Quando menos se espera

Verão de 1998. Praia de Guaratuba. Em mais um sábado à tarde, lá estava ele, como sempre fazia nas férias, correndo atrás da bola nas areias da praia. Os seus 13 anos lhe davam o vigor e disposição necessários para passar o dia inteiro fazendo aquilo que mais amava: jogar futebol. E naquela tarde não era diferente. Passes milimétricos, dribles calculados, chutes certeiros. Mas foi nesse dia que tudo mudou. De posse da bola, tocou de lado para o companheiro e correu para receber na frente. Na metade da corrida, tudo começou a girar. Uma falta de ar repentina. A vista escurece. Só acorda no hospital.

Assustado com os tubos e máquinas ligadas ao seu corpo, pergunta aos pais o que aconteceu. As explicações são vagas, não entende por que ainda está internado. Chega então o médico. Com ele, a explicação, a solução e uma sentença. A explicação era que havia sido diagnosticado um problema cardíaco. A solução era um tratamento a base de remédios, que controlaria a doença para o resto da vida. A sentença: nunca mais poderia jogar futebol novamente. Como assim? Nunca mais? As palavras ecoavam em sua cabeça. Seu sonho estava terminado, não seria mais um jogador de futebol. Não podia acreditar no que estava acontecendo.

Depois de alguns dias recebeu alta do hospital. Na manhã seguinte, voltaria a São Paulo. A ferida ainda recente lhe trazia uma decepção enorme. Com o que sonhar agora? Antes de ir embora, sentado na areia da praia, olha para o céu e pergunta baixinho: “Por quê comigo? Onde eu vou encontrar minha felicidade agora?”

Verão de 2005. O telefone toca. Os amigos da faculdade chamando para uma viagem. Iriam alugar uma mega casa na praia, e perguntaram-lhe se não estava a fim de ir. Ele relutou de começo, mas foi convencido pelos insistentes pedidos, e até para ajudar nas despesas da galera. Só havia um porém. O destino: praia de Guaratuba. Poxa, mas tinha que ser justo lá? Decidiu não ser tão rabugento, e partiu na esperança de curtir uma boa viagem.

Chegando à praia, conheceu o resto da galera com quem iria dividir a casa. Tudo gente boa, garotas bonitas, caras maneiros, começou a sentir-se mais à vontade. Mesmo cansado pela viagem, acompanhou a galera na balada da primeira noite. O sofá da boate teria sido seu melhor companheiro, não fosse o olhar insistente de uma das garotas do grupo. Morena, cabelos longos, sorriso perfeito, foram várias as vezes em que seus olhares se cruzaram. Num momento de descanso da garota, que quase não parava de dançar, aproximou-se e puxou conversa. Surpreendentemente para ele, pois nunca foi muito bom de conversa, o papo fluiu. E assim foi pela madrugada adentro. Assuntos não faltaram. Saíram da balada já amigos. E o beijo? Sim, teve. Um de boa noite, na bochecha. Mesmo assim, ele foi dormir com um grande sorriso. Foi dormir sentindo algo diferente em seu peito.

Com o passar dos dias, a cumplicidade foi aumentando. Não se desgrudavam mais. Os amigos perguntavam toda hora: “E aí, não vai rolar um lance?” Ele não via pressa em rolar. Sabia, não tinha idéia como, que ela não era só mais um lance.

Na noite do último dia de viagem foi organizado um luau na praia. Então aconteceu. O copo vazio na mão dela. Ele se oferece para pegar outra bebida. Ela aceita. Ele então faz outra oferta, dessa vez com o olhar. Ela novamente aceita, dessa vez com um sorriso. O calor no peito aumenta, os lábios se tocam. O beijo é demorado. O beijo é apaixonado. Foi então que percebeu, estava amando pela primeira vez. Os lábios se afastam, recebe um afago carinhoso no rosto. Caminha, sozinho, para buscar a bebida prometida à amada. E, como se fizesse um pedido de desculpas, olha para o céu demoradamente, enquanto uma lágrima corre por sua face. Havia, enfim, encontrado sua felicidade.

DanBraga
Enviado por DanBraga em 26/09/2012
Código do texto: T3902335
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.