Era uma vez a solidão

João, homem muito sensato, não tomava decisões em sua vida sem antes muito pensar. Para ele, refletir bastante antes de qualquer coisa era quase uma prática religiosa. Não queria jamais tomar decisões erradas na vida e cuidaria para evitar atitudes impetuosas.

Ficava a maior parte de seu tempo livre em seu quarto – espaçoso para ele, mas de fato não precisava. Ele se entregava naquele tempo vago às leituras. Como gostava de ler, passava horas absorto em um livro, virando suas páginas categoricamente. Sua cadeira era confortável e, apesar das horas de leitura, quase não sentia dores de coluna.

Tinha uns trinta e poucos anos, cabelos castanhos bem cortados, olhos também castanhos, nariz aquilino, lábios finos, com um metro e oitenta e apresentando uma compleição física que não atrairia olhares interessados, dado a ausência de músculos grandes.

Naquela sexta-feira, todos os seus amigos do trabalho o convidaram para sair e curtir um pouco aquela agradável noite quente de verão. Mas ele negava educadamente. Já tinha planejado mais um fim de semana de leituras, televisão e quem sabe, vídeo games. Tinha um daqueles planos de internet, TV a cabo e telefone muito bom, e se entretinha o máximo que podia com essas coisas. Se acostumara a viver sozinho, e estava razoavelmente satisfeito.

Chegou a seu apartamento feliz e um pouco exausto por ter cumprido mais uma semana de duro trabalho em sua empresa. Trabalhar no setor de administração e auxiliar a contabilidade definitivamente não era seu sonho. Pra falar a verdade seu sonho de criança era ser arqueólogo, como Indiana Jones, e participar de grandes aventuras no Cairo, desenterrando múmias e se apaixonando por uma bela mulher.

Jogou-se na poltrona segurando sua pasta, deixou-a cair, foi tirando a gravata, que largou sobre a mesinha de centro e se virou de bruços. Pensou em como sua vida era feliz na medida do possível. Tinha um bom emprego, amigos que não o chateavam. Enfim, não precisava de mais nada.

Seu telefone tocou. Levantou-se vagarosamente para alcançá-lo. Atendeu e a voz na outra linha denunciou ser sua mãe.

– Olá mamãe, boa noite... Sim, está tudo bem, eu estou me alimentando direito sim... O que, Alice!? Que Alice? Ah sim, agora lembrei. Ela vai vir pra cá? Hoje!? Mas mamãe você não devia... Eu sei mas. Anoto sim, 9525... Sim, tudo bem... Um beijo pra você também. Também te amo. Tchau.

Desligou o telefone e refletiu um pouco sobre aquela nova informação. Para ele na verdade sua mãe estava estragando seu fim de semana. Alice... Ele mal lembrava dela. Sabia que era uma amiga de infância, sempre ia às suas festinhas de aniversário e fazia piada dele junto com outros amigos.

Sua estabilidade fora afetada, o que lhe importava que Alice voltara do Canadá e estava meio deslocada, será que não era adulta o suficiente para se virar sozinha? Por que não comprava um livro e fazia como ele? Agora perderia o seu precioso tempo, para provavelmente fazer coisas que não lhe agradariam na companhia daquela jovem. Mas como não gostava de contrariar a sua mãe, faria isso e seria até gentil com a moça.

Pegou o telefone novamente, discou o número que sua mãe lhe passara. Chamou uma, duas, três, e quando ele achava que sua parte já estava cumprida uma voz atendeu do outro lado da linha.

– Alô.

– Oi, aqui é o João, filho da Antônia.

– Oi João, eu encontrei sua mãe em um café ontem e falamos um pouco de você. Ela disse que você não se importaria de me ajudar na minha mudança aqui para o Rio de Janeiro.

– Sim, foi mais ou menos isso que ela me disse também.

– Se você não se importar é claro, eu preciso achar algum lugar para ficar definitivamente. Eu estou hospedada em um hotel em Botafogo. Estava pensando se poderíamos almoçar e você me mostrava os melhores lugares para se alugar um apartamento.

– Sim, claro. – Meu Deus, como ela fala, pensou.

– Então posso marcar de almoçar com você amanhã?

– Claro, onde você prefere?

– Pode ser no D´omésticos.

– Pode sim, lá está ótimo,

– Estarei lá às 12h.

– Tudo bem.

– Tchau.

– Tchau.

Após desligar o telefone ficou pensando, se a sua mãe estava se intrometendo na sua vida para forçar algum relacionamento... Não levaria isso tão a sério, ela já tinha tentado isso outras vezes. Tomaria um bom banho e tentaria relaxar lendo um bom livro ou assistindo a um documentário qualquer.

***

Amanheceu um bonito dia de sábado. Calor, céu azul, já eram dez horas da manhã, não poderia demorar muito, se não chegaria atrasado ao almoço.

Às 12h em ponto estava aguardando na porta do D ´omésticos Restaurantes. Cinco minutos depois chegava uma moça de aproximadamente um metro e setenta, cabelos longos escuros, olhos negros, magra e com um rosto belíssimo, não se parecia em nada com a pirralha chata que conhecera a mais de vinte anos atrás.

– Olá, você é o João não é?

– Sim – respondeu sem muito certeza, completamente embaraçado pela beleza daquela mulher.

Trocaram cumprimentos, ele hesitou um pouco, abriu a porta e os dois entraram. Ela usava um vestido lindo, florido, bem característico do verão carioca. Era encantadora. Caminharam até uma mesa vazia perto da janela, podiam dali observar o movimento dos carros através do vidro. O garçom entregou um cardápio para cada e se retirou. Sentia-se tímido ao lado daquela mulher. Pensou em qual assunto deveriam falar, sobre o que ela se sentiria à vontade de conversar. Mas ele se perguntava por que estava tão preocupado com isso agora. Não entendia o que estava acontecendo com ele.

– O que vai pedir? – tentou arriscar um princípio de conversa.

– Não sei, você já comeu aqui? O que você indica?

– Bom, tudo que comi aqui é muito bom, então, acredito que qualquer coisa que pedir estará ao seu gosto. – E sorriu para ela. Depois pensou, por que sorri? Que idiota, o que ela vai pensar de mim. Mantenha a compostura João, se contenha, é só um almoço, coma e vá embora.

Começou a ler o seu cardápio e incrivelmente quando deu por si, estava olhando o decote daquela linda mulher que estava inclinada sobre o cardápio escolhendo o que comer, ela olhou de volta e ele ruborizou. Ela deve ter desconfiado – pensou ele – Eu tenho que me concentrar em outra coisa. Vou tentar pedir logo e começar a comer.

– Eu já escolhi Alice, e você?

– Também já escolhi, vou pedir este lombo de bacalhau assado a provençal. E você?

– Bom, eu gostei desta paleta de cordeiro assado ao forno. – Mas por Deus! Ele nunca experimentara cordeiro antes, e soube naquele exato momento que só tinha feito este pedido para impressionar a moça.

– Eu lembro de uma vez – começou ela – em que nos éramos crianças e em um aniversário seu, nós nos escondemos juntos no pique se esconde, foi ali que acho que te vi pela primeira vez.

– É, acho que foi sim. – Ele lembrou disso, e lembrou também que ela colocou o pé na frente dele quando iam correr para outro lugar e ele caiu no chão e foi logo descoberto pelas outras crianças. Mas preferiu não contar esta parte.

Os pratos chegaram, o garçom perguntou o que eles desejariam beber, e ela disse que queria um mate e ele escolheu uma soda. Rapidamente, o garçom voltou com as latas com os referidos líquidos. Começaram a comer e por isso a conversa se interrompeu por alguns minutos.

Quando ela acabou a refeição, ele ainda estava no final. Ela falou com ele.

– Você trabalha em que João?

– Em uma empresa do ramo de seguros.

– E você?

–Bom, eu trabalho em uma multinacional canadense. Morei muito tempo lá. Em Toronto. Um lugar calmo, porém muito frio.

– E agora o que pretende fazer?

– Bom, eu fui transferida para uma filial aqui no Rio, estou voltando para o meu país, isso é bom, mas ainda me sinto um peixe fora d’água.

– Quanto tempo você morou no Canadá?

–Já estava lá havia uns dez anos.

– Bastante tempo mesmo. – Sua série de perguntas estava se esgotando e ainda não entrara em nenhum assunto interessante ainda. Mas espere, – pensou – por que estaria pensando em coisas para impressioná-la? Isso era um sintoma ruim, não queria ficar apaixonado por ela. Mas ele não podia escolher, querendo ou não, desde o momento em que a viu na entrada do restaurante até agora, não parara de querer impressioná-la.

– Então, onde você gostaria de fixar residência aqui no Rio?

– Eu gostaria de morar em Botafogo mesmo, gosto daqui, é próximo da filial da minha empresa e têm bons cinemas, padarias, enfim, é um lugar bom para se morar.

– Então você gosta de cinemas? Qualquer dia podemos ver um filme, talvez. – Surpreendeu-se com o que dissera, fora de forma inocente, mas sabia que queria ter dito isso mesmo. Viu que estava difícil controlar a língua. Por sorte o garçom veio recolher os pratos, e sugeriu uma sobremesa, ela escolheu uma taça de sorvete, ele escolheu uma fatia de pudim.

– Então – prosseguiu – têm alguns apartamentos na São Clemente, quem sabe você não gosta de algum.

– Sim, adoraria ir lá ver.

– Eu poderia te acompanhar. Bom, acho que foi essa a intenção da minha mãe. – E sorriram um para outro após ele dizer isso.

– Sua mãe é um amor. Que bom ter encontrado gente conhecida. Acho que estaria meio perdida ainda se não fosse por ela.

Eles acabaram de comer, ele olhou para ela, e percebeu que seu olhar fora recíproco. A conta chegou, ele fez questão de pagar. Disse que ficaria ofendido se não o tivesse feito.

Os dois foram saindo, ela ia esperar o táxi. Ele aguardou junto com ela.

– Obrigado por ter vindo almoçar comigo João.

– Não foi nada.

– Se estiver interessado, meu aniversário é na quinta, vou dar um jantar, está convidado, se quiser apareça, vai ser na casa da minha tia, aqui está o endereço. – Disse isso entregando um cartão que continha o endereço do lugar da comemoração. – Depois marcamos de ver o apartamento.

– Claro, tchau Alice.

– Tchau, e vê se aparece quinta.

– Claro.

Ele voltou ao restaurante, caminhou até o banheiro, abriu a porta e se olhou no espelho. Não se reconheceu, seu reflexo não lembrava o velho João. Estava suando, sua camisa estava empapada, e não era somente por causa do calor, ele sabia. Ficara nervoso na presença daquela mulher. Isso era um indício perigoso. Deu um tapa na torneira que expulsou um jato de água quase que instantaneamente. Colocou suas mãos naquela água gelada. Levou um pouco dela ao rosto e sentiu o frescor daquela sensação. Pegou um pouco de papel, enxugou as mãos e o rosto, olhou para o espelho de novo e disse para sua imagem refletida:

– Não crie esperanças. Você sabe muito bem como são estas coisas.

Ao mesmo tempo em que falava isso, um senhor entrou no banheiro abruptamente. Ele ficou envergonhado com a situação, sorriu para aquele senhor e caminhou rapidamente para fora.

Voltou para sua casa e decidiu esperar a rotina de sua vida voltar ao normal, programas de TV, livros, trabalho, e, se ainda sim, sentisse vontade de quebrar a sua rotina para ir até aquele jantar, saberia que estava perdendo seu controle para um desejo que talvez estivesse latente em seu coração há muito tempo e só percebera agora.

***

Quinta-feira, quatro da tarde e João olhava uma planilha de Excel em seu PC no trabalho. Contava os segundos para o final do expediente. Sofria de ansiedade aguda para encontrar Alice no aniversário dela. O que poderia comprar antes de ir para lá? Devia comprar alguma coisa. Esquecera-se completamente das promessas de se manter calmo e de prosseguir com sua rotina. Só pensava que iria àquela festa e não podia chegar lá de mãos abanando. Saiu do trabalho e foi até o shopping mais próximo, entrou em uma livraria e decidiu que dali sairia com seu presente. Demorou-se ali em dúvida entre uns quatro livros. Escolheu um clássico de Jane Austen que estava sendo relançado em uma linda edição. Comprou, pediu para embrulharem para presente e correu para sua casa para se arrumar.

Tomou um banho rápido, vestiu uma roupa que já estava separada desde segunda-feira, iria de sapato, calça e uma camisa social. Considerou que era uma roupa apropriada para a ocasião.

Pegou um taxi que o levaria até o lugar indicado, e pontualmente chegou. Entrou no prédio e caminhou até o elevador. Começou a suar, desejava não estar ali, ao mesmo tempo que faria tudo para permanecer. Meu Deus! Que contradição – pensou ele. Estava nervoso, o presente quase caíra de sua mão quando entrou no elevador. Apertara o botão que o deixaria no andar desejado. Saiu do elevador, se aproximou da porta e pôde ouvir os sons de uma música e conversas. Era ali mesmo. Apertou a campainha. Alguém veia abrir a porta. Era ela mesmo que viera. Estava realmente deslumbrante, sorriu pra ela e ela sorriu de volta.

– Meus parabéns!

– Obrigado!

– Trouxe um presente.

– Não precisava, obrigada. Mas entre!

Ele cumprimentou umas três pessoas que estavam próximas. Sentou-se em um sofá ao lado de uma senhora que parecia ser a tia de Alice. Aquela senhora começou a entabular uma conversa, começou a fazer perguntas sobre sua mãe e outras coisas pelas quais ele assentia ou não sem ter certeza do que fazia.

Sua atenção estava toda voltada para Alice. Ela resgatara-o de sua solidão, fizera a boa ação de o convidar para o seu aniversário. Passaram-se uns quinze minutos e Alice veio em sua direção e puxou-o pelo braço, levando-o até onde estavam as bebidas.

– Vamos, venha beber alguma coisa, não fique sentado no sofá, se não minha tia vai passar a festa toda conversando com você.

– Não, que é isso, ela é muito simpática.

– Sei, vamos, o que você vai beber? Quer uma cerveja?

– Sim, pode ser.

– Ah, já ia me esquecendo, muito obrigado pelo livro. Eu adoro romances, e aquele é um clássico. Há muito tempo eu queria ler algo da Jane, e aquela edição de Razão e Sensibilidade está linda.

– Venha, vamos dançar um pouco. – E ela o puxou pela mão e o levou para o meio da sala onde algumas pessoas também dançavam, uns mais brincavam do que outra coisa, mas era uma festa divertida, quanto a isso não poderia negar.

Os convidados se reuniram em frente ao bolo às 22h, era a hora de cantar o parabéns, mas antes disso, Alice agradeceu a sua tia e os familiares e amigos pela festa que eles tinham proporcionado para ela. Cantaram e depois ela apagou a vela.

Todos estavam se despedindo, mas João ficou por último. Ela se aproximou dele e disse:

– Obrigado por você ter vindo.

– Não foi nada. Espero que goste do livro.

– Sim, vou começar a ler esta noite.

– Então eu vou indo.

Neste momento ela se aproximou dele e deu um beijo em seu rosto. Ele quase perdeu o controle, aqueles belos lábios rosados tocando a sua face delicadamente era um privilégio que poucas vezes experimentara. Seu coração disparou por alguns minutos, mas conseguiu disfarçar, e manteve o autocontrole. Como gostaria de passar o resto da noite ao lado dela, pensou.

Em casa, quando foi dormir, o sono não veio, ficou pensando em milhares de maneiras em que poderia declarar o seu amor para Alice, mas não sabia se teria coragem para dizer alguma coisa. De fato, só sabia que era um covarde. Teoricamente sabia que devia conversar com ela, que se ela o rejeitasse pelo menos saberia logo o que ela pensava e acabaria com seu sofrimento. Ou será que o aumentaria? Não sabia dizer, pensou também que se ela quisesse ficar ao seu lado seria o homem mais feliz do mundo.

Chegou o sábado e ele tomara a decisão de ligar pra ela e convidá-la para sair. Observou bem as implicações desta medida. Seu tempo ficaria muito mais curto caso a sua empreitada desse certo. Jamais teria sossego em casa aos fins de semana, teria que sair sempre que ela quisesse ou então haveria brigas, sua liberdade estaria limitada, teria que dar satisfações de suas coisas. Porém, mesmo considerando isso tudo, e sabendo que sua mente lógica apontava na direção de não tomar essa resolução, ele iria de encontro aos seus argumentos lógicos e ligaria para ela.

A princípio, discou o número, depois apagou da tela do celular. Coragem João, coragem!

Discou o número de novo e ligou.

– Alô.

– Alô, oi Alice, é o João que está falando.

– Olá João.

– Eu estava pensando se você não gostaria de ver um filme no cinema hoje, para que você volte a rotina do Rio o mais rápido possível sabe? – Ela riu do outro lado da linha.

– Tudo bem, mas escolha bem o filme.

– Claro, já tenho um em mente. Eu passo no seu hotel às 19h.

– Combinado.

Ele não se aguentava de tanta alegria, já tentara fazer isso outras vezes com outras garotas, mas nunca dera certo. Ele nem se recordava de falar com ela sobre os apartamentos da São Clemente. Mas o que importa? Teria tempo de resolver isso depois.

Na hora marcada ele estava na porta do hotel, cheiroso e bem arrumado, ela apareceu uns cinco minutos depois. Ela estava linda com um perfume que lembrava essências de alguma fruta que agora não conseguira associar. O táxi já estava ali aguardando. Eles entraram e conversaram sobre assuntos da semana, notícias, algo engraçado do trabalho. Trocaram os gostos pela literatura e se espantaram ao descobrir que bastante de seus preferidos autores eram do apreço de ambos.

Chegaram ao cinema, ela não gostou muito da escolha dele, então, escolheram juntos um filme de drama. Ao saírem do cinema, ambos não tinham gostado muito do final do filme. Mas riram disso. Pouco importava. A sintonia dos dois era clara, mas mesmo assim, João percebia que ela não estava à vontade com alguma coisa, ele não sabia o que era, talvez nunca descobrisse, mas tentou não dar atenção para isso.

Sentaram para comer em uma famosa rede de fast food, começaram a conversar, e ele notou que havia algo errado.

– Está tudo bem com você? Às vezes você fica calada, em silêncio, como que pensando em alguma coisa.

– Não é nada.

– Suas batatas – disse um rapaz com uma roupa bem colorida que servia naquele lugar.

Começaram a comer e a falar de música.

Quando terminaram ele foi levá-la até o hotel. Ela parou na entrada disse.

– Tenho que te agradecer por esses dias. Por essa última semana principalmente. Eu não vivia intensamente assim já havia algum tempo. No Canadá, as pessoas são um pouco distantes e eu me acostumei a ser assim também. Mas estes últimos dias foram diferentes. Eu precisava disso.

Ele pensou que nem precisou ir para o Canadá para se sentir só, estava assim por opção, mas sabia que agora não queria mais.

– Eu também me diverti muito, mas por que este tom de despedida, você ainda ficar muito tempo aqui no Rio depois da transferência.

– Não, não será mais assim.

– Ahn? – perguntou ele sem entender. – Mas por quê?

– Eu recebi uma proposta para voltar para o Canadá, e ela é bem mais interessante do que a atual, e devo viajar na terça. Portanto, esta deve ser a nossa despedida.

– Mas você chegou agora e... – Ele se sentiu infantil ao dizer estas últimas palavras. – Até que não se sabe de onde ele tirou coragem e disse: – Por favor, fique mais um pouco.

– O que? – Ela perguntou isso de um jeito carinhoso, podia sentir que ele estava falando a verdade e que queria que ela ficasse ali. Refletiu rapidamente e percebeu que também começara a gostar dele. Essa era a verdade.

– Não vá ainda, olhe, eu não fazia nada da minha vida, tinha uma rotina de trabalho e casa que me acostumei com o tempo, e eu até gostava. Mas desde que você chegou tudo mudou, esses últimos dias foram incríveis. Eu descobri que estou louco por você. Desde a primeira vez que a vi, eu senti isso. Mas agora, meu coração não se aguenta. – Lera muita literatura, e por isso suas palavras pareciam inadequadas para o contexto, mas era o que sentia, e decidiu falar desse jeito. – Já sinto a aproximação da tristeza por você ter de ir embora, e toda esta semana não terá sido diferente de um sonho. Com um final terrível.

– Mas por que você não me disse essas coisas antes? Eu também senti o mesmo, achei no início que você só iria me ajudar até eu assentar-me na cidade. Ainda bem que me enganei.

Ele se aproximou dela, seu coração estava acelerado, ele suava e disse:

– Fique mais um pouco. Depois se você quiser você pode ir de volta para o Canadá, mas fique mais esta semana, me dê essa chance de provar para você que esse meu sonho pode se tornar realidade.

Ela se aproximou dele, abraçou-o, e beijou-o demoradamente.

***

Mais ou menos doze meses depois daquele beijo, o casal admirava a linda vista da Torre CN. Abraçados a mais de 1.700 pés de altura, aproveitavam para diminuir o intenso frio daquela tarde de primavera nublada. O amplexo apenas exteriorizava seus desejos de estarem a cada dia mais juntos, e constatavam com o tempo que não poderiam viver um sem o outro jamais.

Lucas Sabino
Enviado por Lucas Sabino em 18/12/2012
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