Paixão idiota.
July vestia um belo vestido rosa, que deixava à mostra as curvas de uma menina prestes a tornar-se mulher. Ajeitara o cabelo com uma fivela prateada e usava pequenos brincos de pérola negra. Pronto. Quando acabara de se arrumar foi para a casa de sua amiga, June, de onde sairiam para um aniversário de um amigo em comum. Fazia um certo tempo que July não se permitia sair de casa para festinhas do tipo, estava enfadada da repetição dos assuntos e da ausência de conteúdo que a agradava em épocas passadas.
Ao chegar no aniversário, July logo avistou o que havia sido uma grande paixão platônica dos tempos de escola. Como toda paixão platônica, ela não esperava nenhuma resposta positiva dele, mas ainda assim criava dias felizes que só existiriam em sua mente. Ele trajava uma camisa branca, - acertara em cheio mais uma vez, porque ela amava camisa branca. Apesar de que tratando-se dele poderia ser verde, azul, amarelo, multicolorida que fosse, ficaria lindo- calças jeans e um tênis impecavelmente branco - uma das coisas que a fazia suspirar profundamente como se aprovando aquele detalhe cuidadoso. Usava barba. Ela nunca havia o visto de barba. Não estava estranho, mas isso tornava ainda mais atraente a ideia de tê-lo somente por uma noite, a barba arranhando sua pele com perfeita delicadeza. Apenas sonhos.
Eles se falaram muito rapidamente. Nenhum assunto em comum, nenhum questionamentos sobre a nova vida universitária, nada. Nenhuma troca de olhares. Mas nada disse ela esperara, já havia passado tempo e a esperança já havia se esvaído. Depois do aniversário, July, June, Ele e mais alguns amigos resolveram passar em uma outra festa. Ele fora dirigindo. O simples bater de suas delicadas mãos, com as unhas cortadas com exatidão, no volante do carro foi o suficiente para impedi-la de piscar. Não teve jeito, ela lembrou-se naquele instante o motivo daquela adoração toda. Cada movimento seu era tão bem articulado, calmo, sereno e preciso. Idiota, xingou-se.
Ao chegarem no destino desejado, July voltou ao mundo real após perceber que o carro já estava estacionado e todos desciam. Sentia-se um pouco deslocada naquele lugar. Não havia bebido nada ainda e só tinha mais proximidade unicamente com June.
Dessa vez, ela notou, ele estava olhando-a com os olhos um pouco travessos juntamente com um pequeno sorriso nos lábios. Ela olhava e desconfiava de seus próprios sentidos. Ele nunca a havia notado antes e não seria hoje O grande dia. Algumas pessoas que estavam a sua volta afastaram-se, possibilitando que ele chegasse um pouco mais perto, sua camisa branca sendo alvo de reflexões das cores do globo de luzes da boate. Será, ela mal teve tempo de murmurar e ele já estava com os braços rodeando em sua cintura e os lábios chegando mais perto e mais perto. July sentiu o contato entre as duas bocas, quentes e úmidas de desejo. Finalmente, pensou.
Ao abrir os olhos ao término do delicioso beijo, ela teve uma leve surpresa. O menino trajava sim, uma camisa branca. Tinha o olhar travesso. O lindo sorriso. Detalhe básico: não era ele. Mas ele estava perto dos dois e cumprimentos com um desleixado aperto de mão o outro rapaz. Vocês se conhecem? Ela perguntou para o menino que a havia beijado, quase que sem pensar. Estudavam juntos. Que mundo pequeno. E eles tornaram a se beijar. Não era ele, mas era alguém pelo menos. E ela ainda torcia, bem lá no fundo, que ele se sentisse um pouco incomodado e quem sabe até com uma leve inveja do colega de turma.
Idiota, xingou-se. Velho e corriqueiro hábito da menina.