margaridas ao vento

seu olhar foi a primeira coisa que viu. a cor castanho-esverdeada parecia querer enxergar algo mais além daquele rosto em que estava focado. lindos olhos aqueles. notou que estavam meio tristes dessa vez que o olhavam. quis perguntar o porquê, quis saber o motivo daquela tristeza. tentou falar, perguntar o que estava acontecendo, mas a voz parecia baixa demais. tentou gritar, chamar a atenção, balançar os braços, em vão. os olhos pareciam nada enxergar. olhavam em sua direção, mas eram incapazes de perceber qualquer reação que ele esboçava. ela estava longe, distraída, pensou.

olhou em volta, tentando descobrir onde estava. nunca tinha ido àquele lugar antes, um campo aberto, muitas flores. margaridas dançavam por todo o lugar seguindo o ritmo do vento. as flores preferidas dela. lembrou-se do dia em que a pediu em casamento. o grande buquê com a aliança entre as pétalas de uma das flores. ela nunca jogou aquele cartão fora. ainda estava guardado lá, na primeira gaveta, para que pudesse ler todos os dias as palavras mais lindas que alguém já havia dedicado a ela. definitivamente, ele nunca havia estado ali antes, mas sentiu como se pertencesse àquilo tudo. o perfume das flores, o sol da manhã acompanhado do vento suave. tudo era desconhecido, mas ao mesmo tempo, nostálgico.

fixou mais uma vez o olhar à frente. como ela era linda! o traço fino das sobrancelhas combinava com seus olhos, que por sua vez, se encaixavam de forma precisa entre a curva perfeita do nariz, que combinava com as bochechas rosadas, que tinham tudo a ver com a boca, nem tão grande ou pequena demais. tudo nela era perfeito, como se tivesse sido desenhado com a mais intensa e bela inspiração.

correu ao seu encontro, mas não conseguia alcançá-la. queria tocar novamente aquela face. sentir o terno abraço que o fazia esquecer de tudo e todos. correu mais rápido e a cada passo sentia-se mais frustrado. por que ela ainda estava tão longe? fechou os olhos por alguns instantes, impetuoso, só pensava em tê-la novamente em seus braços. correu mais e mais rápido, não queria parar. jamais renunciaria a tudo que sentia por ela.

abriu os olhos. transpirando, exausto. envolto em lençóis em sua cama de casal, percebeu enfim que não a alcançaria. não mais. seu sorriso, seus olhos castanho-esverdeados, seus cabelos longos, tudo ficou para trás. fora arrancado dele de forma cruel e iníqua.

ao olhar para o lado, sobre o criado, percebeu um pequeno cartão e nele os dizeres "de todas as flores, és a única que desejo em todo o jardim. prometo regar-lhe de amor durante toda nossa vida." pouco abaixo do que escreveu para ela, numa caligrafia elegante que ele conhecia muito bem, leu pela milésima vez a pequena frase "aceito-te, meu jardineiro, para sempre!" palavras simples, mas encantadoras, que o faziam sonhar todos os dias com margaridas dançando ao vento.

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