Um Caminho De Sensações

Em uma roupa clássica daquelas que se vestem para nós, cheguei a ela. De longe, a menina tão envergonhada olhava cabisbaixa movida pela timidez dos meus olhos firmes e sufocantes. Confesso que não imaginava impor este ímpeto sublime e rebaixado para a musa, mas como não estava ao meu alcance, continuei a minha caminhada até ela. Seguí e tracei os passos que marcava a calçada e a estrada que nos ligava. Era curva, mas às vezes turva como a água que cai da chuva e rebate nos nossos pés com revés em nosso corpo. Medonha comparação. Metros nos separavam e ao mesmo tempo nos afastavam cada vez que nossos olhos se encontravam. Tentei manter a linha tênue do olhar, aquele que tenta apaixonar, e a postura do andar de um homem sério, dotada de uma capa chuviscada por opiniões, conceitos e adultério.

Este quem sabe apenas a fantasia da magia branca dos homens que tanto seguem o padrão social e expositivo dos tantos que existem por aí. Não saindo do foco... Dois passos a mais e ela balançava seu corpo de um lado para o outro. Não entendia. Suas mãos suavam um pouco, não mais molhadas que pelos respingos daquela chuva que mencionei de antemão, até porque os sais que saiam da sua pele penetravam não como a água que desce das nuvens, mas como o sol que viaja em ondas oscilantes e cortantes até a minha pele. Vez ou outra até na boca. Minha língua, já molhada, agora também salgada. Não importei com tudo isso, pois o gosto era real, apesar da distância que teimava em crescer progressivamente.

Deliberei a decisão de nela chegar. Portanto, apressei o meu passo em busca do laço de seus olhos, e que olhos! Um abraço com aquele olhar, envolvido naquele corpo formoso e gentil, devia ser o mais fortuno dos cumprimentos da humanidade, a experiência quem sabe era branda, mas os sentidos que numa sinestesia boreal pintava com todas as cores e sensações que podem existir entre um homem e uma mulher. Foi aí que percebi a resistência do seu caminhar. Ela, parada ficava. E como caminhava? Simplesmente pela atração viril que impunha ao meu corpo, movimentando aquela boca louca e vermelha de um batom pouco claro, pouco escuro, mas um tanto quanto duro, imagino eu, ao ponto de com um só beijo desmoronar um amante de desejo. Sem falar de seus cabelos vívidos e límpidos como a suave saliva que ao abrir a boca descia de lado pelo lábio inferior direito, às vezes não. Tão rápido retornava à sua tenda e criava um poço de libido.

Já consumido pela impaciência que transparecia os momentos largos das passadas, voltei a medir a distância entre nós. Parecia tanto alargar. Quem sabe fosse à sedução daquele jogo em últimas jardas a finalizar. Quem sabe. Tão repente olhei para o lado e nada vi. Olhei para o outro e sorri com a confiança em si daqueles clérigos que semeiam a convergência por onde passam. Para ela, voltei-me. Estava mais próxima. E como tal conseguia enxergar detalhes antes nunca vistos. Sua pele branca e branda refletia quão cálida era sua reação, um cabelo que com poucos detalhes passou a apresentar a magia celestial de plumas daquelas usadas pelos deuses para viajar entre mundos e universos, um olhar confirmado às minhas expectativas profundas e não obscuras, mas claras como a luz de um mundo pequeno que envaidece o interior de um ser. E a boca. Que boca. Sou suspeito a descrevê-la porque ao ver não consegui distinguir a vontade que me tomava. Escrever é algo nobre e construtivo a partir de detalhes. Foi isso que fiz, na hora. Do texto que saía mentalmente, curioso era seu enredo que só tinha toque, saliva, língua e uma repetição nem tão pouco chata, mas impositiva de criar uma volta infinita. Confesso que quase me atrevi a correr e atacá-la sem pudor com a classe enriquecida dos homens. Segurei-me. Ainda olhei para o todo e vi o fogo sair de baixo para cima, de cima para baixo, moldado em seu corpo lapidado de tentação.

Sem pensar parei de fazer aquilo que já estava me contorcendo de volúpia e segui firme. Faltava pouco. Alguns centímetros, eu acho! Minha noção física, a não ser a dela, já tinha seguido viagem. Parei. Tentei esticar-me e nela tocar, mas não consegui, foi quando sem pensar ela levantou um dos braços e me tocou. Foi algo inexplicável ao ponto de no momento um fervor síncope toma-se por conta de nossos corpos. Vieram forças e me aproximei. Tão perto que cheguei à fonte daquele fervor, quase me queimei. Só não pela salvação do toque sutil de suas mãos em meu corpo. Um abraço que se misturava à minha pele. E quando terminou, já estava sem reação para nada, todas as minhas forças haviam ficado pelo caminho, sozinhas. Ela, sem cerimônia, levou-as ao meu rosto e de próximo trouxe o mais belo labirinto que pude enfrentar de olhos fechados e envolvidos por afagos. Foram minutos de intenso prazer e sede insaciável. Um líquido que saía por nossas bocas, de um lado, de outro, teimava em molhar a beira da loucura dos nossos toques quentes em um só corpo. Mãos que andavam e bocas atascadas, que delícia! Era doce, era amargo, não sei. Sentia coisas nunca antes sentidas, a não ser a vontade de devorar mais e mais por entre aquele mundo de prazer e obstinação. Sem perceber, deitamo-nos ali mesmo. E quando por um sussurro tranquilo e calmo os olhos se abriram. Que prazer! Era a imagem mais real das fotos tiradas e pintadas por mim em uma tela ao teu lado emoldurada nos devaneios que me aproximavam de ti.

João André
Enviado por João André em 22/11/2012
Reeditado em 22/11/2012
Código do texto: T3998443
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