DOUTORA (HOMENAGEM)
Andréia olhou rapidamente para o pequeno relógio de pulso: “Sete da manhã”. Fim de mais um plantão, porém restava a pequena Dora, uma paciente que precisava reagir a mais uma crise de bronquite agravada pela pneumonia. Lembrou da madrugada e de receber e menina no pequeno consultório daquele hospital público. Sentiu o corpo quente, verificou a dificuldade para respirar e a tristeza naqueles olhinhos infantis. Não obteve muitas informações com a mãe, também uma menina, só percebeu que o quadro podia se agravar. Tomou as medidas necessárias e determinou a internação da criança, mesmo sob críticas da mãe. Lembrou-se ainda de voltar uma hora depois no quarto e constatar que a febre continuava, mas lembrou também que a menina sorriu pra ela. Decidiu manter o tratamento, esperando uma reação do organismo. Uma hora depois foi mais uma vez ao quarto e a febre persistia, só que com um outro sorriso e um beijo acenado. Agora estava ali, pensando naquele rostinho moreno e torcendo para encontrar um quadro diferente. Chegou ao quarto e encontrou a fisionomia sisuda da mãe. Foi até a menina que dormia. Iniciou os exames e... A febre cedeu. “Graças a Deus” pensou. “Doutora” ouviu e ao abrir os olhos, encontrou os olhinhos bem abertos e o sorriso infantil. Sorriu de volta, mas antes que pudesse falar alguma coisa ouviu “Muito Obrigada” e um beijo nas mãos. Pensou no cansaço da noite, nos inúmeros atendimentos, na falta de estrutura que negava o direito de muitos e se permitiu chorar agradecendo a Deus por ser uma médica.