ENTRE IRMÃS
Uma paralisia cerebral um pouco depois do nascimento, marcara a vida de Vivian, mas o carinho e a dedicação dos pais fizeram que esta mesma vida se aproximasse consideravelmente do que aceitamos como normal; e assim ela estudava, brincava, se relacionava e vivia cada etapa da vida com intensidade. Tinha na irmã Verônica, uma amiga, aliada e companheira em todos os momentos. Porém Verônica não era somente uma irmã, era também um anjo especial; além de linda, paquerada, comentada e muito descolada.
Na adolescência, assim como outras meninas, Vivian nutria o sonho de conquistar um “grande” amor: Murilo, um amigo, filho de um amigo de seus pais, que visitava a família vez ou outra. Porém, a menina guardava o sentimento em segredo, até da irmã, constante incentivadora.
Vivian sonhava com o dia em que beijaria o amado num ritual de amor. Esperava em silencio, até que marcou a data: Na festa do seu aniversário de 15 anos. Sem contar nada a ninguém, planejou cada etapa da empreitada: Se aproximaria, olharia nos olhos dele e diria: Eu te amo! Como nas cenas dos filmes. No grande dia, sentiu um aperto no peito quando viu aquele “deus” grego entrar no salão. Lindo, louro, ombros largos, blusão aberto. Deixou que a festa seguisse o rumo até que um pouco antes da meia noite decidiu procura-lo e fazer a declaração tão bem ensaiada por anos. Procurou, procurou e não encontrou. Com certa dificuldade conseguiu chegar à área externa do salão. Foi quando viu Murilo vir ao seu encontro. Sentiu o coração disparar. Ele olhou com carinho para Vivian, estendeu uma das mãos, tocou no rosto dela. Vivian fechou os olhos, chegou a movimentar os lábios para a esperada declaração, quando ouviu uma voz familiar, abriu os olhos e encontrou a irmã, e amiga, Verônica que sorria para ela: “Vi, quero te contar uma novidade: Eu e o Murilo estamos namorando”. A frase teve o efeito de uma pancada. Houve um silencio. Uma troca de olhares. Um momento de duvidas. Até que Vivian sorriu entre dentes. Deu uma desculpa qualquer, foi para o banheiro e sentiu em lágrimas correrem pelo rosto. Ela sofria a dor de um amor não correspondido. Assim como toda a menina.