Estômago apaixonado

Era uma vez, um belo rapaz.

Sua presença chamava atenção por onde passava, era gente boa, um amor de menino. Todos gostavam dele.

Uma pessoa sentiu-se atraída por sua beleza e pediu ajuda a uma amiga em comum para ser apresentada a ele.

Foram cordialmente apresentados e ela ofereceu-lhe um bolinho fofo e gostoso.

Ele não estava com fome, mas se estava oferecendo por que recusaria? Então o rapaz ficou meses e meses comendo aquele docinho mesmo não estando com fome.

Até que um belo dia, um enorme e suculento banquete surgiu...o menino ao ver aquilo tudo na sua frente,imediatamente ficou com muita fome. Sentiu necessidade de se fartar de toda aquela comida, mas não podia.

Prometeu que seu estomago seria fiel ao bolinho e a mais nenhuma comida. Porém estava faminto demais para ligar para fidelidade e foi se aproximar do banquete.

Beliscou, deu mordidinhas, elogiou o sabor, ficou extasiado com o cheiro e chegou a discretamente tirar um foto daquela comida!

Mas tinha medo! Muito medo com que percebessem que ele preferia o banquete ao invés do bolinho. Medo que a pessoa que sempre oferece o bolinho, descobrisse. Medo de ser julgado, de não ter o que comer...

Tinha tanto medo porque haviam lhe ensinado que se você aceitou algum tipo de iguaria, não deve sentir vontade e nem fome de comer outras coisas, pois isso seria traição! Mesmo que a iguaria fosse ruim e estivesse estragada ou mesmo que você não tivesse fome.

A pessoa que trouxe o banquete ao saber que havia alguém interessado, ficou surpresa porque não achava que sua comida fosse capaz de chamar a atenção. Não se considerava uma boa cozinheira.

Mas ofereceu alguns quitutes ao garoto que se sentiu envergonhado. Tinha muita vergonha que o banquete percebesse e quando a cozinheira ia dá-lhe algumas coisas, fingia mal e porcamente que não queria nada ou se escondia da comida.

A cozinheira ficou triste pela covardia do menino e pena do bolinho. Foi embora com o banquete. E ele ficou na vontade...

Quem não sabe do amor que o rapaz nutre pelo banquete, acha que ele está bem satisfeito com o bolinho. E que sabe de tudo, também sente pena do bolinho e torce para que ele mate a fome com o que sempre quis: com o banquete!

Hoje em dia, o bolinho dorme tranquilo achando que satisfaz o rapaz e que é amado por ele. O rapaz dorme e sonha em comer o banquete. O banquete dorme e sonha em satisfazer o rapaz.

Mas dizem por aí que o garoto está ficando cada vez mais enjoado do bolinho e que é questão de tempo dele jogar fora o doce. E dizem, também por aí que o banquete vai surgir de novo na frente do belo rapaz...

Quando esse dia chegar, o que será que vai acontecer?