Baile de Formatura
- Boa noite, Sr. Johnson
- Boa noite, Greg.
- Eu vim buscar a Elisa para o baile.
- Claro, entre, por favor. Ela está terminando de se arrumar, sente-se.
Sentou então no sofá e assistiu TV com o Sr. Johnson. Apesar de todas as vezes que esteve naquela casa, a sensação agora era diferente. Elisa era uma garota magnífica: era inteligente, estudiosa, e dotada de uma beleza que causaria inveja até mesmo aos deuses gregos; era assim que Greg à definia em pensamento, a garota perfeita que ele teve a sorte de conhecer um dia.
Era um verão absurdamente quente. Gotas de suor escorriam das crianças no recreio, que apesar do calor corriam sem parar nas suas brincadeiras agitadas. Brincavam de pega-pega, quando Greg cansou e foi tomar água, junto de Elisa, que também estava brincando. Ele deu o lugar à ela no bebedouro, e ela esperou ele terminar para voltarem juntos. Desde então, nunca mais se desgrudaram. Foram parar na mesma turma no ano seguinte, e no seguinte, e no seguinte, até se formarem no colegial juntos. Apesar das gozações dos colegas de classe, nada jamais havia rolado entre os dois, para o lamento diário de Greg.
Mas esta noite seria diferente, tudo iria mudar. Ele a convidou para o baile de formatura, e ela, logicamente, aceitou. Esse foi o sinal para Greg, e agora ali estava ele, sentado no sofá com o Sr. Johnson, esperando a garota dos seus sonhos terminar de se arrumar para curtir com ele a noite toda.
Ouvem-se vozes lá de cima, e Greg olha para a escadaria, ao que vê os pés de Elisa, em cima de um salto alto que parecia ser difícil de andar. Segurando a mão de sua mãe como apoio, ela desce lentamente, enquanto Greg a aguarda de pé.
- Greg! Fiz você esperar muito? - diz ela, envergonhada pela presença de todos que a fitavam. Vestia um vestido bege que realçava seus compridos cabelos negros e olhos azuis.
- Não, eu cheguei agora. Está pronta? - diz o jovem, também bem arrumado.
- Sim, vamos! - e os dois passam pela porta, sob olhares curiosos do Sr. e da Sra. Johnson. O rapaz abre a porta para a sua dama, que sorri para ele e entra no carro.
No caminho, poucas palavras entre eles. Todo assunto que antes era tão fácil de falar, agora pesava como chumbo naquele momento.
- Tudo bem? - pergunta Greg, para quebrar o silêncio mortal.
- Sim! Apesar da correria pra me arrumar, acabamos conseguindo! - Eles riem juntos.
- Dizem que a banda que chamaram pra tocar no baile é bem legal.
- Tomara, faz tempo que não danço pra valer. - diz, sorrindo para o rapaz.
Passam pelos portões, ele estaciona e já corre pra abrir a porta. Dão os braços e caminham até as portas do salão, de onde já se ouvem muitas vozes e risadas. Entregam os ingressos para o recepcionista e passam pelas portas. O salão é enorme, iluminado por tons de azul e vermelho, e diversas luzes refletiam no globo espelhado, dando a sensação de movimento. Inúmeros rapazes de terno e garotas de vestido circulam pelo lugar, conversando e bebendo. Greg e Elisa encontram alguns amigos, e conversam com eles enquanto se servem de bebidas e petiscos.
A banda sobe no palco e começa a tocar baladas pop-rock, daquelas que todos amam e sabem cantar de cor. Greg puxa Elisa para a pista de dança e curtem música após música. "Cara, ela é linda..." pensa Greg enquanto vê Elisa dançando no rítimo do som. Tudo parece perfeito, e Greg sente que o momento de atacar está se aproximando. Mas agora está tocando uma música agitada, e ele prefere esperar por algo mais lento e romântico para dar o bote.
- Este salto está me matando, vou me sentar um pouco! - diz Elisa, para tristeza de Greg.
- Ah, ok. - diz o rapaz, mas ainda não desiste do plano.
Eles ficam conversando com os amigos, ele vai ao banheiro, depois ela também, e o baile vai passando, distraidamente.
A banda começa a tocar músicas mais lentas, e Greg começa a procurar Elisa com os olhos, enquanto disfarça conversando com os amigos. A hora é agora, precisa levar ela pra pista de dança de uma vez. Sua ideia era dançarem juntos até que fossem se sentindo mais à vontade. Então ele passaria os braços por sua cintura, e ela ao redor de seu pescoço, e no balanço das batidas eles se beijariam lentamente. Por isso, onde diabos está Elisa?!
- Vou ao banheiro e já volto, pessoal!
- Haha, claro! Boa sorte, campeão! - diz um de seus amigos, com malícia.
E sai em procura de Elisa pelo enorme salão, enquanto a banda está tocando aquela música romântica que as garotas adoravam. Havia, sim, muitas garotas bonitas, mas elas não importavam muito. Para ele, só existia Elisa, e sonhava que um dia eles se casariam e teriam filhos. Ela é a garota perfeita, é linda, inteligente, e é sua melhor amiga há anos. Estão sempre juntos desde o primário, e se dão sempre tão bem! Ela é e sempre será a garota dos seus sonhos. Ela... ela... está se beijando com o cara que joga futebol...
Ao som da música mais romântica da face da Terra, a garota dos sonhos de Greg e um idiota qualquer estão se beijando longamente e trocando carícias. Ele vê em choque. Não consegue se mover. "Por quê?" pensa ele. Depois de todos aqueles anos, depois de ter aceitado o seu convite para o baile, por que é que era aquele idiota que a estava beijando, e não Greg?
Quando a música acabou, o casal trocou sorrisos enquanto se olhavam, e começaram a ver o resto do pessoal da festa. Greg se virou de costas e entrou na multidão. Receava ter sido visto por ela. Sentou-se numa mesa qualquer e esperou o baile acabar. Esperou por horas até que a banda fosse embora e as últimas pessoas começassem a se retirar. "Ela não vai precisar de carona pra volta..." pensa ele. Já deve estar na cama com aquele cara, mesmo. Greg vai para o estacionamento e entra no carro. Sozinho, passa pelos portões e dirige sem rumo.
Elisa só chega em casa pouco antes de amanhecer, depois de uma noite de amor com o cara sarado da turma que joga futebol. Não tinha pensado no seu amigo Greg até a manhã seguinte, quando viu no noticiário sobre um acidente inexplicável que causou a morte de um estudante que saíra de um baile de formatura, e em alta velocidade colidiu de frente com o muro da estação de trem. E então ela se pôs a chorar.