Num dia verde...
...na cozinha conversavam banalidades
sobre tempo e trabalho, o mar e as ondas,
surfe, viagens e principalmente:
Peixes!
De todos os tipos e sabores,
havia um cardápio variado posto em postas à mesa
ao que parecia, ele queria impressioná-la.
E conseguiu!
Numa verdadeira overdose
de ômega três e testosterona pura...
Os olhos dela praticamente pararam de piscar
encantados pelas íris esverdeadas que para ela eram
duas jóias, esmeraldas de beleza rara...
De repente num bater de cílios
a coitada já não era mais dona de si
e tudo que a princípio era banal
passou a ter a mais valiosa importância,
desde que saíssem daqueles lábios de odor tão doce.
Por de baixo da mesa encostava o joelho na coxa dela
como um gato roçando e mostrando que é dono de alguém.
Fitando-lhe o olhar perguntou-lhe se ainda iria embora?
Mas ir embora de onde? Ela se questionava em silêncio.
Dali da mesa? Da cozinha? Da casa? Do alcance dos seus olhos? Da sua vida?
Quaisquer uma que fosse a resposta, doeria-lhe profundamente.
Ela já o pertencia.
Ciente disso, ele levantou-se da mesa,
foi para a sala, deitar-se numa rede,
ligou um aparelho de som,
e pediu-lhe para que nunca mais o deixasse.
Ela atônita como se estivesse sonhando acordada,
não distinguia delírio e realidade.
Completamente desnorteada, sem razão nem chão.
Ele, sem perder um momento seu foco,
levou-a para o quarto e, na cama, acorrentou-lhe para sempre o coração.
Era um dia verde, como os olhos da paixão...
Sobre esta paixão ela rabiscou em seu diário:
...e me vi nua num vazio enigmático
cheio de porquês e murmúrias
Desci ao inferno quando pisei no chão
e percebi que você ficaria mais distante...
Corri, chorei, menti pra mim mesma e subi; aqui estou e fico;
por pura necessidade de prosseguir te amando...
Deixasse o quarto adornado por teus signos;
nos lençóis teu cheiro d'ouro esverdeado;
e em meus lábios o saudoso sabor de viver mais.
Num dia verde (Hélder Nóbrega)