Ainda vou levar um tempo (Série: As cartas que não te enviei)
É, ainda vai levar um tempo sim, até eu me desfazer por completo de você. Do teu cheiro em minha roupa, em minha pele. Em minha memória. Vai levar um tempo pra eu conseguir esquecer dos momentos ao teu lado, das noites adentrando a madrugada.
Eu sei, vou levar um tempo pra acreditar, de fato, que você não volta mais. Vou levar um tempo para me acostumar sem o teu abraço apertado. Aquele que toda vez me fazia sentir seguro e o cara mais feliz do mundo. Vou levar um tempo para conseguir viver sem teus beijos, sem teus olhos dentro dos meus, tua vida na minha. Tinha gosto de felicidade, mas não era. Cheguei a jurar pra mim que dessa vez era, mas deu que nunca foi e nem pretensão tinha em ser, em estar, em ficar.
E ainda encontro resquícios de você em mim, perambulando sem lugar certo para chegar, sem um propósito certo ou incerto. Ainda encontro você esquecido em mim. Pedaços que esqueceram de partir. Pedaços seus, presos aos meus, a mim.
Nas portas batidas, nos porta-retratos empoeirados, nas promessas empilhadas no canto da sala, encontro você. Encontro a mim.
Ainda vou levar um tempo para não esmorecer ao te encontrar por um acaso nas ruas e não me importar mais com teu resfriado. Vou demorar para não desejar mais quem nunca me pertenceu, quem nunca foi meu. Ainda vou sentir ciúmes durante um tempo. Eu confesso. Ainda vou te amar-sem-querer. Ainda vou sentar naquela cantina e pedir a sopa que tomávamos juntos e esperar você chegar.
Ainda vai levar um tempo pra eu perceber que tuas ligações não chegarão, tuas mensagens e cartas também não. E nem hoje, nem amanhã, nem aqui, nem agora verei o teu rosto novamente encarar o meu selado pelos nosso lábios. Sim, eu sei. Eu disse que não. Mas ainda levarei um tempo para esquecer. Para (TE) esquecer.
Pra esquecer dos dias de sol e dos de chuva, do teu toque eternizado em mim, das vezes em que te carreguei em meus braços e andamos de mãos dadas pelas ruas desertas daquela cidade marcada pela história, pelo tempo. Cidade que agora comporta em cada canto um pouco de nós, de quem fomos ou de quem deveríamos ser. Quem sabe, de quem eu acreditei um dia ser ao teu lado. Pq em cada rua, encontro um pouco da gente e em cada esquina esbarro em lembranças que me arrematam a você.
Sei que vou levar um tempo para parar de sentir a presença das tuas mãos ausentes sobre as minhas e do calor do teu corpo sobre o meu. Tua ausência presente, marcando território, me prendendo a um tempo que preciso esquecer. Eu confesso! Vou levar, talvez, muito tempo para (te) esquecer de vez. Para entender que não fizeste parte do meu passado e não fazes do meu presente e também não farás do meu futuro. Foste parte de um sonho inacabado e que por fim tornou-se meu pesadelo, minha sina, minha prisão.
Eu... prometi pra mim mesmo que haveria de chegar o dia em que eu passaria por ti e nem te reconheceria. O tempo em que verei você ao lado de outra pessoa, de mãos dadas, feliz, sorrindo e falando com os olhos. O tempo em que eu não iria, no fundo, sentir mais doer ao ver ocuparem o lugar que eu sempre desejei pra mim...
Ao TEU lado.
Pq, no fundo sempre doeu em mim, me feriu. No fundo eu sempre me importei, sempre quis ir ao teu encontro e te pedir para voltar. Mas você me ensinou que amor não se implora. E eu aprendi. Aprendi muito bem. No fundo, eu sei que ainda vai levar um tempo para eu me convencer de que nos teus braços nunca foi o meu lugar.
É... ainda vai levar um tempo. Mas "esse tempo", um dia vai chegar!