Felizes até que a morte os separe
Setenta e seis anos atrás, lá estavam eles dois na beira do rio,em pleno pôr do sol,um acariciando o outro na inocência de recém-namorados da década de trinta. Ele no auge da adolescência e ela no começo de sua juventude.
Ficaram lá, até que chegou a noite presenteando-os com uma bela lua cheia regada de lindas e brilhantes estrelas lembrando-os que já era dada a hora de partirem para suas casas; e assim fizeram após se beijarem pela última vez naquela fatídica noite que marcaria a vida daquele casal para sempre.
Passado algum tempo e lá estavam eles em frente ao altar daquela humilde capela do vilarejo em que viviam. Antes e depois deste momento sempre viveram felizes, parecia que um foi feito para o outro. Viviam tão apaixonados que já não havia duas vidas diferentes, e sim uma só. Cada um vivia em função do outro e assim foram passando-se os anos...
Os tempos se passaram e a idade também. O cabelo dela de brilhantes cachos deram lugar a um cabelo branco e sem desenho. Ele também já não tinha a fisionomia esbelta de outrora. As aparências haviam caído, mas o amor entre eles sempre subindo, se elevando a cada olhar apaixonado dele para ela. Sua cadeira de rodas e sua doença não iriam impedi-lo de abraçá-la como fizera tantas vezes antes.
Até que chegou uma manhã em que ele foi colocá-la de volta na cadeira após um sono de dez horas —Tempo recomendado pelo médico...E eis que ela não esboçava nenhuma reação.
—Só pode ser sono. —Pensou perplexo ele naquela situação. Passaram alguns minutos, horas e aquela situação não mudava. Algo de errado estava acontecendo. Então ele resolve ligar para o médico, que imediatamente chegou e constatou aquilo que nem passava pela cabeça do pobre velhinho.
—Lamento dizer, mas infelizmente ela faleceu. —Disse o médico respeitosamente ao velhinho que acabara de completar bodas de brilhante.
Aquele laudo médico não entrava de jeito nenhum na cabeça dele, então apenas restou-o beijá-la pela última vez. Desta vez, entretanto,com mais amor, emoção e sentimento do que aquele de setenta e seis anos atrás. Era como se ele também tivesse morrido, viver sem ela não havia mais sentido. Depois disso, retirou-se em extrema depressão ao seu quarto esperando a morte chegar.
Este conto poderia ter tido um final feliz, mas, diga-se de passagem, este não é um conto de fadas. Geralmente o amor dói —Seja no começo,meio ou fim. E acredite, ele tem um fim. E essa dor não se resolve com insignificantes analgésicos. Às vezes, só se consegue resolvê-la doando a própria vida.