FIOTINHA

ELA estava engordando, se achando um balão inflado, eu cada dia mais apaixonado, ELA chorando e passando mal, eu nada podia fazer, não conseguia esconder minha felicidade, íamos ter nosso primeiro filho, na verdade filha que ELA carinhosamente chamava de FIOTINHA, e eu feliz...
Eu acompanhava ELA ao médico, ia ao mercado, nas roças, todos os lugares necessários para satisfazer seus desejos de grávida, participei da montagem do enxoval dela e do bebê, acordei á noite pra arrumar suco de jaca, fiz bolinho de jiló, corri logo cedo, atrás de bife amanhecido com pão, dormi na poltrona para que ELA se deitasse de atravessado na cama porque assim não doía às costas mesmo contrariando as leis da física e eu feliz...
O café da manhã eu mesmo continuava preparando, ás vezes passava mal e sujava toda cama e eu acabava perdendo a hora do serviço. ELA chorava por ter estragado seu poema eu a consolava dizendo: A FIOTINHA será uma poetisa como eu, e agora “pérai” que vou escrever outro para você. Abraçava-me se debulhando em lagrimas soluçando; uma criança esperando por outra e eu feliz...
Meu mundo se reduziu de casa para o trabalho, do trabalho para casa, às vezes, só em casa, passava horas massageando seus pés inchados, passando creme em seu corpo, deitado ajudando nos trabalhos da faculdade, cuidando do jardim ou de Tibongo. Tudo compensado com carinho, amor apaixonado e a expectativa da vinda da FIOTINHA. Toda noite, levava ELA para faculdade, Tibongo ia junto, em seu colo, ficava triste quando ELA descia do carro, queria ir junto, também...
Voltava de noitão para buscá-la e Tibongo era só festa e eu feliz...
Chegou o grande dia, na hora, fomos para o Hospital, enxovais na mala, bolsa rompida, sogros juntos, Tibongo também quis ir, mas ficou em casa com a funcionária, ao chegamos, nos instalamos, conversamos com os médicos e enfermeiras ELA ficou brava comigo porque iria distribuir charutos, segundo ELA, na minha “época” isto era normal, mas o mundo tinha mudado, não se fazia mais isto, era antitabagista, tudo bem, eu estava feliz...
Finalmente, nasceu FIOTINHA, parecia um joelhinho, carequinha, toda amassadinha, mas já dava para ver os traços da mãe, grandona para um bebe, sua mãe também, o era, seria muito linda. Eu corujão, depois de anos, pai novamente, na maternidade ouvi um desatento dizer: Ele é avô de qual bebê? E, eu nem ai, estávamos felizes...
Quando a enfermeira levou FIOTINHA para ELA ver, foi um chororô danado, vó e vô d’ um lado, eu do outro, no centro ELA com FIOTINHA, apenas FIOTINHA e a enfermeira sorrindo, tudo filmado, fotografado, pelo cinegrafista que também não conseguiu conter as lagrimas, e eu feliz...
Chegou o dia de irmos para casa, ELA de resguardo cada dia mais linda com aquele andar feito patinha choca, ralhando comigo e com seu pai para pararmos de brigar no hospital sobre quem ia segurar FIOTINHA, parecíamos dois moleques. Sua mãe, ajudava segurando-a pelo braço e eu, revezava com seu pai ora com a mudança, ora segurando o outro braço, com FIOTINHA, e eu feliz...
Quando chegamos, o quarto de FIOTINHA já estava arrumado e o nosso também. Instalamos-nos, minha sogra ficaria no quarto de hóspedes para ajuda-la nos primeiros dias, enquanto isso,Tibongo pulava, latia, corria, também feliz...

Cesão
Enviado por Cesão em 02/09/2012
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