TÂMARA - A FORÇA DO AMOR

Faltavam poucos minutos para Tâmara sair, mas lá fora um carro buzinava insistentemente. Da janela do primeiro andar ela acenou pedindo para aguardar, já que dava os últimos retoques na maquiagem. Precisava estar linda e elegante numa cerimônia tão importante: um casamento. Pedro, seu amigo de faculdade, teve que esperar, apesar de apressado.

Olhou-se no espelho, ajeitou o cabelo e deu um sorriso radiante. Enfim, estava pronta. Sairia agora para prestigiar o casamento de sua melhor amiga, Shirley, que morava no mesmo bairro. Estudaram juntas numa escola particular, tinham um bom relacionamento e nada impedia que essa amizade se prolongasse.

Já dentro do carro, sorrindo para Pedro, disse da grande alegria de participar desse casamento tão esperado, apesar de não conhecer o noivo. Shirley era um pouco misteriosa e recentemente desmanchara um namoro de vários anos, ficando por certo tempo curtindo essa desilusão. Pouco tempo depois anunciou para Tâmara que conhecera um rapaz, muito simpático, iniciando aí uma relação que terminou em namoro. Fez segredo para Tâmara, alegando que ela o conheceria no dia do casamento, o que realmente iria acontecer dentro de poucos minutos. A curiosidade deixou-a um tanto perturbada, mas aceitou o desejo da amiga. Conheceria durante a cerimônia o tão falado noivo de Shirley.

Entrou na igreja já pensativa, mas esboçou um sorriso alegre, cumprimentando as pessoas presentes. No altar estava o noivo, sorridente, aguardando a chegada da sua noiva. Seu olhar e o de Tâmara se cruzaram e um ar de inquietação tomou conta de ambos. Não restava dúvida, Tâmara conhecia muito bem aquele homem que estava prestes a dar um “sim” para sua amiga Shirley. Visivelmente abalada deixou cair duas lágrimas e um semblante de tristeza se instalou nela. Levantou-se calmamente e se dirigiu para a saída da igreja. Pedro, que estava ao seu lado, nada compreendeu. Só tentou fazê-la voltar, mas em vão. Tâmara saiu já chorando, tomou um táxi e se dirigiu para casa. No quarto, aos prantos, ficou por determinado tempo.

Na igreja o casamento estava para ter início. O padre já se preparava para o evento, momento em que a noiva já percorria o caminho do altar, ao som da marcha nupcial. A alegria estava estampada no rosto de Shirley, que de nada suspeitava. Sabia que seu noivo, Gustavo, tinha namorado uma moça da cidade, rompeu com ela, porém nunca declinou seu nome. Pedira até que esquecesse esse fato.

Em casa, Tâmara sofria calada, rios de lágrimas desciam pelas suas faces, fazendo-a lembrar os doces momentos de amor ao lado de Gustavo, que a amava e prometera só com ela se casar. Porém, devido a conflitos entre os dois, o relacionamento terminou e ele fora para bem longe, dizendo que sempre a amaria. O tempo passou e Tâmara acabou esquecendo esse amor, que agora aflorou com toda a força. Ela não sabia então o que fazer.

O padre começou a cerimônia. Gustavo e Shirley estavam juntos, prontos para o casório, mas o ar estranho dele fez o religioso questionar sobre o que estava acontecendo. Gustavo então caiu em prantos e assumiu publicamente que não queria mais casar, o que surpreendeu tanto Shirley como todos os convidados. Sem dar explicações saiu da igreja cobrindo o rosto, deixando sua noiva também aos prantos. A cerimônia foi cancelada e as pessoas presentes começaram a se retirar do templo.

Talvez movida por um sexto sentido, já tendo trocado de roupa, Tâmara saiu de casa, dirigindo-se para a igreja, onde esperava presenciar a cena feliz do seu ex com a sua melhor amiga. Uma surpresa aguardava ela no trajeto para o local, quando Gustavo vindo em sua direção, sem nada pronunciar, abraçou a ex-namorada, sendo correspondido pela mesma, chorando ambos em plena via pública.

Shirley era amparada por familiares e amigos, sendo conduzida para sua residência. Essa grande decepção a deixou bastante abalada, os motivos não foram esclarecidos e Shirley se limitou apenas a se trancar no seu quarto e chorar até a última gota de lágrima.

Na rua, bastante arrependido, Gustavo implorou o amor de Tâmara, pedindo para que se casasse com ele. Ainda tomada de grande surpresa, ela disse que iriam conversar, mas que o amava muito também e que a sua aparição repentina deixou entre ela e a sua amiga uma situação constrangedora e que fatalmente iria esbarrar numa quebra de amizade que teria que sustentar. Afinal o amor é uma coisa, às vezes, difícil de ser compreendida e que só os dois amantes saberão que caminho deverão percorrer.

Passaram-se alguns meses e Tâmara e Gustavo assumiram o romance na maior tranqüilidade. O mundo para eles se transformou, foi como se um novo tempo vigorasse, imaginaram que nada havia acontecido de anormal e o casamento fora enfim marcado.

Shirley, já recuperada da humilhação que passou diante da sociedade, procurou viver uma vida mais isolada, freqüentando apenas a faculdade junto com Carlos, que lhe deu a maior força e a confortou nos momentos difíceis. Nunca mais vira Tâmara, apesar de estudarem na mesma faculdade, pois mudara de horário para evitar o confronto. Pedro, amigo de Tâmara, também amigo de Shirley, ficou numa situação um tanto complicada, pois não queria criticar nem uma nem outra, nem tampouco levar informações para ambas. Nutriu um ódio tremendo da então ex- amiga ao saber dos detalhes que destruíram seu casamento com Gustavo.

Afinal chegou uma data tão esperada, tão desejada por Tâmara e Gustavo. Um casamento que unirá os dois para sempre. Não naquela igreja, palco de decepções, tanto para Tâmara quanto para Shirley. Escolheram uma igrejinha simples, um pouco mais longe, para evitarem o assédio de algumas pessoas que apoiaram o outro lado da situação, também para que tudo transcorresse na paz, na tranqüilidade. E assim aconteceu.

Os anos se passaram e Tâmara formou-se em Arquitetura, tendo conseguido um bom emprego numa empresa de grande porte. Ao lado do marido Gustavo foram morar em outro estado, vivendo ambos na maior tranqüilidade conjugal, trabalhando e almejando terem filhos em breve.

Um certo dia Tâmara foi convidada por um engenheiro da Prefeitura da cidade para fazer um trabalho de arquitetura, para que uma grande praça tivesse uma urbanística que impressionasse os visitantes. O trabalho foi aceito e o contrato firmado. Após a execução do serviço, Tâmara se dirigiu ao Departamento Financeiro da Prefeitura para receber o cheque no valor acordado. Quem lhe entregou o cheque surpresa e ainda guardando um pouco de ressentimento? Shirley. O destino as uniu para que as mágoas fossem esquecidas, para que os sentimentos melhorassem, para que tivessem a oportunidade de ouvirem explicações uma da outra. Shirley já estava casada, formada em Engenharia Civil e conseguira um alto cargo na Prefeitura dessa cidade. Algumas lágrimas rolaram de ambas as faces, u’a mão afagou a outra rival, agora com o perdão mútuo. O destino é assim, nos coloca em situações difíceis, nos prega peças, porém o mais importante é compreendermos que o verdadeiro amor não sucumbe e talvez tenha sido melhor para Shirley, que encontrou uma pessoa capaz de fazê-la feliz, uma felicidade que reina na vida de Tâmara também.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 25/08/2012
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