Porta dos Fundos

Essa mania que você tinha de abrir a geladeira e não pegar nada. Só por abrir. Você sempre fez as coisas da forma errada e nem pra pedir desculpas. Você deixava pela casa os teus rastros. A toalha sempre estava sobre a cama, a tampa do vaso sempre ficava levantada e eu sempre tinha que lavar a louça e arrumar a tua bagunça. Sempre fiz tudo sozinho. Sempre zelei o nosso amor por nós dois. Por mim e por você. Sempre foi assim: Eu arrumava e você bagunçava. Você bagunçava e eu arrumava. Deixava passar por te amar. Engolia assim: à seco, sem ao menos um copo d'água pra ajudar a descer. Mas nunca consegui te engolir todo. Sempre me vi lutando contigo entalado em minha garganta ou sendo digerido sorrateiramente. Tua mente era uma bagunça! Teu coração era uma bagunça e a nossa vida estava por um fio de chegar neste mesmo estado. Teus problemas viviam empilhados no meio do caminho à ponto de nos tapar a vista e não podermos enxergar que o nosso amor estava sendo dissecado. Por muito tempo precisei saber lidar com a sensação de que eles desabariam sobre mim a qualquer momento. Precisei saber lidar com tua ausência presente em cada parte da casa. Você nunca se preocupou em preencher os espaços que você podia preencher. E o vazio era retratado e espalhado pelas paredes da casa. Estampei as saudades em meus olhos pra ver se você notava, preguei quadros com as nossas fotos por toda parte, em todos os cômodos pra ver se você sentia, nem que você de leve, um pouco de saudades daqueles tempos, saudades de mim. Pra ver se a nostalgia te visitava, pra ver se você me visitava, pra ver se você retornava decidindo acabar com o vazio que você deixou ao sair pela porta dos fundos. É, eu notei amor! Notei e te deixei seguir pregando sobre a tela do meu coração a dor que hoje me mata aos poucos só para te manter mais vivo em mim. Só pra poder te dar mais espaço, mais conforto. Comecei a mergulhar nas lembranças, me embriaguei da tua insensatez. Abri portas, e até mesmo as janelas só pra ver se você voltava. Passei a alimentar as tuas manias em mim, passei a abrir a geladeira só por abrir, empilhei coisas no meio da casa, só para poder te imaginar do outro lado. Deixei meus rastros por toda a casa na esperança de que os teus se encontrassem com os meus e juntos virassem um só. Sentei ao lado da escada esperando ver você cruzar lá na esquina e esperei... Esperei!

Deixei as janelas abertas pra ver se os ventos te trariam até mim. Deixei as portas dos fundos encostada, só pelo caso de você querer voltar pelo mesmo caminho que um dia você decidiu partir. Pra que você retorne e encare a saudade estampada em meus olhos e me arranque aquele sorriso de mais um bobo apaixonado. Deixei a porta aberta pra que você adentrasse e empilhasse mais uma vez teus problemas aqui, pq a ausência de ti me faz viver estampando um falso sorriso em meus lábios. Mentindo pra mim mesmo que não perdi nada, quando na verdade perdi tudo. Perdi você! Me faz querer acreditar que você voltará pq as portas continuam abertas, meu amor!

Reges Medeiros
Enviado por Reges Medeiros em 25/10/2012
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