Até que me mude...
Te espero no quarto com a porta aberta, quero afagar seus cabelos enquanto planejamos nosso casamento e uma vida feliz... Olho para o relógio e vejo que uma hora já se passou e o aperto em meu peito me denuncia que algo está muito errado. Ligo o rádio para ouvir o amor em pedaços em alguma canção qualquer, abro outra garrafa de vinho e me coloco novamente na janela, a espiar os carros, imaginando quando você vai chegar...
A felicidade era o sentimento da semana passada... Entre as luzes dos carros, sinto a minha mente se perturbar, delicada e intensamente, de forma incontrolável, vejo o mundo por uma cortina de lágrimas, que insistem em se misturar com minha maquiagem, tingindo de negro a tela de meu rosto, pincelando com marcas de desespero o caminho percorrido por essa torrente de dor e saudade, que vem dilacerando tudo, rasgando metade de mim, levando parte de ti, esvaziando meu coração...
O alívio vem em forma de som estridente e cortante do celular, colocando em meu rosto, um sorriso bobo e esperançoso de que tudo era apenas insanidade de minha cabeça, que inventa torturas para me machucar...
Sua voz, tranquila e grave me preenche como raios e ilumina todo o espaço preenchido com saudade, a esperança enche novamente minha alma... Atrasos são normais, te espero mais tarde.
Me transformo em princesa novamente, recobrando toda minha pintura... Deixo a loucura lá fora e um toda a saudade bem perto de meus braços, para matá-la em um forte abraço e um beijo de amor quando você adentrar por essa porta...
A tristeza era um sentimento do mês passado, das horas passadas...
Você me diz, aborrecido, que está cansado e que nada mais faz sentido, nem ao menos notou a casa enfeitada e meu coração pronto para você... Estou usando o vestido que me deu de presente e o perfume que tanto gosta... Mas parece não notar! Pergunto o que acontece, mas você finge nem me ouvir...
Eu caminho nua pelo quarto, enquanto acendo um cigarro e vejo minha sanidade sair em forma de fumaça... Bebo mais vinho, talvez assim, o amor possa entrar em mim, do jeito que eu espero, do jeito que quero...
Suas verdades, seus conceitos, seu trabalho, todo esse blablabla já tem me enchido e meu coração latino cansado de sofrer, tudo tem maior importância, e nenhuma importância pareço ter eu a você...
Você finger não notar meu olhar perturbado, nem mesmo ouviu quando te disse que te amava, ignora meu riso nervoso e a minha insistente agonia em saber o que eu posso esperar de nós...
Abra espaço, olhe nos meus olhos e não se ponha desta forma, apenas me deixe passar, não me diga que é "para sempre", que você não vai ouvir: "nunca mais"... Eu ainda não estou inteira, mas ainda posso me reconstruir, não necessito desses cacos e migalhas que vem me oferecendo como prêmio de consolação por suportar suas chatices...
Eu me entreguei inteira, para mim, era "até que a morte nos separe" e sua indiferença acabou por findar o que não tinha limites... Hoje, você quer apenas que a separação não te mate, mas primeiro, teve que perder para depois valorizar... Sua indecisão hoje te custa a sua sanidade!
Agradeço as flores que me mandou, com elas eu já fiz um jardim... Seus pedidos de perdão poderiam promover a paz mundial, mas em meu coração, a cicatriz é maior, seu remédio não cura a dor que me causou...