O Último Encontro
Era uma noite chuvosa como outra qualquer daquela estação. Uma noite de despedida. Uma história ficara para traz e uma nova começaria com o nascer do sol.
Por um convite eu estava ali. Sem eu saber ela também estava. Naquela noite me arrumei, já travestida de outra. Novos cabelos, novas roupas, novas atitudes.
No caminho de lá, onde tudo começou, desejava que tudo acabasse, pois deseja encontrá-la. A frente do desejo estava a certeza que ela não estaria lá. Não era o dia certo. Não havia marcado um encontro.
Fui a um encontro com pessoas indesejadas. Foram horas de mera formalidade ortodoxa e ultrapassada. Cada palavra era uma afronta aos meus novos princípios. Haviam cerca de 50 pessoas, que pareciam mais com animais domesticados por um falso Cristo.
Eu era como um ponto negro em um mar branco. Não via, mas sentia os olhares. As mentirosas palavras eram para mim. Eu sabia.
A única graça divina que acontecera, foi o tempo ali ter passado bem mais rápido do que duraria aquele amor. Ela chamaria de pecado.
Carregados com os falsos – ou verdadeiros – orgasmos cristãos, os abraços encerravam mais um discurso em nome de deus. A alma humana pode ser entorpecida pela emoção, e esse efeito costuma ser a prova da presença da trindade.
Minhas esperanças de vê-la já haviam morrido. Aquela era a última chance de dizer a ela o quanto desesperadamente a amava. O que sentia era tão forte e tão vivo que meu coração parecia explodir e se reconstruir num clico eterno.
Já estava me contentando com as ultimas lembranças, quando uma pequena porta se abriu a minha esquerda. Eram dezenas de crianças. No meio delas, havia um pequeno ser, poucos centímetros maior. Era ela. Era tão linda. Senti o chão se abrir debaixo de mim. Era impossível.
Ela veio até a mim. Eu não sabia o que dizer. Não saberia mesmo hoje. Ela me perguntou como eu estava. Eu disse “bem”. Ela disse “visual novo hen”. Eu disse “pois é”. Até hoje não lembro do que mais foi dito.
Quando aqueles poucos segundos se acabaram, havia chegado a hora da despedida. Incrivelmente, ela era menor que eu. Parecia um pequeno anjo. Então eu a abracei. Abracei o mais forte que pude, porque seria a última vez. Ela colocou seus braços por cima dos meus ombros, e eu abracei sua cintura. Poderia abraça-la pra sempre, por toda a eternidade e jamais a soltaria.
Eu reclinei a cabeça em seu ombro e disse “adeus”. Ela perguntou “por quê?”, e eu a soltei e respondi. Não lembro do que foi dito depois.
A última coisa que disse a ela foi “boa noite”. A última vez que a vi foi sorrindo. A última lembrança é aquele sorriso. O último desejo é o de que continue o sorrindo pra sempre.