UM AMOR INESQUECÍVEL
 
Foi assim, subitamente você apareceu e chamou minha atenção com aquela sua maneira carinhosa de encantar; aquele olhar manso; aquele sorriso meigo; e que sorriso! E assim, os dias foram se passando e você se aproximando e a gente se conhecendo cada vez mais, e se inspecionando naquela curiosidade de quem está a fim; a fim de conhecer mais, de saber mais, de querer mais, mais e mais... E aos poucos nos entranhamos na amizade profunda que nascia no florescer dos sonhos perfumados no ar daqueles dias.
Você vinha de Belém, chegava para morar na pequena cidade, e embora trabalhasse com o seu tio, morava sozinha, ao lado de minha casa; era minha vizinha.
Nossas conversas se identificaram, nossos olhos se olharam e se perceberam e sabíamos o que nossos corpos desejavam, mas, tímidos, fomos levando, cada um à sua maneira. Eu, ansioso, esperava a chegada da noite para que você surgisse a me fazer companhia pelas altas horas da madrugada durante o período em que eu trabalhava atendendo os fregueses do bar...
E o amor que eu ainda sentia por um outro alguém que marcara demais a minha vida, mediante o seu surgimento, suprimia-se, pois passava a ser enfeitado com outras feições, direcionava-se para outra pessoa: você, que surgira repentinamente e repentinamente se plantava em meus pensamentos desviando a minha atenção apenas para o seu jeito de ser. Passei a te amar naquele meu silêncio que falava através de minhas ações onde eu te oferecia pequenos presentes em falas ocultas de carinho na constante atenção, e você sempre recebendo e sorrindo, não me dizia nem que sim nem que não, simplesmente se deixava levar me fazendo acordar altas horas noturnas para ficar sem dormir pensando apenas em você: em como seria tocar seu corpo; beijar sua boca; sentir o toque de suas mãos e do seu amor... Foram dias de sonhos, desejos, fantasias e emoções contidas na ânsia de te beijar e de te falar palavras carinhosas.
Eu vivia lá, em meio àquela agitação do meu trabalho, atendendo os fregueses e você ficava me acompanhando pelas longas noites. E nossa aproximação cresceu tanto que quando você ia até à praçinha local, fazia questão de me informar do motivo de sua ausência, como se me devesse explicações. E aquela atitude me enchia de certezas sobre os sentimentos que percorriam nossos corações, e então eu te amava muito mais naqueles momentos. O relacionamento anterior que eu tinha vivido e fora muito forte, agora perdia o fôlego, pois eu já te fantasiava; eu te amava muito e te queria e percebia a correspondência em suas expressões. Porém, nem eu, nem você abríamos o coração, talvez por medo, e assim seguíamos nos amando somente pelo olhar da paixão. Até que um dia repentinamente você sumiu, desapareceu. Eu quase enlouqueci, quase pirei, e, rastreando informações a seu respeito, descobri que você teve que viajar de súbito na noite anterior devido a um grave problema em sua família. Eu sofri, o mundo parou e eu andava tristonho e os demais que já haviam percebido do meu amor, sabiam perfeitamente os motivos de minhas tristezas infindáveis. Eu sentava numa cadeira, no “Bar do Dori”, e deixava de ser o atendente e me colocava na posição de freguês e bebia e cantava junto às músicas e lembrava de você e acho que até via você aportar no começo da rua correndo ao meu encontro, enchendo-me de beijos ardentes. Foi um período difícil, muito difícil àquele ocorrido no decorrer ao seu sumiço. Novamente eu estava sozinho, abandonado naquele mar de amor...
Eis que um belo dia você ressurge à minha frente fazendo meus olhos voltarem a brilhar com aquele seu sorriso incomparável. Tremi de amor! Abri um sorriso e quis te beijar e te dizer de toda a minha paixão contida, e conversamos e você me explicou da saída brusca e entendi e fiquei feliz com seu retorno e queria gritar de felicidade, embora não pudesse tocar seu corpo como gostaria, mesmo assim, eu era um homem muito feliz, e fomos naquele dia para a pracinha e, naquele dia, naquele exato dia o Mike Tyson mordeu a orelha do Holyfield, e nós quase nem prestamos atenção àquela luta histórica, pois nossos corações pulsavam de desejos, queríamos sentir no nosso amor, nos tocar naquele êxtase intenso, e conversamos tanto e sorrimos e o tempo paralisou e paralisei a te amar. E naquela noite, bem tarde quando a rua já estava quase deserta de gente, nós descemos juntos, sorrindo a conversar algo qualquer... Mas foi quando entramos no seu quarto que pudemos nos sentir verdadeiramente entregues um ao outro. Navegamos em nós mesmos, nos deixamos viver, nos entregamos e o nosso amor era tão mágico, tão profundo, tão, tão, tão, que eu não queria dormir, eu só queria te sentir, e você falou do amor também oculto por mim e percebemos o quanto foi valioso ter esperado para vivenciarmos a sensação daqueles momentos reais...
E nos dias seguintes nosso amor ficou evidente para àqueles que nos conheciam e eles nitidamente percebiam o quanto a gente se amava. E saíamos juntos, e meu irmão e minha cunhada apreciavam a nossa relação, e você entrou em minha casa, em minha família, e a vida prosseguia nos meandros daquele nosso lindo e marcante sentimento: um sentimento correspondido; um amor nutrido por nossas vontades; um amor capaz de transformar dias chuvosos em êxtases alegres de paixão; um amor que tanto nos ensinou; que deixou marcas verdadeiras do que se pode chamar de marcante sentimento...
 Ah! Como lembro das tardes de domingo quando íamos para o seu quarto para ficarmos a sós; só nós dois, juntinhos no calor de nossos corpos... Também recordo aquelas músicas que você gostava de ouvir e parece que o tempo não passou...
 Gostava de ouvir você chamando meu nome carinhosamente. Ainda hoje tenho um desenho que você fez do meu nome e, lembro que quando você me perguntou o que eu queria ganhar de presente de aniversário, eu disse: “Algo que dure, dure muito, para que eu sempre possa olhar e lembrar de você”, e, com sua criatividade, você foi numa serralheria e encomendou meu nome feito de ferro. Fiquei maravilhado e muito feliz com aquele gesto romântico...
E quando de nossas brigas, eu ficava aflito querendo logo que nos entendêssemos para que eu outra vez pudesse voltar a ti amar. Até que num certo dia nós fomos para aquela festa; àquela festa que mudou para sempre nosso relacionamento, pois na festa outra pessoa se colocou entre nós dois...
E, aos poucos, aquele intenso amor foi se diluindo e outras brechas foram se abrindo, e outras estradas nós passamos a percorrer, restando apenas às lembranças daquele amor vivido no seio daquela cidade, que sobreviverá comigo até os últimos dias de minha existência, recordado como: um inesquecível amor de outros tempos...
 

 
 
 
 
 
 
 
Valdon Nez
Enviado por Valdon Nez em 25/11/2012
Reeditado em 20/05/2013
Código do texto: T4003466
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