Doce Anjo

Todos os dias antes do sol nascer eu subia até no alto do morro que ficava perto da minha casa. Lá tinha uma arvore muito antiga e muito, muito grande. Era a única árvore que tinha lá em cima e podia ser vista de qualquer ponto em minha pequena cidade. Eu sentava aos pés da árvore e contemplava o nascer do sol. E assim acontecia todos os dias.

Naquele dia eu sentia meu coração doer. Já fazia algumas semanas que o sentia apertado. Toda a noite sonhava com um rosto angelical. Mas ele nunca sorria. Estava sempre com os olhos carregados de lágrimas e uma expressão angustiante. E eu não entendia o porquê daquele lindo anjo estar sempre chorando. E então eu acordava quase sem ar.

Coloquei minhas botas e uma camiseta qualquer e comecei a subir em direção ao morro. Quando estava chegando perto da árvore comecei a escutar um choro baixinho e muito triste.

Havia uma garota, com aparência frágil em pé em cima de um banco. Ela estava com um vestido floral, descalça e com seus longos cabelos soltos. Ela olhava em direção ao sol que já estava nascendo e chorava.

Fui me aproximando devagar, para que minha presença não fosse notada. Estava preocupado e não queria assustá-la. Foi então que vi o que ela pretendia.

Acima de sua cabeça havia uma corda. Que ela segurava agora com força. Eu não estava tão perto dela e então comecei a correr. Ela colocou a corda no pescoço e jogou o banco para o chão. Antes de ele bater no chão pude ouvir um triste adeus.

Quando cheguei sem fôlego aos seus pés reconheci o seu rosto angelical. Ele estava sempre nos meus sonhos. Ela podia ter sido o amor da minha vida e eu a havia perdido.

Meus sonhos, minha angústia, a dor no meu peito agora faziam sentido. A dor só aumentava. E se ela morresse eu iria morrer com ela também. Meu coração clamava por isso

Não perdi tempo e a tirei dali. Deitei seu frágil corpo ao chão e verifiquei seu pulso. Fraco, mas ela ainda estava ali, ainda estava viva. Minha cidade era pequena, havia só um posto de saúde que ficava a 40 minutos dali de carro. Não havia tempo. Nunca havia estudado muito e não tinha muito conhecimento, mas sabia bem os primeiros socorros, e então fiz o máximo possível.

De repente ela puxou o ar com força, tossiu e abriu os olhos.

Ficamos um bom tempo nos olhando. Eu sentia que a conhecia, e sabia que ela também sentia o mesmo.

- Eu conheço você... – Ela disse com sua voz suave e fazendo uma cara de confusa.

- Sim, eu também a conheço.

- Nós já conversamos algum dia?

- Não. Mas todas as noites eu te encontrava em meus sonhos. E eles me trouxeram até você. Trouxeram-me pra te salvar.

As lágrimas caíram novamente de seus olhos. Mas não de tristeza e sim de emoção.

Eu a tomei em meus braços e pude sentir toda a sua fragilidade e delicadeza. Sua pele era macia e tinha um cheiro muito doce. Eu sabia que pertencíamos um ao outro. Estávamos ligados, conectados. E eu não podia perdê-la jamais.

- Aonde vamos?

- Eu vou cuidar de você. – Eu disse. Mas meu coração gritava: Eu vou amar você meu doce anjo.