Quem és tu coração acorrentado?

... ... ...

Adentro o mundo dos sonhos e lá esta você. Não sei se és real mas... ah como eu queria que fosse. Seria tão doce e adorável o meu despertar ao te reencontrar!

... ... ...

O que vou agora relatar, é um sonho que tive esta madrugada e por isso, perdoem-me pela falta de detalhes esclarecedores, pois, eu também não os tenho mesmo querendo insensatamente possuí-los.

...

Minha mãe estava indo embora, de mala, cuia e sem a filha. Ia com mais duas pessoas que na vida real não representam nada para mim, mas que no sonho, eu parecia gostar delas também.

Senti-me traída, ultrajada até. E na hora em que estavam saindo demonstrei meus sentimentos de uma forma que na realidade nunca fiz, embora não me falte vontade.

- Você vai embora, vai me deixar aqui, vai deixar seu peso extra e incomodo para trás não é? Deve estar feliz!

- Estou te deixando aqui para o seu bem, não faça assim!

- Você não se importa, nunca se importou, quer mais é se ver livre do fardo que nunca foi capaz de amar.

Ela tentou me abraçar, me neguei e encostada ao portão fiquei apenas a observar a cena. Vê-la partir me feriu profundamente porque apesar de tudo que senti a vida toda, ela sempre foi e continua sendo quem sempre mais amei e amo.

Elas tentavam se explicar, dando mil desculpas para o ato, mas para mim era algo imperdoável e para meu pai que não estava entendendo nada também e ele tinha como agravante o fato de que também não queria ficar comigo.

Havia pessoas na rua, observando e comentando a lastimável cena. Eu não me importava com elas, mas do outro lado da rua, um olhar me atraiu. Um olhar tão desconhecido que chegava a ser profundamente intimo em sua essência. Do outro lado, uma casa abaixo da minha, uma casa grande com muros de tijolos aparentes cinzas e com trepadeiras envolvendo-o quase por completo, me fizeram lembrar de uma construção medieval. Lá estavam parados dois desconhecidos... uma mulher e um rapaz cujo olhar não saia de mim

Após desfeita a confusão, os dois se aproximaram solidários. Foram os únicos que se chegaram após lamentável acontecimento, os outros estavam apenas curiosos e acabou a pipoca assim que o espetáculo findou!

Uma senhora ainda jovem, loira, olhos claros e bonitos, voz determinada e gestos firmes, acompanhada por seu filho, um rapaz de cabelos escuros e espetadinhos, barba por fazer, que davam a ele um ar de anjo peralta, olhos brilhantes e tristes, de uma beleza profunda e incomum. Deveria ter por volta de vinte e sete anos, talvez menos, e algo de especialmente diferente, que pela maioria seria descrito como um portador de deficiência mental branda, mas que por mim, será descrito como um coração acorrentado, dentro de uma alma linda e forte com uma mente muito mais ilimitada do que imagina o ser humano em sua visão arcaica e limitada. Um lindo jovem, sem duvida alguma e com uma capacidade inexplicável de arrebatar meu coração de uma maneira sem precedentes!

A jovem senhora se apresentou (não me recordo as palavras dela e nem o nome), apresentou também o filho (não me lembro das palavras dela ao referir-se a ele também e nem o nome que ele mesmo me disse, mas me recordo de que ela fez questão de frisar que devido ás nossas “afinidades” devido ás nossas limitações (e ela nem sabia quais eram as minhas), poderíamos nos dar muito bem, algo que, em outra situação eu não iria digerir com tanta tranquilidade resignada mas, vendo o filho dele ali, concordei mas por motivos diversos dos dela, uma vez que os meus eram movidos por outro tipo de pensamento e sentimento), disse palavras de solidariedade após apresentar-se devidamente.

Havia mais duas pessoas além de mim na varanda de casa, mas não me recordo de quem se tratavam exatamente, um deles era meu pai ou meu irmão, não me recordo com muita certeza de fato.

Todos conversavam amistosamente, como se já se conhecessem há certo tempo. Ele não tirava o olhar de mim e a reciproca era verdadeira!

Recordo-me, da mãe dele conversando comigo sobre alguns assuntos mas, não consigo dizer quais eram eles mas passamos um tempo razoável conversando e com a participação especial do rapaz vez por outra, o que me deu a certeza de que ele é bem diferente do que sua mãe fazia supor com seus comentários (mão guardei as frases mas guardei as sensações que vieram da minha parte com relação á elas), que era um rapaz com um limite aparente mas um carisma inegável e vibrante, escondido por aqueles que não queriam ver.

Foi a mãe dele quem sugeriu que mantivéssemos contado, não só com ele mas com ela também, uma vez que, disse ter gostado de mim. Não tive motivos para duvidar, apesar do aparente preconceito camuflado, pois, senti que apesar de tudo, ela parecia sincera e disposta a rever sua primeira impressão sobre mim.

Ela disse que eu seria bem vinda na casa dela e que ele poderia vir na minha também se assim o desejasse, a assistente dela o traria.

Pensei que ele morava do outro lado da rua, não havia uma grande distancia ou grandes obstáculos a superar e nem perigos dantescos a enfrentar, mas disse apenas:

- Vou te passar meu telefone, meu mail, podemos conversar, mandar mensagens e você pode vir aqui quando quiser. É só me ligar e eu vou buscar você, ou alguém o traz e depois eu te levo de volta para sua casa.

- Eu posso ir e vir sozinho – disse ele com olhar decepcionado. Ninguém confia em mim!

A mãe deu um sorriso amarelo e argumentou que era perigoso para ele por isso pediria á sua assistente para acompanhar.

Eu discordava plenamente dela, mas nada poderia fazer porque o filho era dela e sua tendência protetora invasiva também. Fiquei com medo de não mais vê-lo e me calei.

Vendo a tristeza crescente em seu olhar, o puxei suavemente para longe das outras pessoas e ainda segurando suas mãos com uma delicadeza firme, olhei profundamente em seus olhos e disse:

- Sabe quanto tempo passei presa aqui, sem que me dessem chance de mostrar minha capacidade, meu valor e meus sentimentos? A infância toda... a adolescência e estou aqui ainda mas não perdi a esperança de me libertar, de conhecer meu real valor, minha própria personalidade e de saber o que é o amor, amar e poder ser amada. Não desisti e não vou permitir que você desista, então reaja e veja que as coisas não são tão absolutamente ruins como parecem. Eu sei que é frustrante depender da boa vontade dos outros, da capacidade deles de aceitar que também somos capazes, muito mais capazes do que eles imaginam, mas eu sei que você é muito mais do que demonstra ao mundo, muito mais do que sua mãe pensa, mas você não pode obrigar ninguém a perceber isso, pode apenas demonstrar e saber que um dia alguém além de você vai perceber como você é especial. Eu percebi e estou disposta a descobrir muito mais, cedo ou tarde, os outros vão também.

Eu o abracei com muito carinho... um carinho que nunca senti antes. E foi sentindo este abraço que despertei... despertei sozinha mais uma vez mas meu coração me contou que onde já estive antes, quando menos esperar, lá novamente estarei!

Deixo aqui minha singela indagação: Quem és tu ó nobre rapaz de alma linda, olhar triste e coração acorrentado? Existes e um dia vou rever-te ou és apenas reflexo do meu EU tão desesperado para ser amado?

Foi um sonho tão real, tão puramente sentimental que juro que nem acreditei quando acordei e tive que sair dos braços dele.

Quando duas essências especialmente delicadas se fundem as algemas arrebenta e o amor se apresenta.

Minha essência afim existe e sempre esteve e estará comigo eternamente!

... ... ...

Detalhes importantes: Minha mãe desencarnou há quase dois anos e meu pai em março deste ano. Não moro mais no mesmo bairro e em frente de onde eu morava não há uma casa como esta que vou descrever, então, não tenho certeza absoluta de onde estava no sonho, no entanto, meu espirito acredita piamente que tudo isso de algum modo aconteceu, mesmo que a razão humana me diga que não.

Essência di Ana
Enviado por Essência di Ana em 02/11/2012
Código do texto: T3965646
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.