito. Esbarrar na pessoa parece coisa de filme, só que a diferença é que esses filmes sempre tem um final feliz. Você foi fria e estúpida, mas isso não me impediu de pedir seu telefone. Levei um não, lembra? Teria sido engraçado se não fosse trágico. Passei dias sem desviar meu pensamento de você, até que - como por obra do destino - nos encontramos na panificadora. Ótimo primeiro encontro. Lembro do sorriso que dei quando você aceitou meu pedido para tomar um café, e como sorri mais ainda quando aceitou minha carona. Cantei vitória antes da hora, você era… bem, você é difícil. Precisei de muito tempo, muita força de vontade e muita coragem pra te conquistar. Consegui. Só que eu nunca fui o tipo de pessoa que conseguia demonstrar o que sentia, e isso te afastou. Por um tempo, tentei te culpar. “Você não me entende”. Mas percebi que o único culpado era eu. Sempre fui egoísta, sempre quis que as pessoas me amassem, sempre agi como se fosse superior, quando na verdade, eu estava no nível mais baixo. Você tentou me mudar e não dei valor a isso. Você despertou em mim o sentimento mais maravilhoso do mundo, e eu não soube aproveitar. Fiz por você coisas que nunca havia feito por ninguém, mas depois entendi que nunca havia sido realmente por você. Era por mim. Eu fui uma pessoa horrível, tentei me redimir e não consegui. Eu amei. Eu tive. Eu perdi. Mas acredito numa espécie de absolvição, acredito que você vai me perdoar, já que mudei. Mudei, e mudei por você.
Já está anoitecendo, desliguei a música, e agora estou na minha cama. Pensando.
Nas vezes anteriores eu pensava na tua ida, mas hoje é diferente. Hoje penso na tua volta.