"Me abraça forte agora, que é chegada a nossa hora"
E no mesmo dia e mês em que aquela história de fato começou, ela também terminou. Os dois estavam doentes por motivos de idade já fazia um tempo e na tarde daquela data especial por tantos motivos, eles faleceram. Por mais triste que seja a morte de alguém, aquela também foi linda. A cena era digna de ser descrita no fim de um belo romance, ou então em uma bela poesia. Ou melhor! Pintada em uma tela e eternizada assim como o amor deles seria.
Dois senhores idosos casados há sessenta anos (só esse já era um ótimo motivo para a cena ser linda, afinal, quase ninguém completava tantos anos de casado na sociedade moderna), de cabelos brancos, que fizeram questão de estarem juntos durante todo o tempo, apoiando um ao outro, confortando, se amando. Era lindo vê-los, era lindo o carinho que tinham um pelo outro. Qualquer um que olhasse poderia notar que por detrás daquela capa, daquele corpo idoso, almas jovens ainda compartilhavam do mesmo sentimento inefável que sentiram – e que só foi crescendo – desde o primeiro beijo.
Diego e Manuela acreditavam que ainda se encontrariam novamente. Quando foi chegada a hora, Diego se virou na cama, deu um beijo na testa de sua eterna amada e sussurrou “Até a próxima vida, minha velhinha gorda egoísta”, “Até lá, meu amor” e ambos fecharam os olhos e, sorrindo, deram o último suspiro esperando ansiosamente para acordarem chorando em uma maternidade em algum tempo e em algum lugar sabendo inconscientemente que suas vidas estavam ligadas por alguma coisa muito maior do que as palavras permitiam explicar.
Sara, casada e com filhos, muito parecida com a mãe, uma artista também, mas só nos tempos vagos, abraçava seu marido chorando emocionada com a morte dos pais. Ela sabia que eles haviam morrido felizes e acreditando que se encontrariam novamente e, por mais louco que isso seja, de certa forma saber disso confortava-a. Estava triste, claro, mas feliz por saber que todos aqueles anos que seus pais passaram juntos foram de extrema e indescritível felicidade e que ela os deixou muito orgulhosos.
Mais tarde aquela cena serviu de inspiração para a filha deles. Uma tela e uma poesia nomeadas “Até a próxima vida” haviam sido criadas. A tela foi exposta em um ateliê e, por mais que oferecessem grande quantia para possuir aquela obra, Sara se recusava a vendê-la. E a poesia foi publicada em um livro junto com alguns escritos de sua mãe que ela havia achado.
Aquele amor foi eternizado de uma forma ou de outra. Seja em outras vidas ou através da arte que ele havia inspirado, aquele amor seria eterno.