ENTARDEÇO

A vastidão do desejo está disfarçada de horizonte.

Entardecer na vida é como ter feito uma corrida de obstáculos sabendo de antemão, que não venceria de forma normal ou comum á toda gente que o viu ereto e andando em frente, há aqueles em toda parte, gente que nas temperaturas do labor: se esforçam para que as estruturas que os alicerçam sejam suficientes para trazer em segurança seus filhos e suas necessidades, para que possam erguer seus narizes o alto e respirar o ar do futuro que cada um idealiza.

Tudo que existe é um imenso vazio que chamamos de Universo, nossos órgãos são formados de células e; essas minimas estruturas de vida se relacionam em um caos harmônio em ritmo acelerado.

Sinto que entardeço do modo como as frutas são vistas no pomar, na hora certa da mangueira, na hora certa da figueira, no exato instante em que o limoeiro deixava no ar o sinal de sua potência, então tudo era cheiro de de flores de laranjeiras. Tudo era a quimera em construção e entre as colunas o vazio era coberto por paredes vidro. Quando a casa viria à baixo e construtores ali se juntaram para decidir: demolir ou não! Presaram a decisão de preservar o imóvel sentirem ali uma presença que não se via, que não se movia. Sensibilizados pelo aroma da tarde carregado de melissa e cabeça de velho caminharam sem pressa por entre o jardim menor. E foi ali que o destino da casa estava em boa mãos, entre as espadas de São Jorge uma estátua em barro de São Francisco, segurando duas pombas, implorava com seus olhinhos miúdos: considerem que as plantas moram aqui há muito temo, que as primaveras que foram vendida como"anãs" ocupam muito espaço e cobrem os muros, floridas como estão forram as pedras que circulam a piscina, que aquela casa é a casos dos bentivis, dos quero-queros e das pombas que cantam ao meio dia, também são inquilinos. E considerando que o João de barro se esmerara por fazer do barro sua morada a casa permaneceu. E entardece. A praia está deserta e lisa, o mar está sereno e azul. No fundo de um navio morre meu sonho à naufragar"

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 25/10/2012
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