Daniel resolveu seguir o conselho do advogado e deixar as coisas acalmarem.
Foi para o seu apartamento e continuou a trabalhar nas empresas como sempre fazia em vida de dom Francisco. Dr. Falcão passou a acompanhá-lo para ir colocando a par do andamento dos negócios, pois Daniel apenas tratava das coisas pessoais do conde.
Após quinze dias sem nenhum anúncio de Maira, Daniel dirigiu-se a casa dela para que pudessem conversar.
Resolveu chegar de surpresa para não lhe dar a oportunidade de fugir do confronto.
Entrou em casa com sua própria chave e foi direto ao escritório onde sabia que a encontraria.
Quando Maira o viu, despreparada como estava, levantou-se para sair, mas Daniel segurou-a pelo braço e disse-lhe que iriam conversar de qualquer forma para acertar tudo.
Apesar de zangada, Maira raciocinou rapidamente que era preferível esclarecer tudo de vez.
Sentou-se na cadeira do avô, como para mostrar a Daniel quem era a dona da situação.
Com um sorriso irônico, o rapaz sentou-se diante dela e iniciou sua fala.
Maira, quero saiba que nada do que seu avô fez era do meu conhecimento e eu jamais sonharia com algo assim.
E antes que ela contratacasse, ele continuou, dizendo: assim como não é do seu gosto também não é do meu. De boa vontade renunciaria a tudo, mas aí seria você a principal prejudicada, pois perderia tudo.
Maira, contrariada por ser obrigada reconhecer que ele tem razão, permanece muda.
Quando se dá conta de que ele não vai embora, suspira profundamente e pergunta: Então, o que vamos fazer?
Daniel recostou-se folgadamente na cadeira e disse: é simples, nós vamos nos casar.
A resposta soou como uma bomba nos ouvidos de Maira que não queria acreditar no que estava ouvindo.
E antes que reagisse mal, ele completou: apenas no papel, Maira, para cumprir os trâmites legais do testamento do seu avô. Depois de alguns meses, brigamos, nos separamos e cada um vai para o seu lado.
Nesse meio tempo, legalizo a minha parte no seu nome, pois nos casaremos com separação parcial de bens e toda a fortuna será sua. Eu não desejo esse dinheiro nem poder que o seu avô me deixou. Quero apenas continuar como gestor, como um funcionário que sempre fui.
Maira ouviu tudo calada, ainda sem acreditar que ele tinha todos os planejamentos já feitos e começava a aceitar a ideia do casamento, pois sabia não poder ser de outra forma.
Além do mais, continuou Daniel, você pode passar períodos fora, em outras cidades ou até em outro país, pois tudo pode ser gerido eletronicamente, enquanto dr. Falcão e eu nos encarregamos de tudo por aqui.
Assim foi feito o acordo de casamento entre os dois.
Ao final de dois meses deu-se o casamento com toda pompa e circunstância.
Viajaram em lua de mel para não chamar a atenção das pessoas para sua indiferença conjugal.
Na primeira semana, dos quinze dias acordados para a viagem, comportaram-se como se nada tivesse acontecido.
Mas o destino como sempre dá a sua mãozinha para modificar as vidas. E assim, com eles não podia ser diferente.
Sol escaldante, da piscina do hotel avistava-se o mar a poucos metros, para o deleite dos hóspedes.
Maira desceu para a piscina com um micro-biquini e um vestido usado como saída que nada deixava à imaginação masculina.
Quando saiu da suíte, deixou Daniel ainda no banho. Os detalhes da vestimenta de Maira eram assim desconhecidos por ele.
Quando Maira chegou à piscina os olhares todos convergiram para ela; os femininos, quase a fuzilando, mortos de inveja; os masculinos, como se quisessem devorá-la.
Imediatamente, apareceu o
boy do hotel com todos os apetrechos necessários para atendê-la.
Maira, muito sedutora, pediu ao jovem que passasse o protetor solar em suas costas.
O pobre, muito vermelho, sem graça, mal podia acreditar no que estava lhe acontecendo, deleitando-se com toda aquela beleza.
Nesse instante, eis que chega Daniel. Quando vê aquela cena, fica irado e perplexo com a ousadia de ambos e simplesmente tira o frasco das mãos do rapaz, sinalizando para que se afaste. Maira não entendendo a diferença na massagem vira-se e encara Daniel, percebendo que não está nada satisfeito.
Vira-se, retira o frasco das mãos dele como se nada tivesse acontecido.
Tomam sol e em seguida um banho e vão trocar-se para o almoço.
O silêncio era gritante entre os dois.
Subiram para o quarto e nem se olharam nos olhos. Daniel estava com a respiração presa e Maira com um sorriso disfarçado.
Quando desceram para o almoço chegou o momento da virada de Daniel, sem que esse precisasse nada planejar.
Enquanto aguardavam os pedidos, sentados numa mesa próxima a um alto arranjo de flores, uma linda jovem, muito afoita, passou próxima demais a Daniel e esbarra em seu braço, derrubando uma taça de vinho em seu colo. A jovem, sem graça, segura no braço de Daniel para desculpar-se,perguntando o que poderia fazer se redimir.
O rapaz, com um largo sorriso, lhe disse que nada era necessário fazer porque ele iria mudar de roupas e foram seguindo para os elevadores, deixando Maira perplexa e sozinha na mesa.
Na volta sentou-se almoçou como se nada tivesse acontecido.
Terminado o almoço voltaram para a suíte e Maira estava engasgada com aquela taça de vinho e por saber onde estava a jovem que ela não viu mais.
Quando perguntou, Daniel deu um sorrisinho, dizendo qual era o interesse dela, afinal de contas são apenas casados no papel, e perguntou se ela estava resolvida ser sua esposa de verdade.
Maira, muito zangada, tentou passar por ele e deixar o aposento, mas Daniel a impediu e segurou-a fortemente pelos braços com os olhos cravados em seu rosto.
Quando Maira semicerrou os olhos, Daniel levou a mão ao seu queixo e levantou-lhe o rosto até que seus lábios ficassem a mesma altura.
Naquele instante o falso casamento foi consumado para sempre.
E mais uma vez o amor venceu.
Estrela Radiante
"Imagem do Google"