O amor não vive sem a sacanagem
O amor desde muito tempo já não se entendia com a sacanagem, se julgava o ser perfeito, obstinado e dinâmico, como se fosse o maioral, e assim vivia a humilhar a sacanagem que não tinha nada mais a oferecer que a mais pura sacanagem.
O amor sempre se exibia por ser intelectual e genial, tinha a fama de a todos dominarem e extrair deles o que quisesse, era bem decidido, rico e cheio de pose e por isso era uma criatura esnobe.
Coitada da sacanagem sempre escorraçada pelo amor, sempre se chateava e se embrenhava de vez na malandragem. Enquanto o amor ia gastar sua grana com roupas de grife, acessórios de ultima geração, whisky importado e comida requintada, a pobre da sacanagem cabisbaixa e depressiva pouco se fazia para alegrar seu dia, e na cachaça se via dependente e ausente.
O amor era grã-fino andava sempre bem vestido, parecia um lorde, já a sacanagem era toda desleixada, maltrapilha e fuleira, e quanto mais o amor achava seu lugar no espaço à sacanagem se escondia na sua repugnância, mas o amor mal sabia que a sacanagem era criada na astúcia e que tinha os dotes da velhaquice. Foi quando o amor numa bela manhã de sol na beira de sua piscina de cascata, distraído com o seu Black Berry a escutar bossa nova, se descuidou dos seus pertences e deixou a vista seu cartão Master Card Gold e sua agenda com a senha do cartão exposta. Como a sacanagem estava sempre por perto fez jus ao seu nome, e num golpe de mestre surrupiou a agenda e o cartão e desapareceu, foi quando o amor, depois de muito tempo se atina de seu vacilo, e percebe que já era tarde demais. Então ele grita irritado:
S A C A N A G E M.
E bem longe daquilo tudo a sacanagem aproveitava, e com satisfação, agora era ela que se exibia numa praia paradisíaca, toda cheia de pose e malícia, tomando um drink requintado, com toda malandragem e malevolência pensava; “O amor não vive sem a sacanagem".