A Despedida
Ela estava deitada em meio as sombras das grandes árvores que rodeavam a velha casa de madeira. Com olhos tristes, apáticos. Apenas olhando para os campos que findavam no horizonte. Procurando no pôr-do-sol, algo que a fizesse sentir-se feliz. Havia ao seu lado, um balanço de pneu -também velho, que ia e vinha com o vento, assim como seus cabelos brancos, tão brancos como algodão. Via seu passado todas as tardes. Naquele velho balanço, naquela velha casa.
Vez por outra deixava lágrimas escaparem de seus pequenos olhos. Mesmo assim, não perdia o sorriso no canto da boca. Lembrar aqueles olhos verdes, o qual amara toda sua vida, era sentir a presença dele novamente. Olhos que jamais veria, apenas em seus sonhos. Olhos tais, que já partiram. Esperava somente, encontrá-lo no pôr-do-sol, todos os fins de tarde, deitada nas sombras das árvores..
Não muito distante daqueles cabelos brancos, jazia um pinheiro alto, bem velho; uma mesa de madeira, também velha. Ambos marcados pelos Natais, lanches de primavera e festas juninas em família. Tudo tão antigo, mas cheio de amor e lembranças. Sensações passadas, porém tão frescas ela conseguia sentir.
Seus filhos e parceiros estavam conversando na parte de trás da velha casa, enquanto seus netos corriam atrás dos cães em volta da mesma. Tudo acontecia perfeitamente -plenamente.
Ao longe, avistou um homem adentrando seu pequeno sítio. Tão sereno. Cabelos brancos lisos que se bagunçavam com o vento. Ela não pôde conter sua felicidade. Lágrimas desciam o seu rosto marcado pela idade; marcado de coisas boas: amor, alegria, sabedoria. Os olhos verdes. Aqueles, tão esperados, vieram ao seu encontro. Vieram buscá-la. Ambos sorriam, sorriam com os olhos. Sorriso aquele, que fez esse amor perdurar toda uma vida serena e plena, um ao lado do outro. Cavalheiro, estendeu-a a sua mão para que a mesma pudesse levantar sem mais esforços. O abraço foi tão longo, envolto de amor e saudade. Envolto de lágrimas de felicidade. Abraçados, o longo vestido claro e leve que ela usara, dançava no ritmo do vento. Ele pegou suas mãos, e beijou-as calorosamente; aquelas mãos agora enrugadas, porém, estavam igualmente lindas, desde o dia em que aqueles lindos olhos verdes partiram.
-Esperei por esse momento todos os dias da minha vida!
-Eu também minha querida, eu também!- disse ele, emocionado com a sua bela.
Foi tudo o que disseram. Afinal, teriam a eternidade para conversarem e se amarem. O amor pertencia-lhes.
De mãos dadas, andaram em direção à entrada do sítio. Tudo, estava deixando para trás: seus filhos, seus netos, sua vida. Olhou por um momento para onde as crianças corriam, avistou seus netos brincando. Um deles, que segurava um filhote de cachorro, não parava de olhar para o portão do sítio. Então, sua avó e seu avô acenaram, e ele em resposta acenou também. Sorrindo. Os três.
A criança indagou: -Mamãe! Eu vi a vovó me dando tchau! -sorrindo a criança disse: -Ela estava tão linda!
Sua mãe não entendeu e disse-lhe: -Meu filho, sua avó está sentada na sombra das árvores, como de costume -apontou para a árvore onde o corpo dela se encontrara.
-Não mamãe! Ela acabou de sair pelo portão! -disse o pequeno apontando para onde vira a vó. A mãe abraçando seu filho, olhou para os cabelos brancos na árvore, voando. Viu sua mãe tão serena, tão velhinha, sentada no mesmo lugar de sempre. Fitou o rosto, e percebeu então, os olhos fechados. Ela partira, porém cheia de paz. No canto de sua boca havia um pequeno sorriso.
-Mamãe, é verdade... Ela e o vovô mandaram tchau, e saíram juntos pelo portão. -disse a criança desacreditada.
-Eu sei meu filho, eu sei... Eles estão mandando tchau para a mamãe também -disse a mãe entre choros e sorrisos. Sorrindo, a criança abraçou a mãe.
Beijando o rosto de seu filho, e com uma voz choramingona disse: -O vovô veio buscá-la meu querido! A vozinha estava muito cansada já.
Na velha casa de madeira, com o pinheiro velho, a velha mesa e o balanço de pneu, ficaram mãe e filho abraçados por um longo tempo. A criança vendo seus avós ao longe, no pôr do sol; e sua mãe chorando -um choro contido- fingia também ver. Beijava o rosto do filho que sorria, e não se cansava de dizer o quanto a sua vozinha estava bonita.