Aniversário número 4

Era 31 de dezembro de 2016. 23 horas. Mãe e filho estavam sentados no sofá da sala, voltando palavras no tempo de memórias, quando o celular dele vibrou sobre a mesa. Ele olhou, viu o ddd, e manteve o telefone a tocar.

- Você não vai atender? – A mãe perguntou, já sabendo quem estava do outro lado da linha. Ele apenas abaixou a cabeça e acenou negativamente. O celular parou de tocar. Um silencio pairou por 10 segundos, até ser interrompido pela voz do rapaz, que olhou nos olhos de sua mãe e disse:

-É ela...

A mãe deu um leve suspiro, olhou de volta, preocupada, e perguntou:

- E você não acha que devia atendê-la?

- Eu não sei...

A mãe olhava triste para o filho. Ela sabia o que acontecia, mas preferia não se meter.

- Há quanto tempo você não fala com ela?

- Quatro anos.

- E você não sente falta dela?

- Todos os dias da minha vida eu penso em saber como ela está, ouvi-la por alguns segundos... Mas eu não posso. Algo dentro e fora de mim ainda me impede de voltar a falar com ela.

- Meu filho... Por que parou de falar?

- Nem eu mesmo sei. A minha noiva nunca gostou que eu falasse... E eu tinha medo de voltar a amá-la tanto quanto antes.

A mãe manteve o olhar preocupado. Ela conhecia bem o filho e, apesar de não entender muito bem, sabia o que ele estava sentindo.

- Falando na sua noiva... O casamento é daqui a um mês. Você vai convida-la?

-Não.

- E ela sabe que você vai se casar?

- Se ainda não sabe, vai acabar sabendo... Mas não a convidarei porque não quero vê-la sofrer. Eu morreria se a visse chorando em um banco da igreja.

-Olha... Eu só sinceramente espero que você saiba o que está fazendo. Eu sei que ela te machucou muito, mas ela sempre amou você.

O filho encostou a cabeço no ombro da mãe, abraçou-a pela barriga, e deixando algumas lágrimas disse:

- Eu também a amo muito... Sempre amei e vou ama-la até o dia da minha morte. Eu sinto saudades do sorriso e da voz dela... Do cheiro e de como ela acariciava o meu cabelo. Mãe, você sabe que eu nunca consegui esquecê-la, e não mantive contato porque precisava seguir em frente. Eu a amo, mas não posso e não quero ficar com ela.

A mãe permaneceu calada. Sabia que por mais que ela dissesse a ele que estava errado, ele jamais a ouviria, afinal, quem ouve conselhos de mãe? Ela preferiu que o tempo mostrasse a ele quem estava com a razão.

Lorena Malschik
Enviado por Lorena Malschik em 30/12/2012
Código do texto: T4059526
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