PEDAÇOS DE UM AMOR

Quando eu te vi pela primeira vez, meus olhos maravilharam-se pelo contemplar de tua beleza. Meu coração encheu-se de esperanças. Na minha mente a certeza que o amor começava brotar novamente em minha vida. Foi tão diferente das outras vezes que amei, desta vez, o medo não veio e eu estava decidido a me aventurar na imensidão deste mundo estranho, que é o amor.

Para minha surpresa, você correspondeu, era tudo que eu precisava. Olhares se entrelaçando e corações se correspondendo. Dava-se início a um amor sem medidas, sem horas para se corresponder, à noite ou de dia, tudo parecia normal e real. Sentíamos a falta um do outro como se cada segundo juntos fosse ser o ultimo.

O tempo passou e este amor só aumentou, amadureceu sem perder o brilho e a magia. Como adolescentes nós nos divertíamos, desafiando aqueles que diziam que não iria dar certo, que era uma ilusão, que era melhor pararmos agora, do que mais tarde sofrermos com a separação. Bobagem! O que importa é nossa vontade, nosso desejo de vivermos juntos e construirmos uma família, parecia pirraça, pois quanto mais falavam, agente caminhava em busca da realização deste sonho.

O grande dia chegou. Igreja lotada, as pessoas ansiosas, só não mais do que nós é claro. Eu ali no altar, as mãos suando e o coração batendo a mil, quando de repente a música começou tocar, ela bem devagar começou a entrar, olhar fixo no meu, nossos corações acelerados de tanta emoção, seu pai lhe entregou a mim com os olhos cheios de lágrimas, pois era sua única filha, mas no fundo ele sabia que eu iria fazê-la muito feliz e cuidar bem dela. A cerimônia acabou, as pessoas nos cumprimentando e nos desejando felicidades, até aqueles que eram contra, parecia terem se rendidos ao nosso amor.

Fomos para nossa casa, aliás, casa que tínhamos alugado, pois ainda não tínhamos condições financeiras para comprar a nossa. Mas tudo bem, o que importava mesmo para nós, era estarmos juntos, isso era a realização de nossos sonhos, ou melhor, parte dele, pois já se passara três anos e ela ainda não tinha decidido engravidar. Por quê? Se isso fazia parte de nossos sonhos? Eu não conseguia entender. Será que ela achava que iria atrapalhar seu sonho de ser uma cantora famosa? Não fazia sentido, pois já havíamos conversado sobre isso desde o começo de nossa união. Mas o tempo passava e eu me desesperava. Nosso casamento que outrora era uma maravilha, já não era mais o mesmo, estava se desgastando a cada dia, até seus pais já haviam percebido, mas não queriam interferir, pois tinham medo de piorarem as coisas, diziam que isso era um problema nosso, que deveria ser resolvido entre nós.

Pois é, seis anos se passaram e as coisas só pioraram, estavam insuportáveis, nós não conseguíamos mais nos entender, não conseguíamos dialogar. Até machucávamos um ao outro com palavras agressivas. Onde estava aquele amor que sentíamos um pelo outro? Amor em compartilhar, se doar, compreender; não sei, ele se foi sem deixar pistas de onde eu poderia encontra-lo para resgatá-lo. E agora, o que fazer? Será que aquelas pessoas tinham razão, não deveríamos termos insistido nesta união? Ou será que nos perdemos pelo caminho, esquecemos que a vida a dois tem suas armadilhas e por falta de atenção, caímos em uma delas? Não sei, só sei que aqui estamos diante de um juiz, assinando um processo de separação, onde cada um agora irá tomar seu próprio destino, viver suas vidas.

E nossos projetos, nossos sonhos, nossas juras de amor eterno? Ficam por aqui diante do Magistrado que me parece tão satisfeito com isso! Não! Bobagem, parece que estou vendo coisas onde não existem. Ele só está fazendo seu trabalho, aliás, que péssimo trabalho esse, não acha?

- Pronto. Podem ir embora e no prazo de um ano o processo será homologado se transformando em divorcio. Se decidirem voltar atrás, que seja feito dentro desse prazo, disse o magistrado.

Bom, pelo menos ainda há uma esperança, um prazo. Não, não quero criar expectativas, vamos deixar que o tempo decida a favor ou contra o nosso amor. Mas que amor? Será que ainda existe amor?...

Josildo S Neves