Água Corrente

Hoje o sol se atrasou a nascer, eu não reconhecia as paredes do meu quarto mas me sentia tão, tão bem! Tudo notavelmente diferente, aliás, cada dia contigo tem sido assim. Eu nem vi quando você chegou, me deslutou em amarelo, encheu de rimas esse lugar, me dançou em melodia lenta e me guardou fechada com calmaria. Todo mundo viu e até me parabenizaram colocando as mãos no meu ombro, diziam que eu finalmente tinha posto meus pés em algo que não explodiria dessa vez. Engano deles, talvez tu explodia em mim muito mais que todos os outros e é só por isso que me fixei. Eu ri como quem concordava, mas só eu podia saber de tudo aquilo. Eu apenas estava com um batom diferente e com uma cara de viva como nunca antes, ou sei lá, deveria exalar um cheiro que nunca tinham sentido, já que ontem, antes de dormir, senti um aroma de água corrente que passava em algumas plantas, ele deve ter impregnado em mim. O cheiro agora não é só meu, e seria um crime eu tentar o tirar da minha pele. Minha melancolia tem cortado pra matar, enquanto escuto tua inacabável sinfonia embalada a piano, deitada imóvel em uma cama mais confortável, te esperando entrar pela porta para dar dois tapinhas na cama, como quem te chama pra deitar e te sentir jogado ao meu lado, com tuas unhas do pé arranhando meu calcanhar, voar por mais algumas horas e ouvir dizer, que não há Maria mais mulher.

Laysa Niéves
Enviado por Laysa Niéves em 27/12/2012
Reeditado em 27/12/2012
Código do texto: T4055904
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