FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 4)
Acordei com o sol na minha cara. Sentei de um pulo, sem saber onde eu estava. Eu tinha areia por tudo. No rosto, nos cabelos, até mesmo na língua. Enquanto minha cabeça levemente girava, me deparei com o Nando dormindo tão relaxado, que parecia que ele estava em sua própria cama.
Deviam ser mais ou menos sete horas da manhã. A praia ainda estava deserta, com alguns resquícios deixados pela festa de ano novo. Algumas pessoas iam e vinham, nos ignorando completamente. Ainda bem. Meu estado deveria estar lamentável.
Lembrei que Rafaela deveria estar preocupada, pois eu simplesmente desaparecera em plena noite. Entretanto, a julgar pela quantidade de álcool que eu a vira bebendo, era bem possível que ela também estivesse atirada em algum canteiro próximo.
Olhei novamente para o Nando, imaginando o que eu diria quando ele finalmente acordasse. Meu coração apertou. Ele era lindo. Passei tantos anos fantasiando que o beijava e tocava e agora era quase inacreditável que isto já tinha acontecido. Mas e depois que ele acordasse? O que Fernando teria para me dizer?
Os amigos dele já tinham ido embora. Estávamos apenas só nós dois. Ele tinha tudo para me dar um bom dia e um pontapé na bunda. Não, eu não iria suportar começar o ano desta forma bizarra. Se o primeiro dia começasse assim, o que seriam os próximos 364? O horror, o horror.
- Bom dia.
Dei um pulo e me virei para o Nando. Ele estava se espreguiçando, também com areia por tudo. Com os olhos semicerrados, me perguntou:
- O que foi?
- Como?
- Por que você está me olhando assim?
- De quê jeito estou olhando você? – perguntei, espantada.
- Com cara de susto.
Dizendo isto ele sentou e se levantou em seguida. Pronto, pensei eu, apavorada. Agora o Nando vai me dar bom dia e um pé na bunda e…
- Vou buscar uma água ali no quiosque. Você quer?
Só balancei a cabeça fazendo que sim, com um aperto no peito. Aquela era a senha. Uma vez não disseram que iriam comprar cigarro na esquina e sumiram? A versão comigo seria de uma garrafa de água.
- Já volto.
Nem respondi. Achei que fosse chorar enquanto eu o observava caminhando lentamente, a barra das calças brancas arrastando pela areia e a camisa amassada cobrindo o peito. Não poderia haver homem mais charmoso da face da terra e ele tinha sido meu por tão pouco tempo. Não consegui segurar as lágrimas. Ele foi se afastando de mim, possivelmente para sempre. Eu não podia deixá-lo ir embora! Será que tantos anos de caçada se resumiriam somente em algumas algumas poucas horas? Não! Não! Não!
Fiquei de pé e o movimento foi tão rápido que eu quase caí. Para minha surpresa, então, me deparei com o Nando na frente do quiosque, abrindo a carteira e pagando as duas garrafinhas de água. Depois, ele se virou e veio na minha direção, com aquele andar arrastado. Discretamente, enxuguei minhas lágrimas, amaldiçoando a mim mesma por ser tão emotiva. À medida que ele se aproximava, percebi que o Nando me olhava de um jeito estranho. Fiquei constrangida e fingi que arrumava o cabelo.
Quando ele me entregou a garrafinha, perguntou, casualmente:
- Achou que eu fosse fugir?
- Não – respondi, fingindo observar o mar.
Fernando ficou em silêncio por alguns segundos, parado do meu lado, mas sem me encostar. A presença dele era como um circuito elétrico percorrendo meu corpo.
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