O poder do amor
Eu estava em visita a minha mãe, em sua casa, no interior. Uma amiga dela, D. Maria, uma senhora de mais ou menos uns 70 anos, que sempre a visita para longas conversas, supreendeu-me com uma pergunta:
- Minha filha, amar é bom?
Eu sorri, sem entender direito, e respondi que sim, claro! - É maravilhoso!
E ela começou a me motivar para dizer-lhe como eram as sensações de uma pessoa apaixonada.
E eu fui tentando descrever sobre como todas as pessoas apaixonadas se expressam, como se ganha uma nova vida, novo vigor, e como se sente renovado e tal...
E ela perguntou:
- Mas o que você acha de uma pessoa mais velha se apaixonar? Isso é possível?
Eu fui bem incisiva:
-SIM! Claro! Se a pessoa não morreu, se há vida nela, então ela pode se apaixonar, amar... O amor pode acontecer em todas as etapas da nossa vida.
E ela toda feliz, parecendo uma adolescente querendo contar sobre um novo paquera, virou-se para minha mãe e disse:
-Tá vendo! Eu não estou louca, eu estou apaixonada!
Eu percebi tanta felicidade nela que não segurei a curiosidade e perguntei qual era a história que ela queria contar.
E ela foi dizendo:
-Minha filha, eu sou viúva há muitos anos, e nunca ninguém mais tinha tocado meu coração. Mas eu reencontrei este homem, e no início nada indicava que eu ia voltar a sentir meu coração assim, pular de alegria, e que eu poderia voltar a sonhar em ser feliz com alguém.
Eu achei aquilo tão lindo, especialmente, porque minha mãe a reprovava de todos os modos, dizendo que uma velha como ela deveria se dar o respeito. E eu só ria e pedia para minha mãe deixá-la continuar.
E ela prosseguiu:
- E ele também gosta de mim. E eu vou lá pra terra onde ele está (no Pará-Norte do país) e vou ser apresentada a família dele! O que é que você acha disso? Você acha que vai dar certo?
Eu disse que sim, e que ela deveria se lançar, que mesmo que não desse certo ela tinha o direito de sonhar e de viver o que fosse possível dessa história de amor.
Era tão bonito ver que a cada resposta positiva minha ela se empolgava toda e piscava o olho para minha mãe. Ela estava verdadeiramente feliz por estar diante de uma nova possibilidade de viver um grande amor.
Passaram-se alguns meses, ela foi para a terra onde o velho dela estava, foi apresentada a família e agora os dois são oficialmente namorados.
Em recente visita a minha mãe, passei em frente à casa de d. Maria, e lá estava ela com seu velho sentados na calçada, os dois estavam assistindo à festa na praça, os dois velhinhos fazendo companhia um ao outro, cuidando um do outro, fazendo feliz um ao outro, sendo felizes juntos.
E eu pensei: O que é o amor? O que faz o amor com as pessoas?
Mesmo que tudo vá mal, se fica seguro, pois se tem uma mão para segurar, um olhar para encontrar, um abraço pra se aninhar, um abrigo pra se proteger enquanto a chuva passa, um porto seguro para se apoiar.
Muitas feridas na minha vida quiseram me fazer desistir do amor, mas hoje eu compreendo que é impossível ser feliz sem amar e sem se deixar ser amado.