A pedra mais alta.

Para fugir de seus problemas ele foi ao único lugar onde se sentia seguro, calmo, como se não tivesse problemas, onde suas emoções, sentimentos e imaginação dominam, onde habita a criatura, talvez mais linda que ele já vira. A responsável por fazê-lo sentir-se tão bem. Chegando ele olhou para cima, em direção à pedra mais alta, com um sorriso resolveu por subir. Sentada no alto da pedra ela já o esperava cantando uma música rara, sua voz ecoava uma linda melodia que até parecia com o som doce choroso de uma flauta. Ouvindo essa linda canção que subia ainda mais contente, querendo enxergá-la. E foi o que aconteceu quando chegou ao topo, viu aquela linda criatura da natureza, que transcendia algo que não sabia explicar, era uma serenidade, uma paz interna, ele logo contemplou as coisas ao seu redor, o ar, seu movimento, o canto, aqueles olhos que mais pareciam pérolas, e seus longos cabelos que lhe caiam por sobre os ombros assim como um manto, estava ela, a bonita Sereia com um belo sorriso.

Olhando de cima da pedra mais alta ele via todo ao redor pequeno, porém no horizonte via-se a imensidão da natureza, com isso ele sentiu um medo incomum, um medo muito maior do sempre sente, por ver-se tão pequeno naquela imensidade, ele até parecia conchinha, ou será que conchinha achava que era ele? Bem, tanto faz, afinal tudo ficava mais confuso de cima da pedra mais alta.

Aproximando-se da linda Sereia ele a disse que mais queria naquele momento, deitar em seu colo, sentir suas escamas, e assim ela seria seu confessionário, para desabafar todos os problemas vividos por ele. Ela consentiu com um sorriso, e ele deitou. Ela pôs seus braços descansando sobre ele, ouvia-se somente o som das ondas do mar batendo na pedra lá embaixo, as mesmas ondas que levavam embora todo esboço ou ideias das dificuldades ou do fim da felicidade. A Sereia então lhe recitou suas poesias, e assim ele poderia e queria ficar ali por muito tempo, afinal lá nem falava ou pensava em horário, apenas em viver. Bem próximos ela lhe mostrou o seu coração, simplesmente o seu tesouro que vinha escondendo, pois não tinha ninguém com quem repartir. Quando ele soube dessa sua dificuldade resolveu fazer o possível para ir morar com ela na pedra, onde juntos definiriam o traçado de seus sentidos. Ele já estava vendo seu sonho de estar com ela na pedra, quando pequenas gotas de chuva começaram a molhar a pedra mais alta. Ele se sentia como se algo lhe faltasse, sendo apenas metade dele mesmo, e vendo a Sereia percebeu que ela inteira era a sua metade, e que juntos seriam uma coisa só de volta.

Era o que ele queria, viver lá no alto junto com aquela linda criatura, e o que faria. Decidiu então voltar para o lugar que antes chamava de lar para se despedir de tudo e todos. Ele não queria perder tempo para estar de volta o mais rápido possível, por isso em vez de ir descendo pela pedra resolveu se jogar lá de cima, mergulhou de cabeça no fundo, foi nadando pelo mar, seus braços pareciam remos por ir tão precisamente, e perdeu-se de vista lá de cima. Depois de uma tarde inteira, um pouco antes de anoitecer estava ele de volta, em cima da pedra mais alta.