Voltando de NY

Era terrível o que estava sentindo. Uma derrota no peito, mesmo sabendo que ele não era pra mim, sentia uma incerta certeza de que deveria tentar uma ultima vez, uma ultima chance... Poderia cair em um buraco fundo, e de lá não mais sair. O peito doía com tal possibilidade.

Na tela do computador revia as fotos de uma viagem a Nova York com os amigos, passava uma a uma, lembrando de cada detalhe, mas permaneci hipnotizada em uma, tirada no Central Park... Pude sentir um sorriso leve se abrindo, meus olhos aos poucos se encharcando. Sem muito pensar imprimi a foto. Eu estava com um casaco preto que ele havia me emprestado - tinha derrubado chocolate quente no meu - sendo carregada em seu ombro. Só me restava achar o celular que estava perdido em algum lugar da bolsa. Peguei a chave do carro e desci para a garagem.

Até que não enrolei e achei o celular... Precisava encontrá-lo.

Impossível era achar aquele celular desocupado, o que me causava uma certa ira, só me resta lhe enviar uma mensagem.

“Me encontre no shopping em uma hora”...

Depois de enviada, me pergunto por que o shopping? Bom era tarde... teria que me encontrar com ele lá mesmo. Espero ao menos que leia a mensagem...

Lá se foram quarenta e cinco minutos e nenhum retorno, só restavam quinze. Os pés pediam socorro devido o salto, não imaginava esperar tanto. O tempo havia se esgotado, a hora passou, e ele não devia nem ao menos ter lido a mensa... o toque do celular interrompeu meu pensamento...

- Alô..

- Onde você está?

- Onde sempre nos encontrávamos, na praça do shopping...

- Então olhe para trás.

Pelo menos não se esqueceu onde costumávamos vir na época da faculdade. Não era fácil esconder meu péssimo humor.

Ele veio em minha direção, com aquele olhar sedutor, que virava a cabeça de qualquer mulher que passava por ali, aquilo me deixava louca. Como ele consegue ser tão ousado?

- Pois bem, o que queria comigo... Não menciona uma palavra comigo desde New York.

Sinceramente não sabia muito bem o que queria, quero dizer, eu o queria... Mas não sabia como. Meu orgulho também não deixaria admitir a ele.

- Queria te entregar um presentinho – retirei a foto da bolsa e a entreguei – será que se lembra desse dia?

Seus olhos percorriam cada centímetro daquela imagem, um sorriso bobo começava a desenhar em seu rosto, sem entender o que eu queria...

- Claro que me lembro, foi o dia em que derrubei chocolate em seu casaco propositalmente para poder ficar com ele.

- Como? Você é retardado? Por que fez aquilo? – sem notar alterei um pouco o volume da minha voz causando um pequeno alvoroço, pessoas olhando. Logo me contive.

- Do que importa agora, isso já passou...

Ora, o que havia de interessante naquilo para que as pessoas continuassem olhando?

- Se não importasse não estaria aqui. Depois desse dia não nos falamos mais, você continuou em Nova York por um longo período...

- Obrigada pela foto, vou guardá-la. Eu continuei em Nova York, conheci diversas mulheres, uma mais linda que a outra. – enquanto guardava a foto no bolso, se virava para partir.

- Espere – gritei, chamando a atenção dos olhares novamente. - Porque não falou comigo todos esses dias? O que te fiz...? – Meus olhos voltaram a lotar de lagrimas, que conseguia com muita insistência segurar.

Bruscamente parando, ele voltava a me encarar.

- Quer mesmo saber?

- Por favor... - supliquei, quase sem ouvir minha própria voz.

Ele me fitou por alguns segundos antes de responder.

- Porque fui fraco. - ele disse num tom que mais parecia descarregar tudo o que sentia - Deixei a mulher que amo partir para se casar com alguém que não a amava tanto quanto eu.

Murmúrios e comentários nos rodeavam, olhares fixos em nossas reações. Engoli a seco a resposta, não era bem o que esperava. Tudo se misturava, as brincadeiras dele dizendo que ainda se casaria comigo, porque recusou o convite de padrinho. Deus, eu sempre o amei, mas estava comprometida com outra pessoa a tanto tempo, não existia mais amor, era um noivado de anos. Não conseguia compreender como aquela nossa brincadeira de criança se tornaria realidade...

- Ele ama você... fica com ele - varias vozes falavam comigo, para onde olhava tinha alguém falando algo, e ele voltava a seguir seu caminho.

- Não é verdade – gritei, mas de pouco adiantou, ele continuou caminhando e todos me olhando – Eu voltei para cancelar o casamento... eu, eu, eu. – forças, eu precisava de forças para continuar, mas se permanecesse calada, o perderia de novo e talvez, para sempre. - Eu não poderia me casar com quem não amo, tampouco amando outra pessoa. Em fim ele parou, e perdendo um pouco da força derrubei a bolsa e o celular no chão...

- Eu te amo, voltei para cancelar o casamento e ficar com você, mas não retornou minhas ligações. Hoje, quando soube que estava no país, percebi que não dava para ficar com isso entalado na garganta.

Ele ficou mudo, e voltando a me olhar, estava perplexo sem saber o que dizer...

- Por favor, diz alguma coisa.

Ele retirava a foto do bolso, e sorria, de novo aquele sorriso bobo que iluminava toda sua face.

- Eu te amo... eu te amo.

Seguimos em mesma direção, acelerando os passos gradualmente, até nos alcançarmos e ele me colocar em seu ombro, girando, assim como na foto, me levando aos risos colocou-me no chão...

- Evitei qualquer noticia sua, se soubesse que não tinha se casado, teria voltado antes - com a ponta dos dedos o silenciei, não tinha porque dar explicações agora.

- Eu te amo - disse com um som audível para todos próximo. Sob aplausos o beijei, entregando-me.

Babigosinski
Enviado por Babigosinski em 15/08/2012
Código do texto: T3831059
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