*História de Vida3-A Caminho da Felicidade.*

Pétala de rosa... Folha de laranjeira... Flor de lótus... Por do sol... Arco-íris... Jardins Suspensos da Babilônia... Aurora boreal.

Estou buscando algo para comparar com a beleza que se transformou o meu viver, ao conquistar o seu amor.

Tão simples, tão humilde e tão recatada... A forma antiquada de se vestir, com os cabelos presos e a maquiagem quase imperceptível... Sua voz baixa e suave forçava-nos a prestar atenção para podermos ouvi-la... Foi assim que passei a te analisar.

As roupas largas escondiam as suas formas... Seus cabelos presos com tiara ou elástico tiravam um pouco do charme... Não sei se fazia de propósito ou pela falta de interesse em demonstrar a beleza do seu ser. Talvez a timidez lhe coibisse expor o quão benevolente a natureza havia sido contigo.

Na firma em que trabalhávamos, eu era chamado de conquistador, de garanhão, de aproveitador, de vários adjetivos a que se dá, para um homem desquitado, gozando a vida, sem se preocupar com compromissos.

Antes de chegar a este ponto, eu sei o quanto penei.

Duas escolhas erradas... Dois casamentos tensos, envoltos em brigas e discordâncias... Dois períodos catastróficos em meu viver... Nunca imaginei e nem desejei receber e nem dar desprezo... Nunca pensei em ter que ser cruel para rebater a ruindade das mulheres que dividiram a cama comigo... Que disparate, levar o inimigo para dentro da minha casa.

Foram anos de brigas e processos jurídicos... Anos jogados ao léu... Guardo feridas profundas que aos poucos vão cicatrizando... Dividia minha alegria e recebia punhalada... Dividia o meu querer e retornava o desprezo... Dava carinho e como premio, vinha a ausência... Eu não lutei para crescer, lutei para não ser destruído.

Agora deixava a vida acontecer... Não queria me prender a ninguém.

Nestes quatro anos que trabalhamos juntos, não me senti atraído por sua pessoa... Você não era sensual, não mostrava entusiasmo para festas ou para as baladas das amigas... Delicadamente recusava as poucas investidas que surgiram.

As únicas sensações que eu sentia quando estava ao seu lado, era de paz e tranquilidade, nada mais... Até mesmo o seu senso de humor era comedido, pois, nunca escutei uma gargalhada vinda de você.

O escritório sofreu uma reforma e sei que ganhou uma mesa com cadeira, além de uma grande prateleira azul... Cogitava em como levar e me ofereci para ajuda-la... Tenho um Pick-up com carroceria estendida e seria uma simples gentileza. No final do expediente, o office boy e o zelador nos ajudou a acomodar tudo no carro... Paramos na garagem da sua casa e saíram duas meninas e dois meninos entre doze e quinze anos.

Alegres e curiosos correram e abraçaram a irmã e sorriram para mim... Todos queriam ajudar.

- Ebbbaaa, uma escrivaninha legal para podermos estudar!

A casa simples, ainda em construção, porém, bem espaçosa... Espaçosa demais, devido à falta de móveis e utensílios... Observei tudo isto calado.

Foi complicado conseguirmos levar até a sala destinada, com as crianças brincando mais que carregando e os risos enchiam o ambiente... Ao invés de ficar nervoso, comecei a rir com a palhaçada que eles faziam... Tudo é motivo de diversão quando se trata de crianças e assim foi... Tropeçava de lá, todos riam, tropeçava de cá, todo mundo gargalhava... Parecia que estávamos fazendo uma festa.

Ao final, tudo em seus devidos lugares, Meire me chamou para tomar café... O cheiro de um bolo assando misturava-se com o aroma do café coando... Aceitei e sentei-me a mesa.

Dona Sonia, Mãe de Meire retirava do forno uma forma fumegante... As crianças eufóricas rodeando o fogão... Meire querendo afastá-los para não se queimar nas coisas quentes, sem sucesso... Todos eles queriam enfiar o dedo no bolo e a Mãe dava-lhes tapas nas mãos... Eu ria a solto, era pitoresco presenciar o entrosamento familiar.

Dona Sonia limpa a mão no avental e a estende em minha direção se apresentando.

- Como vai meu jovem? É um prazer conhece-lo, sou a Sonia, Mãe de Meire.

- Mãe, este é o Fabiano, trabalha comigo e fez a gentileza de trazer os móveis que ganhei da firma... E sofreu um bocado para conseguir colocar aqui dentro... André e Paulo ficaram bagunçando e a senhora precisava ver que sufoco, não é mesmo André?

Falou isto fazendo cara enfezada para o André.

- Que isso mana? Se não fosse a minha força de leão, aquela prateleira estaria lá fora até agora... Não é mesmo Seu Fabiano?

Olhei para Meire, depois para Dona Sonia e não consegui conter a risada...

- Claro que foi... Se não fosse o Rambo para nos ajudar, estaríamos sofrendo até agora... Vai André, mostra o muque aí, mostra?

Ele dobrou aquele bracinho fino de um menino de doze anos, como se fosse um halterofilista... Todos eles começaram a fazer a mesma coisa... Fazia muito tempo que não prestava atenção nestas atitudes displicentes e infantis... Eu mesmo me peguei mostrando o meu muque... Eles apertaram e me chamaram de fraquinho e coisas assim.

Eu ria sem parar... Estava divertidíssimo aquele ambiente tão descontraído.

Tomei o café com um delicioso pedaço de bolo de cenoura, conversei um pouquinho e levantei-me para seguir o meu caminho... Todos me acompanharam até o portão, correndo, pulando e depois acenando enquanto eu tirava o carro e seguia o meu rumo.

Apesar de eu só ter quarenta anos, não tinha mais os Meus Pais... Eles se foram muito cedo... Eu havia me mudado para a capital, deixando somente uma tia distante que não era muito carinhosa... Perdi aquilo que é chamado de vínculo familiar... Acostumei-me a ser só e quando quis constituir uma família, me dei mal.

Um mês depois, no começo de dezembro, Meire disse que a Mãe iria fazer outro bolo de cenoura e que eu estava convidado para um café... Ela ao transmitir o recado, estava com o rosto vermelho, como se estivesse fazendo um esforço descomunal para esconder a timidez.

- Ganhou mais alguma coisa? Tem que levar algo?

- Não! Não tem nada para levar, é somente a sua companhia. Vai estar tranquilo este sábado ou ocupado demais?

- Puxa, me desculpe sim? A minha pergunta foi instintiva, não fiz por mal... Eu adoraria ir, mas, você me permitiria levar refrigerantes? Se não houver algum mal eu contribuir de alguma forma.

- As crianças irão gostar... Sentindo-se bem, será bem vindo... Que tal às quinze horas? Fica bom para você?

- Combinado, diga a Dona Sonia que aceitei o convite com o maior prazer.

Ela sorriu docemente e foi continuar com suas tarefas.

Passei no Supermercado comprando uma embalagem com seis pets de Coca-Cola e juntei algumas bolachas e dois pacotes de bis... Ao aproximar da casa, comecei a ficar inquieto afinal, o que pensariam? Tive medo que interpretassem de forma errada a minha atitude, mas, agora já estava feito, vamos ver o que iria acontecer.

Quando parei o carro, as crianças já vieram correndo em minha direção... Pedi para chamarem a Meire e antes de tirar as compras de dentro, argumentei sobre o que tinha feito.

Ela rindo, disse que só estaria trazendo alegria para as crianças... Não tinha problema algum, afinal, crianças são sempre crianças.

Abri a porta do carro e chamei André e Paulo e Cristina e Cristiane vieram de curiosas... Pelos gritos de alegria, vi que havia acertado na compra.

As crianças foram correndo levando os pacotes e colocando em cima da mesa... Dona Sonia abriu um sorriso enorme e me cumprimentou com um abraço gostoso... Meire a distância ria com a festa que as crianças faziam.

Pronto... Brigas... Dona Sonia dava tapas nas mãos de todos que queriam abrir os pacotes de bolachas e bis, além de uma Coca-Cola que já estava sem tampa... Era bronca para todo lado e correria, pois, Dona Sonia dava puxões de orelha... Tudo feito de mentirinha e fiquei me divertindo com a bagunça que se formou.

- Espera! Espera gente. Vocês já agradeceram ao Sr. Fabiano pelo carinho de ter trazido estas guloseimas? Vocês foram educados? Aposto que não! Você agradeceu Paulo?

- Xiiiiii, esqueci... – Sr. Fabiano, muito obrigado por tudo viu? Vai turma, agradeça também!

Todos vieram e me estenderam a mão... Crianças dando uma de homenzinhos e mocinhas... Que lindo, adorei.

Todos sentados a mesa... Dona Sonia e Meire serviu porções iguais a todos, inclusive a mim e só depois de terem se sentado, é que todos atacaram o bolo com Coca-Cola e bolachas.

As crianças devoraram, comeram em uma velocidade espantosa, e a complacente Mamãe, cortou mais um pedaço de bolo para cada um e só mais meio copo de refrigerante.

- Meu Deus, vocês parecem umas crianças esfomeadas... Tratem de mastigar seus gulosos.

As broncas corriam soltas, mas, sem aquela força de expressão... As crianças escutavam por um ouvido e soltavam pelo outro e assim foi, até pedirem licença para se levantarem.

Ficaram os adultos sentados... Meire agora me servia um café... Gesticulava com graciosidade, com aquela solicitude de quem tinha pratica na servidão... Observava absorto em meus pensamentos, quando Dona Sonia me surpreendeu com aquele famoso, ram ram.

Mudei a direção do meu olhar, mas, ela havia me pego no flagrante... Enrubesci e disfarcei...

Elogiei o bolo, pois, realmente estava delicioso e falei da turminha alegre que causava todo aquele alvoroço...

É muito gostoso ver tanta saúde e agitação... Sua turma além de muito educadinhos, são animadíssimos... A Senhora precisa ter muito folego para aguentar isto todos os dias não?

- Eu acho que são eles que têm que aguentar a Mamãe... Esta menina crescida faz mais artes que todos eles junto.

Meire falava e ria ao olhar para a Mãe... Harmonia, isso, pura harmonia...

- Olha só quem está falando? Você Meire é quem põe fogo na turma... Você é a mais peralta de todas... Vai... Confessa... Quem é a mais levada da breca... Fala que senão vai ficar de castigo.

Era impossível não se contagiar por aquela alegria inocente... Mesmo dentro de uma vida bem simples, havia riqueza de sentimentos.

Conversamos mais um pouco, assuntos triviais e agradeci pelo carinho do convite... Disse recordar do tempo que Mamãe preparava meus pratos favoritos e meus doces prediletos... Matei um pouco da saudade.

- Quando receber a aposentadoria farei uma feijoada caprichada, você não quer vir saborear?

- Fabiano, se eu fosse você, deixaria tudo no mundo para vir neste dia comer com a gente, mas, se prepare para engordar um cinco quilos, porque, minha Mãe cozinha demais.

- Ai ai ai... A Senhora vai fazer amanhã é? Volto amanhã? Kkkk...

- No domingo que vem ok? Amanhã será somente macarrão, mesmo assim, está convidado... Gostaria de nos dar este prazer?

Respirei fundo... O carinho com que me tratavam, era como se eu fosse um ente querido... Tanta espontaneidade... Eles eram aquilo e não se envergonhavam do pouco que tinham, ao contrário, ainda faziam questão de dividir.

Dei uma desculpa qualquer e disse não poder vir, entretanto, no domingo seguinte, estaria ali desde as oito horas da manhã para não deixar ninguém ocupar o meu lugar.

Elas riram satisfeitas... Todos novamente acompanharam-me até a saída e ficaram acenando em despedida.

No horário de trabalho, Meire mantinha a sua rotina normal... Não ficava conversando, nem mesmo fazia algum comentário sobre a minha visita... Não dava margens para algum comentário malicioso... Era prudente e reservada.

Por incrível que possa parecer, passei a aguardar ansioso o dia da feijoada... Desejei que o relógio do tempo corresse mais depressa.

Na sexta feira, no término do expediente, chamei Meire e lhe perguntei sobre o que eu poderia levar... Disse-lhe me sentir melhor participando.

- Fabiano, Mamãe é muito controlada e acredite, ainda temos Coca-Cola, bolachas, menos o bis...Kkkkk... O chocolate eles detonaram...Kkkkk.

- Vai... Dá uma ideia, me ajuda!

- Bom... Você pediu, então lá vai... Sabe aquela lojinha do outro lado da rua? Eles vendem doces no atacado... Você terá muitas opções e vai gastar menos do que gastou.

Realmente a variedade era enorme... Comprei algumas guloseimas para mim e um monte de caixinhas de doces para eles... Dona Sonia iria ficar louca kkkkk... Eu já imaginava a bagunça que seria com aquele monte de doces... Gastei pouco e estava levando uma diversificação de doces para dar agua na boca... Acabei comprando um fardo de seis pets de tubaína, pois, quando criança, eu adorava.

No domingo, André e Paulo já estavam no meu aguardo e abriram o portão para que eu colocasse o carro na garagem... A turma inteirinha veio juntar-se aos dois... Pelo visto, já aguardavam ansiosos para ver, o que eu iria trazer... Eles deram pulos de alegria ao verem vários pacotes... Eu havia passado na lojinha de $1.99 e trazido bolas, bonecas e outros brinquedinhos simples, além de uns panos de prato e uns potinhos de enfeite.

Dona Sonia chorou... Meire a abraçou e desatou a chorar junto... Cristina e Cristiane abraçaram as pernas da Mãe e o choro se tornou mais alto.

Me perdi... Fiquei parado na porta da cozinha sem saber o que fazer... Eu havia feito algo, mas, não atinava com o que poderia tê-las levado as lagrimas.

- Minhas filhas, parem de chorar... A Mamãe estava cortando cebola e enfiou a mão no olho... Está ardendo muito, por isso estou chorando entendeu?

Elas pararam de chorar na hora... Dona Sonia disfarçou e Meire tratou de se controlar também.

Meire ordenou as crianças que parassem de mexer nos pacotes e mandou que todos fossem brincar no quintal... Dona Sonia me olhava num misto de lagrimas e sorrisos.

- Desculpe-me Fabiano... Eu não esperava tudo isto... Você é muito carinhoso e não estou mais acostumada com estas regalias... O orçamento agora é muito controlado, não permite certos gastos.

- Sou eu quem lhe deve desculpas Dona Sonia, não tinha noção que iria lhe provocar esta emoção... Não estou acostumado a este convívio familiar e o que fiz foi de coração.

- Não se desculpe... Você só trouxe um montão de alegria para as crianças, para Meire e principalmente para mim...

Ela falou isto apontando para a mesa cheia com a compra que eu havia trazido.

As lagrimas deram lugar ao sorriso a partir do momento que começaram a tirar das sacolas, as mercadorias... Quando chegou às sacolas dos potinhos, a expressão de alegria dobrou e quando Dona Sonia viu os panos de prato, parecia ter ganhado na loteria, tal o contentamento em seu semblante.

Meire abriu a sacola onde estavam as bonecas e mostrou-as a Mãe... Tive que aguentar outro festival de choro... As duas abraçadas chorando e chamando as crianças.

Cristiane e Cristina pulavam de alegria... Meu Deus, que festa... Quanta alegria... Paulo e André vieram perguntando se tinha alguma coisa para eles e na hora que viram as bolas, um jogo de damas e dois carrinhos de ferro, a confusão foi generalizada.

Eu havia trazido um pega-varetas, jogo de damas, carrinhos, bonecas e mais alguns joguinhos simples de três e quatro reais... Nunca passou pela minha cabeça que, com tão pouco, iria ver tanta euforia.

Todo mundo partiu pra cima de mim... Eram abraços para tudo que é lado... Todo mundo me abraçando, rindo e me beijando, inclusive os meninos, Meire e Dona Sonia.

Fiquei totalmente encabulado... Emocionado e encabulado aos quarenta anos de idade... Que sensação estranha... Gostosa e estranha... Era uma novidade para mim.

Enfim, chegou a hora do almoço...

Não preciso dizer que passei até mal... A feijoada era algo do outro mundo... Fantástica, deliciosa, maravilhosa... Comi tanto que tive que dar voltas no quarteirão acompanhado da Meire e da turminha... Estava deliciosamente empachado... Havia comido demais e Meire ria da minha gula.

- Eu te avisei... Quem avisa amiga é! Não te avisei que iria engordar cinco quilos? Kkkk.

- Avião! Nossa! Comi demais, que coisa... Eu não esperava que fosse tudo aquilo... Há muito tempo não me esbaldava desta forma... Minha barriga parece que vai explodir...Kkkkk.

Caminhávamos alegres enquanto observava as meninas penteando as bonecas e Paulo e André correndo atrás da bola a cada chute... Na esquina estava um carrinho de sorvete para completar a festa... Todo mundo sentado na calçada chupando picolé... Esqueci a minha idade... Esqueci-me de tudo... Passei a viver aqueles momentos deliciosos sem pensar em nada... Comprei um sorvete de copinho e os meninos saíram correndo para levar para a Mãe.

Acabei ficando até o anoitecer... Jantamos o que havia sobrado do almoço... Não queria que aquele dia terminasse... Não queria mesmo.

Todos me levaram até a saída... Dona Sonia neste dia me deu um abraço especial... A ternura em seu olhar dizia tudo e mais um pouco... O calor puro e sincero invadiu o meu ser... Foi bom, muito bom...

Assim que a Dona Sonia me soltou, as crianças pularam em cima de mim... Eu ria, ria tanto, era impossível aguentar aquela turma de bagunceiro... As meninas não desgrudavam das bonecas e me fez beija-las... Fui obrigado a despedir-me até mesmo das bonecas... Participei tendo atitudes que não esperava... Surpreso com a minha própria infantilidade, talvez, fosse exatamente isto que tornasse tudo, tão especial.

Na semana seguinte no trabalho, Meire mantinha-se com aquela postura profissional... A única coisa diferente foi uma pergunta...

- Qual o seu doce predileto?

- Pavê... Pavê com biscoito champanhe... Respondi instintivamente e a conversa terminou aí.

O Natal estava próximo... Haveria férias coletivas do dia 20 ao dia 05 de janeiro... Uma festa de confraternização foi marcada para o dia 21 e depois disto, o regresso seria no dia cinco do Ano Novo... Haveria amigo secreto e notei que o nome de Meire não constava na lista... Perguntei ao Fabrício o porquê desta exclusão e ele delicadamente disse que;

- Ela disse estar com o salário comprometido e como estipularam cem reais para o presente do amigo secreto, em certos casos, este valor, afeta ao orçamento doméstico não é mesmo?

Eu não padecia deste dilema... Meus Pais haviam me deixado uma casa grande e outras três casinhas de aluguel... Recebia o meu salário, mais quatro aluguéis e os meus gastos eram controlados... As minhas aplicações e caderneta de poupança engordava a cada mês... Para completar, havia recebido uma comissão bem alta referente a alguns contratos firmados com firmas de grande porte.

Dona Sonia tinha cinquenta anos... Meire, a filha mais velha estava com vinte e oito anos e a caçula Cristiane com apenas oito... A rapa do tacho como diziam... Ainda estava no período de gravidez quando o seu marido sofreu um acidente automobilístico fatal... Deixou uma pequena pensão, uma casa inacabada e cinco filhos para terminar de criar.

Fabrício, o gerente geral da firma foi quem me contou a história... Ele quem havia doado aquela escrivaninha e mais algumas coisas... Descobri que a cesta básica que ela recebia como premio todo mês, era na verdade uma atitude benevolente do bom coração de Fabrício... A firma não fornecia cesta básica aos funcionários... Ele a comprava do próprio bolso sem que ninguém soubesse... Meire não faltava e nem se atrasava e usou deste artifício para ajuda-la sem constrangê-la.

O celular toca e era Meire... Meu coração deu pulos de alegria... A aflição deu lugar ao alívio.

Era dia vinte e dois... Eu estaria preparado para passar mais um Natal solitário, se, não tivesse conhecido aquela família... Não conseguia tirá-los do meu pensamento... Não conseguia esquecer a correria e a festança em qualquer besteirinha que fosse... Não conseguia deixar de pensar, o quanto era delicioso estar entre eles... Não conseguia deixar de fora, o rostinho de Meire e seus gestos delicados e a forma tão pitoresca como se dirigia aos irmãos mais novos.

- Olá... Senti sua falta na festa de confraternização... Tudo bem contigo? Como estão todos aí?

- Olááá... Tudo bem... As crianças estão morrendo de saudades de você... E dos seus doces tambéééémm kkkkkk...

- Kkkkkk, quer dizer que eles só se lembram dos doces?

- Nããããooo... Lembram-se de quem traz os doces... rsrsrs.

- Que turminha de interesseiros né?

- Demais... Vai aprendendo para quando tiver os seus filhos... Criança é puro interesse... Mas vou te confessar uma verdade;

- Você conseguiu conquistar a todos nós.

Tremi... A respiração acelerou e o coração disparou... Entendi que conquistei o carinho de todos, mas, senti algo a mais... Como uma doce lufada de bem querer invadisse o meu ser... Não consigo explicar em palavras o quão gostoso foi ouvir tal afirmação.

- Não sei o que dizer... Todos vocês me receberam tão bem... Fico feliz em saber disto.

- Olha Fabiano, você é importante sim, maaaassss... Os doces também viu? Kkkkkk.

- Para Meire... Estou morrendo de rir aqui... Kkkkk... Não precisa ser tão verdadeira assim sabia disto?

- Uai... Eu sempre digo a verdade... Agora falando sério... Mamãe perguntou se vai ter algum dia livre em sua agenda e que dia será este?

- Hummmm, aí tem coisa... Pode me dizer o que é?

- Ela vai preparar uma forma de pavê inteirinha só para você... Pra você passar mal que nem o dia da feijoada... Kkkkkk...

- Uuuhhhuuulllll... Maravilhaaa... Adorei a ideia.

- Meire, me diz uma coisa... Vocês comemoram o Natal?

Silêncio do outro lado da linha... Acho que falei o que não deveria.

- Fabiano, comemoramos a nossa maneira... Algo muito simples mesmo... As crianças vão crescendo e as despesas aumentaram e não podemos nos dar a certos luxos... Compreende o que eu quero dizer?

- Meire, ao invés de falarmos pelo telefone, poderíamos conversar pessoalmente? Você está ocupada ou teria uns minutos livre?

- Tudo bem, pode vir sim, estou tranquila agora.

Parei o carro e desta vez ela aguardava sozinha.

- Se você não achar ruim, preferia que déssemos uma volta para nos falarmos a sós.

- Meire! Vou direto ao assunto... Você é crescidinha e não preciso ficar procurando palavras, pois, sabe que estou fazendo isto por puro carinho, sem interesse algum.

- Fiquei observando e imagino o quanto tem sido difícil para uma jovem como você, lutar tanto em prol dos seus irmãos... Você ergueu as mangas e foi a luta junto a sua Mãe... Lindíssima e louvável a sua atitude... Tenho recordações da minha infância e recordo como se fosse hoje, a luta da minha Mãe lavando roupa para fora e meu Pai saindo assim que o dia amanhecesse e voltando ao escurecer.

- Sonhava com uma bicicleta e já era um rapaz quando a situação financeira começou a firmar em minha casa... As minhas vontades na infância haviam ficado para trás e eu sabia que não foi por falta de esforço dos meus Pais... Eles lutavam dia e noite, mas, só puderam me dar estudo, alimentos e roupas muito simples.

- Alguns brinquedos que eu tive, foram presentes de vizinhos e da firma que Papai trabalhava... Nada caro ou especial, entretanto, guardo boas recordações do quanto me diverti com eles.

- Dei sorte e recebi uma comissão bem gorda este fim de ano, além do décimo terceiro... Por favor... Entenda, é de coração puro que lhe digo isto... Vocês tem me trazido muita paz... Vocês conseguiram fazer com que eu deixasse de remoer as tristezas que ainda trazia comigo dos meus relacionamentos... Eu estava vivendo uma vida de aparência... Meus sorrisos eram superficiais e sem sentido... Meus dias simplesmente começavam e terminavam, sem essência, sem conteúdo!

- Crianças não mentem... Crianças são simples e verdadeiras e você sabe disto melhor do que eu... O que os seus irmãos sentem por mim, mesmo tendo este lado do interesse, existe algo mais... Eles me acham bacana... A maneira deles, mas, sinto em meu coração a amizade que eles têm por mim... Talvez esta inocência toda esteja destruindo o amargor que se tornou o meu viver... Talvez aquela bagunça toda esteja afastando o fantasma da minha tristeza... Eu só sei que vocês me fazem muito bem.

- Você fez por merecer o carinho e a admiração deles... De todos nós... Agora diga exatamente o que quer dizer... Você disse que iria direto ao assunto, mas não foi... Seja mais explícito... Diga... Pode falar.

- Gostaria de pegar você e sua Mãe e irmos para o Brás e para a Rua 25 de março... Você sabe que, com pouco dinheiro, poderíamos trazer muita coisa útil e necessária e então, embrulharíamos para presente... Por exemplo, uma caixa de bís embrulhada de presente para cada um... Tenho certeza que o bís teria um gosto diferente... Teria um gosto de Natal.

- Compraríamos um pacote com meia dúzia de meias para cada um, camisetas e calças jeans... Se embrulhássemos tudo para presente, você sabe o que significaria para eles!

- Fabiano! Não sei o que dizer... Não quero dar a eles mais do que podemos ter... Iremos criar certa expectativa para o próximo Natal e como iremos fazer?

- Diga-lhes que foi um prêmio extra que recebeu... Diga-lhes que alguma coisinha foi eu quem trouxe... Eu não posso prometer que estarei presente no próximo Natal, mas, deixe-os aproveitar esta oportunidade que a vida está lhe oferecendo! Não vai custar nada a vocês receberem este carinho da minha parte... Por favor, permita retribuir um pouco da alegria que vocês estão me dando... Eu não sei outra forma para agradecer o quanto a sua família está me fazendo bem.

- Vamos falar com a sua Mãe... Vamos ouvir a opinião dela ok? Depois vocês duas entram em um acordo e saberei aceitar a decisão de ambas.

Seus olhos brilhavam... Ela sabia que os irmãos e irmãs iriam ficar felicíssimos, mas, como havia dito, tinha o receio de alimentar esperanças e depois desiludi-los.

Dona Sonia me recebeu com esfuziante alegria e quando Meire disse que queríamos conversar sério, ela mandou as crianças se retirarem e nos acomodamos a mesa da cozinha.

Meire escancarou o jogo... Resumiu em poucas palavras a minha oferta e Dona Sonia, surpreendeu-me ao olhar fixamente em meus olhos e perguntar...

- O que você pretende exatamente com a sua atitude? O que espera de nós?

- Espero contar com este carinho que tenho recebido, nem mais nem menos... Só isto... Quero estar com vocês, quero brincar de criança, quero rir como tenho rido... Na verdade, quero continuar a rir, por que a muito tempo deixei de sorrir... Acredite em mim, é só um carinho de coração... O que talvez seja muito para vocês, é algo que não me faz falta... Não vou lhe cobrar, nem exigir nada, a não ser um bolo de cenoura de vez enquando e quem sabe, aquela feijoada destruidora de barrigas.

Dona Sonia viu e sentiu a verdade em minhas palavras... A principio notei o temor e a defensiva... Agora estava relaxada, entretanto, continuava a me estudar... Não lhe fugi o olhar... Olhávamos fixamente um para o outro, até que o sorriso apareceu em seu semblante.

Talvez a vergonha da sua situação tivesse dado lugar à alegria em poder comemorar o Natal novamente.

- Fabiano, sejamos francos! Gosto de trabalhar com a verdade por mais doce ou cruel que seja... Quanto você está pretendendo dispor para fazer o Natal das minhas crianças?

- Quanto a Senhora acha que seria necessário para comemorar este Natal dentro do seu padrão?

- Meire, quanto conseguimos juntar? Quanto tem disponível para este ano?

- Quatrocentos reais... Deixei mais duzentos reais para depositá-lo na poupança.

Meus Deus! Quatrocentos reais para a ceia e os presentes... Quanta injustiça... A distribuição de rendas causa espanto... Recebi dez vezes mais somente em uma comissão... O que será que elas fariam se soubesse que, ganhei dezesseis mil reais em comissões, fora o salário e o décimo terceiro.

- Dona Sonia, eu recebi três comissões além do meu salário... Pensei em usar o prêmio de uma comissão para isto... São mil e duzentos reais... A senhora poderia fazer um boa compra no Supermercado, comprar algumas coisas necessárias para a casa e acho que sobraria ainda uma boa parte para comprarmos roupas e brinquedos, e o que vocês separaram para o Natal, poderia ser depositado para alguma eventualidade não é?

A cara de espanto das duas demonstrou o quanto aquele dinheiro significava.

Eu poderia dispor de cinco mil reais que não fariam a menor diferença, mas, achei por bem não ultrapassar o limite do bom senso.

- Fabiano! Jura que não lhe prejudicará em nada? Você sabe que não irá receber este dinheiro de volta correto? Você sabe que não aceitarei que me cobre nada posteriormente!

- Dona Sonia... Estou fazendo este carinho pelas crianças, não pela Senhora ou pela Meire... Eu teria que cobrar deles este valor e sei que iriam me pagar com sorrisos.

- Você tem consciência do que está fazendo? Você não bebeu ou tomou algum remédio diferente?

- Kkkkk... Não Dona Sonia... Estou sóbrio e não sou doido... A Senhora me dá uma meia hora que eu já volto.

Saí e corri ao caixa eletrônico... Retirei quinhentos reais e completei a quantia que elas iriam gastar no dia seguinte... Coloquei o dinheiro dentro de um envelope e o entreguei a Dona Sonia.

- Aí está... O que farão com ele é problema de vocês... Massss, se não tiver uma forma de pavê inteirinha pra mim, eu vou brigar com a Mamãe Noel viu?

Demos risadas... Elas não estavam acreditando no que estava para acontecer... Combinei de vir pega-las às sete horas da manhã para irmos às compras.

Durante o caminho, ensinei que deveriam deixar todas as compras em uma determinada loja e assim que tivessem comprado tudo, me avisassem no celular e eu iria busca-las... Saí sozinho e fui comprar o que eu queria, longe delas, senão, estragaria a surpresa.

Deu tudo certo... Tanto no Brás quanto na Rua 25 de março, mesmo com aquele mundaréu de gente, não houve contratempos... Havíamos combinado que eu compraria a arvore de Natal e os enfeites com as lampadinhas, mas, os presentes eram com elas e assim foi feito.

O carro veio carregado e a euforia que havia tomado conta das duas, demonstrava o quanto estavam loucas para começarem os preparativos para a ceia.

- Fabiano, pensamos em te pedir mais dois favores... O primeiro seria deixarmos os presentes em sua casa, sendo que, ainda teríamos que embrulhá-los... O segundo, é que gostaríamos de ir a um atacadista para podermos fazer a compra de mantimentos... Você poderia nos ajudar se não for lhe atrapalhar?

- Ou Meire, com toda a certeza! Deixaremos na minha casa o que vocês não querem que eles vejam, poderemos acessar a internet, fazer as pesquisas de preços nos atacadistas e faremos um itinerário economizando e comprando o que for da escolha de vocês... Combinado?

- Uau, ótimo! Melhor não poderia ser...

Em casa preparamos um lanche, pois, na correria das compras, não havíamos almoçado... A excitação daquele Natal diferente trazia uma energia tão positiva que, tínhamos vontade de sair correndo e fazer... Fazer e acontecer... Dona Sonia e Meire parecia duas crianças se divertindo... Elas discutiam e falavam e discutiam de novo, porém, era na brincadeira... Eu absorvia tudo... Aspirava aquele ar de alegria... Embevecia-me com o Espírito Natalino que, não fazia parte do meu viver.

Eu não sei o que elas fizeram... A sala da minha casa estava cheia de coisas e o carro, depois de passar nos atacadistas, estava lotado... O dinheiro tinha dado cria, ou, elas sabiam fazer milagres, pois, rendeu demais.

Era fardo de papel higiênico, caixa de sabonete, caixa de leite e óleo... Eu notei que os produtos básicos não perecíveis eram em grande quantidade, aproveitando as ofertas e o necessário, em uma quantidade que não ultrapassasse a data de validade... Todas as mercadorias elas verificavam a data da fabricação... Estava aprendendo detalhes que, me passavam despercebido.

Ao chegarmos quase anoitecendo, as crianças deram pulos de alegria... Quando viram o carro lotado e souberam que era tudo para a casa, cada um começou a carregar o que aguentava levar... Fizeram tudo correndo e Meire e Dona Sonia gritando para não correrem.

Por mais que eu tenha observado, não me recordo de nenhuma extravagância... Parecia que tudo havia sido planejado na ponta do lápis, não excedendo em nada... Tudo pensado, analisado, sopesado e concretizado na medida certa.

Estava exausto, entretanto, Meire e Dona Sonia estavam com a corda toda... Tiravam uma pequena quantidade de cada coisa e deixavam o restante nas caixas que iam para a prateleira enorme que havíamos trazido da firma... Tudo se encaixava em seus devidos lugares... Dona Sonia havia dado dois pacotes de bolachas para as crianças, mandando que fossem assistir à televisão... As crianças trataram de sair correndo, afinal, é melhor assistir à televisão do que ficar trabalhando.

Queria que eu esperasse para jantarmos todos juntos e eu recusei... Iria tomar um banho e pedir uma pizza, ao contrário delas, que iriam arrumar aquele monte de caixas que estavam no chão e em cima da mesa... A felicidade com que iam abrindo as caixas e depositando cuidadosamente nas vasilhas, no armário e ajeitando na geladeira, era sem dúvida, fantástica.

Dava gosto de ver... Dava gosto sentir tanta empolgação.

Meire perguntou a que horas poderiam ir a minha casa... Ainda havia muito serviço a ser feito, além da preparação da ceia... Agora Dona Sonia contava com todos os ingredientes para um jantar especial.

- Eu passo aqui às nove horas para pegá-las, combinado?

Ao sair, todos me abraçavam, beijavam e faziam festa... Estava se tornando uma constante aquela folia de me apertar e me beijar... Eu estava adorando aquela despedida.

Oito e meia da manhã a campainha toca... Era Meire... Ela havia pegado a condução, para não me dar trabalho. A Mãe havia ficado para adiantar os preparativos do jantar.

Arregaçamos as mangas e nos entregamos ao serviço com vontade... Fomos tirando tudo das sacolas e separando... Ela ria dos pacotes que eu embrulhava... Além de demorar, estavam saindo horríveis... Ela desmanchava e eu tentava fazer de novo... Entre brincadeiras e bronquinhas o tempo foi passando... Eram quase três horas da tarde quando tudo ficou do jeito que ela queria... Organizado, tudo etiquetado e com nomes.

Peguei a caixa da arvore de Natal, os enfeites e uma parte dos presentes que ela separou... Ao chegarmos a sua residência, a turma toda veio nos recepcionar... Curiosos e atentos... Enlouqueceram quando viram uma arvore de Natal.

Desta vez a coisa pegou fogo... Todos queriam ajudar a montar a arvore... Ainda bem que eu havia comprado bolinhas em quantidade, por que naquela euforia, algumas se espatifaram no chão... Aquelas bolinhas, Papai Noel, um cometa, uma estrela, anjinhos e renas, eram por demais chamativos, entretanto, muito frágeis também.

Dona Sonia desta vez mostrou que era brava... Alguns puxões de orelha e umas palmadas acalmaram os ânimos de todos... Eles ficaram quietinhos, sentadinhos a distância observando o andar da carruagem... Aos poucos a arvore recebeu todos os galhos.

Agora as duas mulheres começaram a colocar os penduricalhos e pediam opinião para os menores... Todo mundo dando palpite... A algazarra voltou a acontecer.

Dona Sonia autoritária deixou que cada um escolhesse cinco enfeites e os colocasse na arvore... Explicou que era necessário muito cuidado, mostrando os cacos daqueles que haviam se quebrado.

O cheiro que vinha da cozinha estava me deixando faminto.

Dona Sonia e Meire não me deixaram ajeitar nem mesmo as luzinhas.

- Xô xô xô... Homem não é jeitoso para estas coisas... Vai, passa, passa.

Eu estava me rachando de rir... Dona Sonia me expulsando e as crianças me empurrando, corroborando com a ordem da Mãe... Meire até segurava a barriga e perdia o folego... Ela ria tanto, mas, tanto, que acabei ficando com dor na barriga de tanto rir.

Dona Sonia, para completar, ainda virou séria e falou pra mim...

- As crianças já tomaram puxões de orelhas e umas palmadas... Você quer levar umas também?

Pronto... O festival de risadas voltou... As crianças se contorciam de rir... Fazia tempo que eu não sabia o que era dar gargalhadas... Estava sendo hilário... Cômico... Delirante.

Hora de ligar na tomada... Hora da arvore ganhar vida... Hora de piscar... Briga novamente para ver quem ligava... Desta vez eu ganhei... Kkkkk... Dona Sonia me quebrou o galho, foi boazinha para comigo...

Magnifica... Maravilhosa... Tão linda quanto as carinhas daquelas crianças que olhavam boquiaberta para aquele espetáculo... Os reflexos multicores do pisca-pisca nos enfeites, as expressões maravilhadas daquelas crianças e os olhos rasos d’agua de Meire e de Dona Sonia, tiveram um efeito enorme em mim... Nunca me esquecerei deste momento.

Cuidadosamente Meire depositou os presentes de cada um em forma decrescente... Havia um com o meu nome escrito e eu não havia notado... Novamente um choque em meu peito... A alegria era tão forte que chegou até mesmo a doer.

- Meus filhos, já já sairá o jantar, portanto, quero todos de mãos limpas e assim que terminarmos, vocês poderão abrir os seus presentes... Tem mais uma coisa... Só irão levantar da mesa depois que todos terminarem, portanto, não adianta engolir a comida por que terão que esperar até o último acabar de jantar... Combinado?

Todo mundo concordou, só que, devoraram a comida como loucos... Os quatro menores ficaram nos olhando com aquele olhar... Pelo amor de Deus Mamãe!

Dona Sonia olhou para mim e para Meire como se pedisse ajuda... Com a cabeça concordei e Meire fez o mesmo... Nossa Senhora... Que correria... Duas cadeiras foram ao chão... Parecia um estouro de boiada... Já sabíamos que isso iria acontecer e só restava rir.

Escutamos gritos de alegria... Ebaaaa... Que lindooo... Olha que coisa mais fofa...

Foi instantâneo... Os três adultos deram um pulo, deixando o jantar por terminar e fomos curtir a alegria da criançada... Se eles imaginassem que os presentes mais bonitos ainda estavam por vir... Se soubessem que havia mais um montão para ser entregue.

Abrimos os nossos... Eu ganhei um kit com uma carteira e um cinto de couro no mesmo padrão... Procurei demonstrar o mesmo entusiasmo infantil e acho que não me dei mal... Dona Sonia e Meire eram mais esfuziantes... Pularam, sorriram e saíram mostrando para eles... Todos sentados no chão mostrando o que haviam ganhado... Festejando... Curtindo... Viajando no Espírito Natalino.

Dez horas da noite e as crianças se retiraram para dormir... Nesta noite recebi os abraços mais fortes e deliciosos do meu viver... Aqueles beijos sapecados com barulho tiveram um sabor especial... Tive que segurar para não chorar... Eu estava emotivo, tremendamente alegre e sensível.

Meire e eu corremos a buscar o restante das coisas para que colocassem na arvore e também por que já estava ficando tarde... Foi um bate e volta... Rapidamente buscamos e descarregamos o carro e as deixei terminando de limpar a casa, recolhendo caixas e papéis que havia ficado espalhados pelo chão, além da vontade de preparar tudo para aquele novo amanhecer.

Gostaria de ver como seria a nova explosão de alegria que iria acontecer, ao saberem que Papai Noel havia deixado mais um monte de presentes.

O almoço do dia seguinte seria em minha homenagem... Eu iria ganhar uma forma de pavê para eu me afogar dentro dela, como disse Dona Sonia.

Elas não sabiam que dentro daquelas caixas que eu trouxe do Brás, haviam lembranças de um preço mais salgado e que eu sei que não comprariam.

Cheguei ao meio dia com três caixas grandes dentro do carro, mas, disse para as crianças que não era para eles não... Notei aquelas carinhas de Ahhh que peninha... Kkkkk.

Almocei pouco, em compensação, devorei taças em cima de taças daquele pavê fenomenal... Estava pra lá de delicioso... Eu me acabei... Me matei de tanto comer... Comi até ficar enjoado, pois, ela fez uma grande quantidade... Depois fiquei empachado de novo.

Há quanto tempo não sentia o que era uma reunião familiar recheada de amor e alegria... Eu estava me sentindo da família... Era isto... Eu era tratado como se fosse da família.

Depois de terminado o almoço, convidei-os para darmos uma volta como da outra vez... As crianças pensaram que iriamos tomar sorvete, porém, quando chegamos ao portão, eu disse;

- Vocês querem ir tomar sorvete ou preferem desembrulhar aqueles presentes que estão dentro daquelas caixas?

Todo mundo saiu correndo e pulando para dentro da caçamba do carro.

Meire teve que chamar Dona Sonia, pois, a bagunça foi generalizada.

Dona Sonia chegou e todos ficaram calminhos... Descarregamos as caixas e a empolgação tomou conta de todos... A curiosidade a flor da pele... Até mesmo Dona Sonia estava se coçando... Todos estavam agitados e eu sentado no sofá, só curtindo.

As caixas estavam lacradas com fita adesiva... As duas maiores estava escrito André e Paulo e a outra Cristina e Cristiane... A outra, Dona Sonia e Meire.

Dava para sentir o coração de Dona Sonia e Meire batendo descompassadamente... Estavam desesperadas, loucas para avançar e tentando manter tranquilidade... A curiosidade corroía as duas que pacientemente aguardaram as crianças irem tirando e abrindo os seus presentes.

Gritos, pulos, papéis rasgados jogados para o alto, gritos de satisfação...

Depois daquela balbúrdia toda, finalmente havia chegado a vez das mulheres... Silêncio... Todos olhavam para a caixa selada... Meire olhava para a Mãe incentivando-a para que abrisse... Finalmente abriram, mas, demoravam em desembrulhar os presentes.

Eram dois vestidos e dois pares de sapatos para cada uma... Vestidos e sapatos elegantes e de boa qualidade... Embaixo de tudo, havia uma caixa com um Playstation 2 para todos.

Não preciso dizer o impacto perante aquelas belezas que agora estendiam por sobre o corpo... Lagrimas... Lagrimas de contentamento.

Não sabiam se riam ou se choravam, se me agradeciam, ou, se deliravam ante a prazerosa sensação que os vestidos haviam lhes provocado.

Quando a última caixa foi aberta... Quando viram o sonho quase impossível de um vídeo game daquela qualidade, com vários cds de jogos, a gritaria foi ensurdecedora.

As crianças ficaram alucinadas... As mulheres não sabiam mais o que fazer.

Um Natal para ficar na história daquela família.

Levantei-me e acalmei as crianças... Peguei o vídeo game e conectei na televisão... Fui ensinando a Paulo e a André como fazer... As meninas atentas a tudo o que eu fazia.

A imagem apareceu... O som dos carros... Imagens em três D excitantes... Todos os olhares voltados para a corrida que iria começar.

André e Paulo já se olhavam desafiadoramente... Se provocando... Chamando para o racha... Os controles tremiam em suas mãos, tal a excitação de tantos jogos a serem disputados.

Dona Sonia havia ido para a cozinha e Meire não me deixou acompanha-la... Eu imaginava o que estava passando na cabeça e no coração daquela Mãe.

Perguntei de sacanagem se alguém queria tomar sorvete, mas, ninguém me deu atenção... Estavam vidrados naquela corrida e no som empolgante.

Meire e eu fomos andar e acabamos tomando um sorvete.

Quando voltamos do passeio, deixei as notas fiscais e me dispus a acompanha-las se houvesse a necessidade de trocar alguns dos presentes... De noite, após uma despedida emotiva, onde não consegui segurar as lagrimas diante de tanto carinho, com um grande pote plástico lotado de pavê ao meu lado, acenei despedindo-me de todos.

No dia 29, Meire me telefonou e perguntou se não gostaria de acompanha-las a Igreja no dia seguinte... Todos iriam agradecer a Deus por ter tido um ano espetacular e um dos mais lindos acontecimentos, era o fato, de um homem de coração nobre, ter transformado um Natal simbólico em um acontecimento inesquecível.

Feliz, aceitei o convite de bom grado.

Ao parar o carro defronte a casa, as crianças vieram ao meu encontro... Todos estavam elegantes, de roupas novas, perfumados e sorridentes... Chamei-os de lindões e fiz desfilarem para eu apreciar... Eles andavam e giravam como modelos... Estavam lindos, divinamente lindos.

De repente estagnei... Pasmei... Não acreditei... Fiquei estupefato... Abestalhado.

Meire parada no umbral da porta, exaurindo uma luz embriagadora... O vestido cinza chumbo com detalhes prateados, o sapato e a pequena bolsa combinando, a maquiagem acentuada, as unhas dos pés e mãos em um vermelho suave, e os longos cabelos negros, viçosos e brilhantes, escorrendo por um lado do rosto.

Não poderia ser Meire... Olhei, pisquei, limpei os olhos e olhei novamente... O sorriso de dentes brancos envoltos naqueles lábios vermelhos e carnudos e o olhar que despejava raios de felicidade terminavam por me entorpecer.

Vagarosamente fui andando em sua direção... Não conseguia acreditar naquela visão estonteante... Era a Meire... Eu sabia que era a Meire... Meus olhos viam, mas, meu coração não acreditava... Meire parecia uma escultura de cerâmica, tal era o brilho que emanava daquele ser... Estava estrondosamente encantadora... Não saberia o termo que teria que usar, para dizer o quão magnifica estava... Com a mesma magia, Dona Sonia surge atrás dela.

Ambas notaram o meu desconcerto... Ambas sentiram o quanto estavam sendo admiradas... Ambas desabrochavam como as flores na primavera... Exalavam a beleza da mulher em seu apogeu.

Teci os mais lindos comentários... Disse o quanto estava surpreso por vê-las tão maravilhosas... Foi gostosa e desconcertante a envolvência que elas demonstravam.

Na igreja, agradeci a Deus por esta fase gratificante, e por todas as bênçãos que havia me concedido.

O Ano Velho fechou com Chave de Ouro... Não poderia ter sido mais encantador.

O Ano Novo começou bem...

Eu não saía mais da casa de Dona Sonia... Vivia mais na casa deles do que na minha... A disputa ferrenha entre eu Paulo e André no vídeo game era motivo de broncas e mais broncas da Dona Sonia... A gente se empolgava e acabava gritando e pulando no sofá e lá vinham as broncas.

Meire e eu acabamos por nos envolver... Aos poucos... Devagar... Suavemente... Três meses se passaram até que lhe roubei o primeiro beijo.

O Ano voou... Quando dei por mim, estávamos entrando na semana de Natal.

Chamei Meire e Dona Sonia propondo repetirmos o que havíamos feito no ano anterior.

Eu já havia preparado a minha festa particular... Comprei tudo antecipadamente, incluindo alguns detalhes que estavam me deixando aflito... Eu não sabia até que ponto eu deveria ir, entretanto, fiz o que meu coração pedia... Seja o que Deus quiser, foi o que pensei.

Desta vez, Meire elegantemente vestida em um vestido rosa, participou da festa de confraternização, chamando a atenção de todos que nunca tinham tido a oportunidade de vê-la em trajes que exaltassem a sua feminilidade... Ela foi motivo de comentários maravilhosos e olhares cobiçosos e eu me senti poderoso, pois, a aliança de noivado em nossos dedos, dizia a quem ela pertencia.

Noite de Natal... A mesma árvore, os mesmos enfeites, as mesmas lampadinhas.

Parecia fotocópia o procedimento que Dona Sonia havia tomado... Repetiu-se a farra, a euforia, a algazarra, os papéis rasgados jogados para cima, a gritaria e as lagrimas de alegria.

Os beijos de agradecimento, os abraços fortes, a empolgação envolvente e emotiva aconteceram com a mesma intensidade.

Tudo igualzinho... A cópia fiel do ano anterior.

Brás, Rua 25 de Março, os Atacadistas e novamente os presentes que haviam ficado em minha casa... Descarregamos tudo e deixei as duas envoltas na labuta de arrumar a casa e deixar a árvore abarrotada com os presentes do Papai Noel.

A promessa do pavê na sobremesa do almoço do dia de Natal...

Confirmando a igualdade, cheguei com três caixas em meu carro, entretanto, desta vez não consegui enganá-los... Eles sabiam que era para serem descarregadas.

Eu novamente ria de cada farra que acontecia... Lá vamos nós.

Três caixas... Só que desta vez, havia uma caixa maior que as outras e com o nome da Dona Sonia e da Meire.

Seriam abertas somente depois que todos almoçassem e se deliciassem com a sobremesa...

Aflição... As crianças devoraram o almoço e a sobremesa... Desta vez fiz com que esperassem eu terminar de me deliciar com o pavê.

Ansiosos se remexiam nas cadeiras... Eu judiava... Colocava pequenas colheradas de pavê em minha boca, sem pressa, deixando mais angustiados com aquilo.

Quando disse estar satisfeito, novamente aquela turma saiu disparada em direção as caixas... Novamente duas cadeiras foram ao chão, só que desta vez, Dona Sonia e Meire se precipitaram em seguir a tropa.

Rasga daqui, abre de lá, rasga de lá, grita daqui... Assim foi, até o ultimo presente das crianças.

Pulos de alegria, aquela balburdia, expressões únicas... Não dava para dizer quem estava mais feliz.

Desta vez foi Meire quem abriu a caixa... Dentro havia duas caixas e a primeira estava com o nome de Dona Sonia.

Ao abrir, deparou com um vestido longo, preto e cinza, sofisticado e embaixo, todos os acessórios para um evento de gala... Puro glamour.

Ela ficou boquiaberta sem entender o por que! Pelo tecido delicado e os acessórios sofisticados, sentiu que havia algo mais para tanta classe... Olhou-me de forma interrogativa e nada falei... Ela pressentiu... O sexto sentido de Mãe... Virou para a filha que olhava boquiaberta para o presente da Mãe.

Meire, ao abrir a sua caixa, abraçou a Mãe em prantos... Gritava como louca... Chorava em altos brados... Abraçada a Mãe e falando.

- Mãe... Mãããeee... Mãããeee... e voltava a soluçar.

Dona Sonia olhou em direção da caixa semiaberta e começou a chorar com a mesma intensidade.

Os seis se abraçaram e as crianças passaram a chorar juntas sem saberem o motivo.

Sentei-me no sofá e olhava aturdido para a cena que se desenrolava a minha frente... Será que me precipitei? Será que não era o momento apropriado? Será que me enganei? Não pode ser! Não posso ter me enganado! A angústia começou a tomar lugar em meu coração... Agora quem estava agitado era eu... Mil pensamentos passavam por minha mente... Meu cérebro cozinhava, meu peito arfava e meu coração saltitava.

De repente Meire dá um pulo e vem em minha direção... Fico de pé esperando o que estaria por vir.

Ela dispara... Corre e pula em meus braços e enche meu rosto de beijos... Beijos e lagrimas molhavam o meu rosto... Agora as minhas lagrimas misturavam-se com as dela.

Depois de muito me beijar, voltou-se para o presente semiaberto... Terminou de tirá-lo da caixa e usou a Mãe como manequim.

Havia demorado dois meses para decidir sobre o vestido de noiva... Ele realmente foi criado e confeccionado por Mestres na arte do bom gosto... A sua beleza era indescritível, fazendo jus a quem iria usa-lo.

Ao abrir a segunda caixa, em cima havia três estojos de veludo... O primeiro com o nome de Dona Sonia... Meire entregou a Mãe e ficou aguardando na curiosidade.

Dona Sonia ao ver um lindo anel de rubi e esmeralda, quase desmaiou... Teve que sentar-se e as crianças correram a buscar um copo de agua... A emoção havia sido esmagadora... A felicidade havia lhe tirado a respiração...

Eu havia brincado com as nossas alianças de noivado e assim tive a certeza do tamanho do dedo de Dona Sonia... Ao colocar no dedo aquela joia, o fascínio da alma de mulher se perdeu no mar de encantamentos... Ela mergulhou nos contos de fadas... Em seu dedo, brilhava um sonho de infância que pensava ela, nunca iria se concretizar... Eis o sonho virando realidade.

Dona Sonia, sentada no chão com as costas apoiadas na parede, olhava perdida para as cores das duas pedras que brilhavam em seu dedo... Não era uma joia caríssima, mas, pelo visto, era muito mais do que ela poderia sonhar em ter.

Via em seus olhos o desejo de pular em meu pescoço em agradecimento, entretanto, as suas pernas tremiam de emoção.

Chegou a vez de Meire... Ela olhava para os dois estojos sem coragem para abri-los... Pegou, abraçou, apertava-os em seu peito, mas, buscava forças para puxar aqueles pequenos trincos que a separavam do conteúdo.

Esperou pacientemente por cerca de dez minutos até que Dona Sonia voltasse a normalidade... As duas se olhavam, sabendo que outra forte emoção estaria por vir.

Meire não conseguia abrir o pequeno estojo... Ficou ao lado da Mãe e pediu que o fizesse... As crianças estavam mudas... Há bastante tempo às crianças permaneciam caladinhas aguardando o desenrolar dos fatos.

Dona Sonia com o estojo na mão tremia... Tremia mais que vara verde em um vendaval... Eu comecei a rir de nervoso e aflição... Ela tentava, tentava e não conseguia abrir um trinquinho simples... Bastava enfiar a unha, puxa-lo e suspender a tampa, mas, não conseguia.

Fiz com que Meire sentasse ao lado da Mãe, apoiando as costas na parede e ambas se deram as mãos... Peguei o estojo, abri cuidadosamente aproximei do rosto das duas, só que ao contrário, elas viam as costas da caixa... Devagar virei, mostrando o seu interior.

A aliança com um diamante octogonal reluzia raios multicores... Meire pegou a caixa e disparou em um choro desesperador... Abraçava a Mãe gritando como louca... Cheguei a tomar um susto diante de tal reação.

Eu tinha que aprender a lidar com as emoções femininas... Tinha que entender e aceitar estes acessos violentos de sentimentos... Eu não tinha a menor noção do que era ser feliz de verdade... Agora que eu estava descobrindo esta faceta do amor.

Quatro ou cinco horas depois foi que a serenidade voltou a reinar... As duas mulheres estavam com os olhos inchados de tanto chorar... Paravam de chorar, olhavam para os presentes e começava o chororo tudo de novo... Dez minutos de paz, olhavam para os dedos e uma começava a chorar e a outra fazia coro... Por diversas vezes uma lagrima furtiva escorria no canto dos meus olhos... Eu estava emocionado demais também.

Quando os ânimos se acalmaram, ambas me abraçaram com força... Foi então que ouvi a declaração que gelou o meu sangue, foi quando escutei algo desconcertante.

- Fabiano... Em vinte e oito anos, quase não namorei, entretanto, tive diversas tentações como toda mulher... Me controlei... Me privei de muitas coisas... Aguardei pacientemente orando a Deus para que um dia, encontrasse um homem que fosse dividir comigo todo o seu viver... Me preservei, para entregar a minha pureza ao homem que desejasse ser feliz ao meu lado... Guardei o símbolo da mulher que há em mim, para um único homem, a quem eu dedicaria a minha honra, a minha fidelidade, a minha vida e todo o meu amor.

- Eu lhe entregarei com toda a pureza do meu ser, a virgindade da minha alma de mulher... Entregarei tudo o que você me pedir, se me prometer que o respeito e a fidelidade a esta união, perdurarão até o final de nossos dias... Eu quero muito ser sua... Quero me entregar de corpo e alma a você... Mas preciso que olhe em meus olhos, coloque a mão sobre o meu coração e me prometa que será para sempre meu e só meu, da mesma forma que prometo que serei única e inteiramente sua, só sua.

Desta vez eu chorei... Chorei desatinadamente... Chorava prometendo... Chorava abraçando e beijando sua testa, seu rosto, seus lábios e a abraçava... Chorava copiosamente.

Entre as lagrimas e soluços, prometia que esta união nunca iria acabar... Prometia que daria tudo de mim para fazê-la feliz... Precisei de um longo tempo... Eu queria chorar... Nunca imaginei que chorar fosse tão bom... Eu chorava e ria ao mesmo tempo... Olhava para ela e ria e chorava e assim ficamos por um longo tempo.

Fabrício, em um smoking muito elegante, conduziu a Mulher dos meus sonhos até o altar...

O casamento foi de incomensurável beleza.

Seis anos se passaram... Terminei de construir o que meu finado sogro havia começado... A casa ficou muito bonita... Devido ao alicerce muito bem feito, acabei por construir a nossa casa sobre ela.

Eu e Meire só usávamos a casa de cima para dormir. Desde o café da manhã até o jantar, descíamos para a casa da sogra... As crianças já não eram tão crianças, e eu beirando aos cinquenta anos, era o mais crianção de todos.

A bagunça que fazíamos deixava Dona Sonia com os cabelos em pé... Na parede da sala, agora tinha uma televisão em LCD de 42 polegadas acoplada ao home theater e um Playstation 3 de ultima geração... Eu, Paulo e André e também Cristina e Cristiane disputávamos campeonatos regados a pipoca e Coca-Cola... A gritaria era ensurdecedora e as duas se fechavam na cozinha para não ficar nos xingando... A farra só havia aumentado... Era bom demais.

Meire vem trazendo uma bacia com as pipocas que acabara de estourar... A barrigona de oito meses fazia com que andasse como um patinho.

Ela estava linda... Estava a mulher mais encantadora que existia na face da terra.

No primeiro Natal, eu havia distribuído presentes e recebido amor e carinho.

No segundo Natal, eu havia distribuído presentes e ganhei esta família que preencheu a minha vida de amor e alegria e vem me fazendo mais feliz a cada dia.

Agora eu sei que só a união familiar, nos traz a verdadeira felicidade...

Hoje... Hoje eu sei o que é ser feliz de verdade!

Camaro CMRS
Enviado por Camaro CMRS em 17/08/2012
Reeditado em 18/08/2012
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