O Gotejo da Essência
Mais um ciclo recomeça. Esse eterno recomeço que a gente se jura que nunca mais vai acontecer. Não tô pronta, guria. Você sabe, eu sei, deus, como eu sei que não tô. Como só eu sei que nunca estarei. Mas que merda é essa que nos acomete e nos afoga e sufoca na nossa própria ânsia de amar? Mas que merda de amor é esse que me reparte de mim, e me angustia e me castiga no meu próprio ato de amor? De amar? De dar amor? De ser amor..
Porque eu sei, menina… e você sabe tão bem quanto eu, que eu não posso ser mais nada além de mim, querer mais nada além do que eu, seguramente, posso me alcançar. Porque minhas paixões são sempre seguras, controladas. Porque nunca são paixões. E agora, guria? Agora, nesse ciclo novo, me desprendo de mim, me carrego pra longe e me ausento. Me desasseguro, me desassossego, me desatento.
Não posso amar, nem ser amor. Não sei ser, ter, ferver em desatino. Pois, se me permito o amor, sigo, cega, torpe, admirada e aficionada, o meu objeto de querer. Sigo, almejo, devoro, mastigo, instigo. Nasço, renasço, faleço e gotejo em cada fragmento de essência do meu amor. E tudo que me resta é minha aura consumidora da necessidade de amor. Não do amor, não do amar. Mas a ausência, ou, quem sabe, da presença do querer amar e não ser nada mais do que um amor que cria, nasce, renasce e permanece num ciclo que só recomeça em mim, para, enfim, afincar-se em mim, e para, só em mim, falecer na eterna lembrança.