Corolário

Acordou ouvindo os rouxinóis do jardim de inverno, o sol aluminava o pequeno quarto de paredes amarelas,sentiu a brisa leve que entrava pela pequena fresta da janela que ficara aberta na noite anterior, olhou as cortinas indo e vindo, o transe acabou quando ela fechou os olhos.

A calma daquela manhã foi invadida por pensamentos que insistiam em lhe tirar o sossego, agarrou forte o travesseiro e mais do que tudo, quis ter uma amnésia, até os lençóis de seda a sufocavam afastou-os bruscamente fazendo com que caíssem no chão, encolheu-se na cama de solteiro e chorou.

O nó na garganta só aumentava a maneira que as lágrimas se intensificavam, queria gritar mas a voz não saía, faltava-lhe o ar sentia um gosto amargo na boca desejou nunca ter nascido, não havia dor maior que aquela que ela setia naquele momento.

Um misto de ódio e arrependimento, inundavam sua alma de rancor e mágoa “Como pude ter sido enganada por tanto tempo.” era seu único pensamento.

No estopim do sofrimento conseguiu gritar, abafando o desabafo com o travesseiro, estava tão transtornada que levantou e deu um soco no seu guarda-roupa deixando um buraco na porta e como num passe de mágica voltou a si, perplexa olhou suas mãos em seguida a fenda aberta na madeira, não sabia de onde tirara forças para fazer tamanho estrago, seu pai a mataria se visse o que a filha havia feito, com o presente que ele havia dado, mas isso não aconteceria porque a 4 anos a mocinha havia saído de casa para estudar n'outra cidade.

Deu dois passos para trás e levou um susto ao dar de encontro com a gélida parede, abraçou-se, e perdendo a grandiosa força que teve na hora de descarregar a sua raiva no imóvel, ela desceu até encontrar o chão do quarto.

Não havia mais rouxinol, não havia mais brisa, nem a leveza das cortinas a entretia, tudo estava escuro, apesar do meio-dia e uma solitária lágrima percorreu sua face vermelha enquanto seus olhos sem vida fitavam o nada, se esforçando para não pensar ela permaneceu ali por horas e horas e horas.

Ninguém conhece sua história, mas até hoje ela está lá, apesar dos sorrisos e da boemia em que atualmente vive, aquela que antes era a mocinha, hoje é conhecida como a mais nova piriguete da cidade

A Máximo
Enviado por A Máximo em 27/12/2012
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