Você, saudades

Alô saudades, avisa lá que eu tô de partida.

Avisa que você não cabe mais em mim e que, portanto, você também precisa ir.

Então, saia logo daqui!

Alô saudades?

Você pode me ouvir?

É que a ligação está péssima. E tua voz embargada do outro lado me embaraça as palavras e não me deixa te ouvir.

Durante todo esse ano que passou você esteve aqui.

Dentro de mim.

Disfarçada.

Maquiada.

E por vezes sendo evitada, mas sempre vista.

Sempre sentida.

No peito.

Nos olhos.

No meu sorriso solto preso-ao-choro que me vinha das lembranças dos momentos bons que eu vivi.

Ah, saudades! Eu chorei por ti.

Mas confesso, não nego, existiram momentos em que você, também, me fez sorrir.

Sorrir sozinho. Comigo mesmo.

Aquele sorriso inesperado em meus lábios, que me toma e me faz querer seguir.

Você, saudades, uma hora nostalgia, outrora vergonha, repugnância, dissabor.

Você que foi o tempero que faltava sem medida.

Você que coloriu e descoloriu tudo no meu céu.

Você que desbotou as cores do meu mundo debaixo da chuva que você mesmo provocou.

Você que tirou meu guarda-chuvas só pra me ver dançar molhado, encharcado debaixo desse teu olhar tão cheio de vidas.

Só pra me ver nesta rua contigo,

de-mãos-dadas

dançando sobre as minhas memórias projetadas na tua retina.

Só pra me ver seguindo teus passos.

Me ver dançando pra ti!

Ei, saudades!

Quanta confusão você provoca e sempre me deixa assim, com o coração saindo pela boca e a minha vida em tuas mãos.

Saudades de quem?

Do que?

De onde ir.

Com quem ir.

Saudades de mim vivendo melhor, sem você!

Acho que já está na hora de te esquecer.

Partir.

Viver melhor, como sempre vivi, sem você!

Sem deixar você me ganhar em partes até me ter de uma vez.

Sem abrir as portas e as janelas também.

Vai saudades, vai logo e avisa que preciso ir.

E portanto não me impeçam, não me convençam a ficar aqui.

Existe um lugar pra mim de certo, mas este lugar não é este.

Não é do teu lado, com você!

E já não adianta você me sorrir.

Tuas palavras perderam o encanto, não valem de nada.

E não vão me fazer mudar de ideia.

Pode esquecer.

Vai, vai logo.

Esta na hora de partir.

Partir sem mim!

E eu Viver sem você!

Reges Medeiros
Enviado por Reges Medeiros em 01/01/2013
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