AMOR E LÁGRIMAS

Estava com quase quatorze anos e nunca havia trocado um beijo de amor. Seus flertes não passavam de danças de rostos colados nas tardes dançantes do clube e nos bailinhos de casas de amigos, com mães vigilantes e atentas.

Naquele ano, como normalmente acontecia, foi passar as férias na casa dos avós paternos, numa cidadezinha da zona da mata mineira. Só que, ao contrário das vezes anteriores, seus avós não moravam mais numa chácara afastada e sim no centro da cidade, para onde mudaram devido à dificuldade de atendimento médico que sua avó precisava. E ela, não podendo se distrair no laranjal e no riacho como fazia antes, viu-se sem qualquer atividade.
Para passar o tempo, ficava horas seguidas na varanda do sobrado, olhando o vai e vem das pessoas em seus horários de trabalho. E o viu...
Compenetrado, jeito sério, atraente; trocaram um rápido olhar. No dia seguinte, à mesma hora, lá estava ele passando e mais um olhar aconteceu. No terceiro dia, ela ficou à espera e houve um sorriso de cada parte.
Ela procurou informar-se sobre ele com uma coleguinha nova, e soube que ele tinha vinte anos, trabalhava no Banco e àquela hora ia a casa almoçar. E ainda, em tom de advertência, a colega informou que ela era noivo de uma moça de outra cidade.
Ficou meio desapontada, mas como olhar não tira pedaço e aliança no dedo jamais segurou alguém, ela continuou esperando e olhando, até que...
Houve uma festinha no clube e ele estava lá. Convidou-a para dançar e, após várias rodadas pelo salão, combinaram um encontro para o dia seguinte na pracinha da igreja, onde sentados num banco aos pés da cruz, se beijaram.
Ela amou-o de pronto e encontraram-se algumas vezes até que, um dia, na ponte sobre o rio que banhava a cidade, ele falou da noiva, do erro dele ao agir daquela forma, tanto com ela quanto com a noiva e deu fim ao namoro. Talvez tenha ficado decepcionado ao ver que a moça da cidade não era liberada como ele pensara, e desistido de levar o caso adiante.
As lágrimas dela rolaram, misturando-se às águas do rio que, tranquilo, passava abaixo.
Naquele instante ela aprendeu que amor e lágrimas andam de mãos dadas.
 
                                                                             RJ, 10/10/12
                                                                (não aceito duetos, por favor)