Decidiu...
Decidiu não esperar muito desses amores que encontrava em noites frias, sombrias. Destes que vem com uma bela embalagem, uma fita decorativa e um bilhete com direito a dedicatória e tudo mais que você puder imaginar. Destes que te atraí o olhar mas te cega o coração. Destes que por dentro são ocos. Vazios. Destes que aumenta tua solidão em dois, te envolve, te enlaça e depois te deixa só na pista.
Descalça.
Desprotegida.
Desnorteada.
Te descompassa.
Decidiu não olhar tanto assim para os lados. Preferiu daquela vez, mais uma vez, olhar um pouco pra dentro de si. Decidiu não parar em esquinas propícias a esse tipo de amor contrabandeado. Preferiu caminhar sem ninguém ao seu lado. Retirou dos pés as sandálias e decidiu se agarrar com a solidão e dançar até às 6 da matina debaixo da chuva. Decidiu não alimentar mais expectativas nos seus olhos, por mais que encontra-se em outros olhos um convite despretensioso para algo a mais. Decidiu não criar esperança à respeito de mais nada. Queria ser surpreendida. Queria ser pega pelas incertezas, pelos medos, pelo que não tinha de tão atrativo assim. Queria ser pega e mantida refém, sem precisar implorar por isso. Sem precisar sair por aí gritando por amor, por carinho, por atenção. Decidiu não cantar mais, não erguer mais as suas mãos ao ar ao som daquela sua música favorita. Preferiu sentar, observar e esperar.
Queria ter alguém com quem compartilhar as noites frias, o sofá pequeno, o brigadeiro da panela, os abraços que eram seus mas que não lhes pertencia. Mal lhes cabia. Queria alguém que ficasse, mesmo quando tudo o fizesse querer partir. Mesmo quando ela o pedisse pra ir. Alguém que segurasse nas suas mãos sem ter nem pra quê. Alguém que sorrisse pra ela de volta com os olhos. Alguém que não lhe machucasse o coração.
Decidiu não se apegar a quem não tinha data, nem lugar. A quem vivia a perambular em outras vidas. A quem vivia de partidas. Decidiu se proteger e desse "tal amor" esquecer. Queria mesmo era sobreviver sem precisar crer nesse amor desmedido, comprado, corrompido. Presente nas noites de carência e solidão. Ela decidiu não mais aceitar, se permitiu renegar, nem mesmo dar o ar de sua presença. Dos seus consentimentos. Decidiu entender que certas coisas não valem a pena se ter e outras nem mesmo desejar. Que aquilo que vem, nem sempre vem para ficar. Quase sempre vem e vai embora sem avisos prescritos, sem beijo de adeus. Que muitos descompassos ainda viriam até encontrar o compasso correto, na dança certa, com o par certo. Que muitas lágrimas precisariam desaguar em seus olhos para regarem o peito e aliviarem a alma. Que sua felicidade por vezes seria adiada pelo destino. Que as grandes lições seriam retiradas dos seus erros, e que em seus percalços encontraria força para seguir. Motivos para sorrir.