A garota do próximo ano
Lá vem a garota na qual todos já esbarraram um dia tirando suas próprias conclusões sem saber direito quem era ela. Não sabiam se tinha amor, inteligência ou dinheiro. Também não fizeram questão de tentar entender, só mais uma que dividia a calçada como tantas outras santas e criminosas que cruzaram pela vida. O mundo é tão pequeno e estranho para a menina que atravessa ruas sem poder olhar os lados, pois rostos se contorcem e mãos seguram os pertences com a mesma rapidez que poderiam sorrir.
Ela se sente mal e vaga feito um fantasma solitário em meio à multidão empoeirada de ganância e desvalorizada dos principais motivos que regem a vida. Será que deve chorar talvez se revoltar? Mas alguém notaria?
E toda manhã a moça se levanta perguntando até quando irá durar, aonde chegará à humanidade com essa atitude ignorante.
São só desabafos de uma pessoa que sente na pele o tempo passando, as coisas se dissipando e nenhum bom motivo para valorizar a população que caminha sem se lembrar de amar o semelhante, calejados de notícias desesperançadas que nem se esforçam para tentar fazer diferente e com isso magoam alguém que está do lado e poderia ser um bom amigo.
Mas chega! Ela não vai mais ligar para os desajustes do universo, pois é quase outro ano e esse ela quer que seja perfeitamente imperfeito de sorrisos e liberdade, de sol e oportunidades, de parafusos soltos trabalhando no relógio de sua vida para que as horas não sejam monótonas e as loucuras aconteçam do jeito certo. Quer ir a uma exposição de arquitetura e brincar sobre colocar fogo nas casinhas e o arquiteto ao lado diga que foi ele que fez. A menina se desculpa sem jeito e dá um sorriso malicioso de quem não desistiu de todo do projeto, afinal amor e piromania andam juntos, certo?
A garota do próximo ano terá a alma leve como vem aprendendo a ter dia após dia e mesmo com as recaídas da neurose que assola e destrói as pequenas maravilhas da Terra ela seguirá e será feliz como puder ser.