Sobre mulheres, cigarros e você.
Fitou-me com aqueles olhos esverdeados que me traziam a calmaria de um verão bom e então, tragou seu último cigarro. Seu lábios tocaram os meus, provocando a aceleração contínua dos batimentos cardíacos dentro de mim. E então saiu. Observei-me no espelho, uma imagem incerta refletiu a criança que ainda habitava em mim. Eu quis dizer adeus aquela vida desregrada ao lado dele. Quis embarcar num navio chinês e misturar-me à falsificações baratas. Mas nada fiz. Retoquei o rímel, esgotei-me de lápis negro e vi no espelho do banheiro a mulher na qual estava me tornando. De grandes decotes, whisky importado e hálito banhado por nicotina. Pensei numa overdose de remédios, achei polemicamente ridículo. Quis ligar para a minha mãe, mas recordei-me da nossa última discussão e declarei-me orfã da vida. Naquele quarto de hotel, rodeada de vozes pertubadoras, achei estar enlouquecendo. Tal como Nietzsche. Achei estar próxima da morte. Tal como Amy Winehouse. A porta rangeu alto, olhei-a e ele já estava de pé, de volta, sorrindo desbocado, como cafajestes de filmes europeus. Eu o amava e era bem certo que havia me tornado a sombra do seu cigarro, do seu cabelo loiro e até do seu jeito autoritário. Mas naquele momento, erámos só eu e ele. Só o meu rímel carregado, indo de contra ao olhar esverdeado dele. E naquele momento, eu estava em paz novamente. Sem saber se era uma mulher ou se era uma criança envolvida cedo demais com caras errados.