OUTONO

Ah! Meu amado, por que me abandonastes? Ainda ontem, naquele jardim a brincar com meus cabelos, disseste que jamais me deixaria, fechando os olhos, imaginei a eternidade a nossa frente e pensei ser muito pouco tempo para o grande amor que lhe sentia. Assim, guarnecida pela promessa, sonhava acordada sem me inquietar com o revés que a vida sempre arranja um jeito de dar.

Foi quando o outono chegou e às folhas amareladas das arvores se foram junto com ele. Atônita, acordei sentindo frio, pois estava só em minha cama de dossel. Agarrei-me aos travesseiros onde aconchegamos os nossos sonhos de amor, de felicidade e uma dor profunda saiu de dentro do peito e percorreu todo o meu corpo. Eu queria gritar! Ah! Como queria. Queria gritar para que o vento da estação levasse o meu lamento até ele, assim que sabe, se arrependeria e voltasse correndo me pedindo perdão. Mas, a minha dor era cruel, era muda. O que ela diria? Volte pra ela? Não, ela não diria nada, mesmo que tivesse tudo a dizer, ela se calaria e morreria comigo infinitas vezes, de infinitas mortes, porque sabia que nada o traria de volta, porque ele partira muito antes do outono, talvez até em outros outonos e eu não senti. Estava a sonhar com promessas, e o tempo passou... Era já inverno... E eu acordei sentindo frio e já era tarde... Muito tarde... Tarde demais para nós dois.

By, Nádia Ventura

NADIA VENTURA
Enviado por NADIA VENTURA em 02/09/2012
Reeditado em 11/03/2024
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