Matinê

Parado ali no alpendre em estado de choque, ainda pensou que deveria existir uma lei que proibisse qualquer pessoa romper um relacionamento em dias chuvosos. Coisa maluca, mas se existisse, Beatriz era criminosa.

Deu meia volta sem saber o que fazer ou para onde ir. Saiu andando sem rumo. O barulho da chuva era a música de fundo para sua frustração. Pensou no que deu errado e não conseguiu encontrar uma resposta. Teria outro?

Incapaz de organizar seus pensamentos fez valer o instinto masculino e procurou o bar mais próximo, afogar as mágoas, coisa antiga mas todo mundo faz.

Pediu um conhaque, cerveja não iria fazer nem cócegas. Debruçou no balcão de madeira e começou a viajar na maionese. Na décima dose já contava uma piada de papagaio pra um amigo que acabara de fazer.

Saíram dali e foram para outro bar por sugestão do rapaz. Bêbado sempre tem isso. Bebe num lugar e inventa de continuar o porre em outro. Ébrio itinerante.

Às portas da madrugada já se encontravam num clube saindo da cidade, de colar havaiano, fazendo passinho com uma garrafa de tequila nas mãos.

Nem precisa dizer que com tanto álcool na lata tentou ligar pra Beatriz a noite toda. Chorava, sorria, gritava e pulava com as mãos para o alto pra tentar aliviar o aperto do coração.

Acordou em uma pensão no centro, de bermuda e ressaca. Levantou devagar, cabeça doía, olhou as horas e ficou observando o quarto tentando se situar. Não tinha a mínima ideia de como foi parar ali. Tentou mais uma vez o número de Beatriz e nada.

Depois da euforia, depressão. Chorou lembrando o fim do namoro e ficou desolado pensando como seria a vida sem ela.

Catou as roupas e quando vestia a calça caiu um bilhetinho com um número e marca de batom escrito “me liga”. Andou até a janela, acendeu um cigarro e sorriu.

Era carnaval...

Durval Junior
Enviado por Durval Junior em 19/11/2012
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