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Pra você não esquecer. Ter medo de repetir algumas lembranças e tornar tudo menos bonito. Arrastar o pé, o corpo, ah meu bem, arrastar a sua alma e esse espírito de gente que ainda não cresceu. Does anybody hear her? Pelo que eu sei, pelo que eu não sei, pelo que adivinho. Por detrás do seu olhar que tem outro olhar. Pra parar com isso de imaginar despedidas. Parar com essas coisas que você não diz porque não vai adiantar. Fazer tanta, tanta palavra bonita de verbo. Cidades. Eu entender o porquê dos três pontos, e porque não milhões, e porque não nenhum. Pra querer passar na frente da praia e observar o corte que o azul de cima faz no azul de baixo. Aprender a ser a sua pele direito. É por causa dos meus horários favoritos, quatro da tarde, quatro da manhã. E por eu nunca ver o relógio dizendo pra ter calma, sem pressa, existe alguma razão pra ser assim. Não saber qual é a razão e sei lá como senti-la. Sei lá como sentir mais que a água descendo na garganta, mais que o portão de metal sendo trancado, mais que a carne sendo desfiada pro almoço. Depois pra você perceber que eu te amo tem três palavras e as reticências três pontos. Perceber que os barulhos do dedo na mesa, do quadro negro sendo riscado, o ar-condicionado funcionando muito alto, perceber que isso diz algo e você nem ouve. É pra você não esquecer. E é por isso que eu vim.

Beatriz Adrivin
Enviado por Beatriz Adrivin em 01/10/2012
Código do texto: T3911184
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