...Amor à primeira vista!
 
     Era o ano de 2001 quando  recebeu a primeira carta dele. Nela, ele, continuava a falar sobre sua vida, sua família, das dificuldades enfrentadas, dos trabalhos desenvolvidos, das lições aprendidas e extraídas da vida e dos dias que se seguiram depois daquela viagem.
     Ela se encantou com aquele homem e com a sua história de vida ou parte dela vez que sabia não ser possível contar toda uma vida numa viagem de ônibus, ainda que o trajeto tivesse durado 48 horas.
     A viagem terminou, para ela, numa cidadezinha do interior do segundo estado que aquela linha de ônibus fazia até chegar ao próximo estado.  Para ele, não terminava ali. Seguiria o seu destino, bem mais distante, para chegar ao quarto estado naquele imenso país.
     Trocaram endereço. Era o que restará daqueles dois dias tão longos, porém tão vibrantes e cheios de conversas proveitosas, de ‘confissões reveladoras’ e verdadeiramente sentidas.
     “Houve cumplicidade entre eles. E se nada mais restasse daquele ‘acaso’ - que de vez em quando a vida presenteia certas pessoas - já teria valido para ela aqueles dois dias”. Assim pensava ela enquanto os dias iam se distanciando daquela viagem.
  
     Já haviam transcorrido 45 dias quando ela recebeu a primeira carta dele. E bastou a primeira para que nos meses que se seguiram escrevessem cartas e mais cartas e aos poucos os capítulos de suas vidas iam sendo revelados em detalhes conforme desejassem. Nada de ficar preso ao texto da carta anterior; nada de esperar pela próxima carta; escreveria sempre que desejasse e a saudade aumentasse! Pensavam e agiam, ambos, como se fosse um pacto, secreto, tão secreto que nem mesmo eles imaginavam ter tido os mesmos pensamentos.
      E, seguiu-se o ano de 2001, 2002, iniciava o ano de 2003 e aquele encantamento insistia em ficar dentro dela, embora nunca houvesse revelado a ele. Como isto seria possível? Ela se perguntava e sorria enquanto seguia a sua vida.  Porém, não sofria por não saber se era ou não correspondida naquele ‘encantamento’ uma vez que a resposta já estava ali dentro dela, ainda que já estivessem no meio do ano de 2003. Desde 2001 a resposta era simples e ela sabia de cor: Foi ‘amor à primeira vista’!
      “E nesta espécie de amor a gente ama a pessoa e ela te basta. Neste amor a gente ama o SER humano.
O que importa é o que ele 
É e possa SER ou não SER! E não e nunca o que ele possa TER ou não TER. Neste amor não há interesse material, não há divergência social ou cultural; não há diplomas, no mundo, que possam refreá-lo ou impedi-lo; Neste amor a gente ama o SER humano com o qual se encantou DESDE A PRIMEIRA VISTA”.  Assim, dizia ela, a si mesma.
     Em outras ocasiões ela refletia: “Esse amor quando acontece na adolescência pode ser ‘perigoso’ pois geralmente os ‘enamorados á primeira vista’ não estão amadurecidos o suficiente para vivê-lo e para arcar com as consequências naturais (e muitas vezes difíceis demais) que advém de todo e qualquer relacionamento. Mas, quando ele (amor á primeira vista) acontece na fase adulta, na maturidade da vida, ele é puro contentamento, alegria, discernimento, paixão e complemento”; E nesta conclusão, ela suspirava e sonhava com a possibilidade de viver aquele amor.
     E novamente idealizava em pensamentos: “E quando correspondido - por aquele que foi amado á primeira vista - os dois se tornam as metades que se completam e se identificam; Eles se reconhecem através: dos gostos em comum, de ideologias de vida que buscam e desejam compartilhar com o outro, das afinidades domésticas, dos dons que geralmente ambos têm em comum, etc“.
     “É o tipo de amor que se importa com o bem estar do outro e quer vê-lo feliz, quer estar sempre junto e ou próximo da pessoa amada, ainda que possa ter tido desavenças, brigas, discussões fundadas ou infundadas; Quem assim ama quer sempre voltar para casa porque sabe que lá é o lugar onde é feliz por estar ao lado da pessoa amada.”
E assim os anos foram passando e ela continuava a refletir em torno daquele amor:

     “Essa espécie de amor (amor á primeira vista) não disputa espaço, não disputa qualidades, não disputa de quem é a última palavra, pois falam a mesma linguagem e ou sabem ceder”. 
     “É o tipo de amor que não sente inveja das qualidades da outra pessoa, mas antes admira tudo o que o outro possa ser, ou fazer, ou ter a mais do que a si mesmo”.
     “É o tipo de amor que confia no outro, ainda que possam estar a quilômetros de distância, pois sabe que é amado tanto quanto ama a si próprio e ao outro”. 
De vez em quando, ela quase se animava a revelar aquele sentimento, mas dizia a si mesma:
- Talvez na próxima carta!

     Depois sempre desistia, embora continuasse a pensar que: “Este amor não julga, não acusa, não deduz por si próprio. Antes e sempre ele sabe esperar para ouvir o que o outro tem a dizer. E mesmo que não seja possível saber o que o outro irá dizer ou explicar, ou não desejar explicar naquele momento, a pessoa que sente esse amor tem certeza que o seu maior desejo continua sendo a vontade de ver, abraçar, sentir,  ouvir e talvez falar, se puder ajudar; ou se e quando necessário perdoar e sentir que perdoou antes mesmo de qualquer explicação. Pois, quem assim ama já aprendeu que ninguém é perfeito, que obstáculos existem e sempre vão existir e que apesar deles, ambos estão e estarão juntos para superá-los ou suportá-los”. 
     E, quando ela pensava que já havia esgotado todos os argumentos em seu pensamento nascia mais um a justificar aquele sentimento tão intenso:
     “Mas, acima de tudo, as pessoas que se amam á primeira vista, na maturidade, sabem que a vida não teria nenhum sentido se tivessem que viver longe da pessoa que tanto se ama. E, por terem essa certeza esse amor se rende ao imprevisível, ao incerto, ao inacabado, aos mistérios inexplicáveis aos olhos humanos porque sabe, crê e sente, com verdade e tamanha intensidade, que esse é o amor que se deve buscar. E, por essa razão, já se sente abençoado (a) por tê-lo sentido, e ou encontrado, ainda que não seja possível vivê-lo como foi ou é desejado”!
     “Para um leitor comum, que lesse sem sequência aquelas cartas, não seria possível perceber que aquele ser tão belo, tão humano, tão sensível tinha algo ‘diferente’ dos poucos que ela permitiu dela se aproximar”! Assim pensava ela quando de repente toca a campainha que lhe provoca um gritinho de susto vez que estava absorta naqueles pensamentos e naquele sentimento que lhe causava tanto prazer. Foi atender a porta!  Era o carteiro. Seu íntimo sorriu e estendeu a mão para receber a correspondência quando o carteiro lhe entrega um envelope grande, pesado, muito bem lacrado e transparente.
Ela pergunta assustada:
 - O que é isto?
Ele responde com outra pergunta:
- Bem, a senhorita chama-se Elizabeth?
 Ela responde:
- Sim.
Então... Respondeu-lhe o carteiro:
- São as cartas que a senhorita escreveu para este destinatário – apontando o dedo sobre o nome, contido no envelope superior, escrito com a caligrafia dela – que estão sendo devolvidas.  
 E naquele envelope transparente ainda constava uma etiqueta que dizia: endereço incerto e não sabido.
 
 
Liliane Prado
               (Exercício literário)


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Liliane Prado
Enviado por Liliane Prado em 22/08/2012
Reeditado em 02/09/2012
Código do texto: T3844022
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