Banho de chuva

Depois de mais uma jornada de trabalho e outras duas horas extras na New, em minha mente não havia outras aspirações que um banho extremamente quente e depois uma imersão no meio dos cobertores, um filminho na TV e uma xícara de chá de maçã. Entretanto as cobertas e o filme teriam que esperar. Este seria mais um final de semana abarrotado de trabalho me esperava.

Tomei o elevador e logo que cheguei à portaria, e para a minha desagradável surpresa, vi que o mundo desabava em águas. O meu carro estava numa das últimas vagas do estacionamento – a mais de cem metros dali – e com certeza eu ficaria toda encharcada d’água e um resfriado seria inevitável nessas condições.

Tentei conseguir um guarda-chuva com o porteiro. Em vão. Então tive que sair em disparada, correndo o máximo que pude sob a água gelada. O vento parecia que ia corta-me a pele, tornando tudo ainda mais terrível. Cheguei até o meu Audi preto e me desesperei por não ter as chaves nas mãos. Suspirei. Larguei as pastas que eu tinha sobre o teto do veículo e tateei o interior da minha bolsa a procura da chave.

Achei!

No interior do veículo tudo estava um pouco mais agradável – ou menos desagradável. Dei a partida, mas ainda antes de arrancar percebi que faltava algo. Pensei um pouco.

- As pastas!

Abri a janela do carro, levantei-me um pouco e lancei a mão afora. Logo as encontrei. Peguei-as e joguei-as no banco do carona. Engatei a primeira marcha e saí em disparada. As ruas de Porto Alegre estavam – como de costume toda vez que chovia – intransitáveis, tanto para os carros, com alguns galhos de árvores trancando as pistas e semáforos estragados, quanto para pedestres e a luta para atravessar os rios que se formavam às beiras das calçadas.

Pisei fundo no acelerador. Meti 60 quilômetros por hora. Não via a hora de chegar em casa e me livrar daquela sensação desagradável e insalubre. De repente, o sinal muda de verde para vermelho. Pisei fundo no freio. A inércia me lançou para frente, mas fui segurada pelo cinto de segurança.

Ufa!

Após uma inspiração e uma expiração lenta para acalmar os ânimos, percebi que havia alguém batendo no vidro.

Apertei o botãozinho e o vidro baixou.

- Quem pensa que é para ficar dando banho nos outros!? – Um homem com um guarda-chuva na mão discutia comigo. E então percebi as maiores conseqüências de minha freada.

- Me desculpe, eu... – fui interrompida por buzinas insistentes. Olhei o semáforo e vi que já tinha voltado ao verde. Sem titubear e morrendo de vergonha, ordenei ao sujeito – Entre. Já conversamos.

E assim eu conheci o cara mais fantástico do mundo. Do meu mundo.

Jhonny G B Andrews
Enviado por Jhonny G B Andrews em 23/08/2012
Código do texto: T3844397
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