Cobertor curto EC
Quando estavam juntos nada importava. Nem mesmo a cama pequena, o quarto sem armário, o fogão de duas bocas, a sala sem tapete, a janela sem cortina, os discos empilhados sobre um banquinho, objetos guardados numa caixa de plástico. Casa simples numa rua sem saída. Amor não escolhe endereço.
Quando estavam juntos tudo fazia sentido. Era um amor explícito, sem convenções, sem promessas, sem dívidas. Apenas o interesse real pela vida um do outro. Amor que não dramatizava, mas simplificava. Amor que sabia ouvir e dizer a coisa certa, na hora certa. Amor que zelava pela felicidade.
Amor é como flor. Tem que cuidar pra crescer. É pétala delicada, folha tenra.
Sentiam-se jovens. Havia sempre um sorriso generoso quando se fazia uma tempestade num copo d’água. Achavam um novo caminho quando o caminhar se tornava confuso ou estressante. Andavam juntos, no mesmo passo, no compasso da vida.
Eram um, assim, quando estavam juntos. O mundo ficava em paz. O que os aquecia era o coração, pois na simplicidade daquele lar, o cobertor...ah! o cobertor era curto.
_ Vem cá, tira os sapatos, senta aqui...