*Minha Fada Mãe Madrinha*
Não bastou o desprezo, tinha que ser em dose dupla...
A humilhação foi para terminar o espetáculo com classe.
Sua posição social e seu cargo lhe permitia tudo.
Eu era um reles escriturário, um simples assalariado.
Minha aparência lhe chamou a atenção. Sentiu-se atraída.
Caí em sua teia... O charme e sensualidade era o seu feitiço.
Você aproveitou... Fui o fantoche dos seus desejos.
Fui manipulado ao seu bel prazer... Usou como quis.
Um jovem do interior, um rapaz um tanto inocente.
Você poderia ter usado e abusado e descartado simplesmente.
Mas teve que me fazer de cachorrinho.
Na festa do seu aniversário, foi o dia fatídico.
Chamei-a para dançar e foi nesta hora que tudo começou.
Rebaixou-me, humilhou-me e colocou-me para fora...
Sem motivo... Eu não havia feito nada... Pasmei.
Não tive forças para reagir, fui pego desprevenido.
Indignado, baixei a cabeça e saí... Envergonhado, chorei.
Na segunda feira, foi aterrorizante ter que trabalhar.
Tornei-me o foco da atenção, do sarcasmo, da hipocrisia.
Dona Tereza, uma das diretoras da firma chamou-me a sua sala.
Deu-me uma bronca enorme, como se fosse a minha Mãe.
Falou da inocência e da falta de estudo e brigou para que eu voltasse a estudar.
Eu enviava parte do meu salário para ajudar aos meus Pais.
Não tinha condições de arcar com o aluguel, Pais e estudar.
Foi Deus operando em minha vida... A Fada Madrinha apareceu.
Comprou roupas, material escolar e apoiou-me em tudo.
Dediquei-me de corpo, alma e coração.
Seguia todos os conselhos a risca... Estudava como um louco.
Aos fins de semana, ela me ensinava etiqueta e inglês.
Tornei-me calado, totalmente focado em tudo o que fazia.
Progredia gradativamente... Fui sendo promovido.
Ela continuava me direcionando e me ensinando a investir.
Doze anos se passaram... Eu já havia me formado... Estava muito bem.
Fiz meus irmãos e irmãs estudarem... Ensinava-os o que havia aprendido.
Comprei na cidade dos meus Pais, uma boa casa com salão na parte debaixo.
Montei um minimercado e coloquei a família inteira para trabalhar.
O progresso em minha família, massss...
Minha Fada Madrinha sofreu um derrame com graves sequelas.
Ela estava aposentada e com sessenta e dois anos.
Mudei-me para o seu apartamento, pois, os filhos haviam se casado.
Eu a amava... Ela era brava demais... Era determinada demais.
Meus Pais eram puro carinho... Ela era uma guerreira ferrenha.
Cuidei como se fosse minha Mãe... Eu a respeitava... Eu era seu fã.
Nos fins de semana, empurrava a cadeira de rodas por todos os lugares.
Ela brigava, mas, depois aceitava sair comigo para onde quer que eu fosse.
Minha namorada ajudava-me nos cuidados para com ela.
Levava a fisioterapia, dava-lhe banho e lhe fazia companhia.
Três anos depois, a sua recuperação havia sido surpreendente.
Já saia sozinha... Dava broncas em todo mundo... Voltara ao normal.
Os filhos casados, haviam se distanciado por tempo demais.
Cuidando de suas próprias famílias, esqueceram-se da Mãe.
As noras não quiseram conhecer o lado bom desta grande mulher.
Ao contrario deles, minha família nos visitava com frequência.
Meus Pais mimavam a Minha Mãe Madrinha.
Meus irmãos a tratavam como uma benção de Deus.
Ela fazia com meus irmãos e irmãs a mesma coisa que fez comigo.
Era lindo... Era maravilhoso... Era encantador aquele amor grosseiro.
Meus irmãos ficavam bravos, mas, se calavam e aguentavam as broncas.
Eles sabiam que era para o bem... Sabiam que ela era um ser humano fantástico.
Eu estava com trinta e seis anos e chegara a hora de constituir a minha família.
Não iria abandonar minha benfeitora... Seria uma ingratidão enorme da minha parte.
Ela estava sozinha... Os filhos só apareciam na época do Natal, quando apareciam.
Amava minha Fada Mãe Madrinha... Amava minha namorada... O que fazer?
Dona Tereza percebeu o meu dilema e nos sentamos para conversar.
- Chegou a sua hora... Hora de bater as asas rumo a felicidade, não é meu filho.
- Eu só queria que morasse bem pertinho de mim... Não me abandone.
Chorando, abracei-a dizendo que nunca a deixaria sozinha.
Chamei a minha noiva e disse o que estava me corroendo por dentro.
- Não quero deixa-la sozinha... Se hoje sou o que sou, agradeço a ela.
- Não iremos deixa-la sozinha... Eu adoro aquela velha rabugenta.
Abracei a minha noiva e comecei a chorar dando risada.
Agora eu sei o que é chorar de alegria... Lagrimas de felicidade.
Fomos para minha casa... Chamei Mamãe para conversarmos.
Ela estava inquieta... Temerosa... Sabia o que iriamos discutir.
- Dona Tereza, eu queria que a Senhora me ajudasse... Preciso da sua ajuda.
- O que é Patrícia... No que uma velha como eu pode lhe servir.
- A organizar o meu casamento... Preciso de uma Maestrina para me ensinar.
- É claro que ajudo... Quando iremos começar?
- Somente depois que a Senhora me responder uma coisa.
- Diga logo vai, não fica embromando... Desembucha menina.
- Eu só vou casar, se a Senhora vier morar com a gente.
Um instante de puro silêncio, até ser quebrado por gritos!
O pranto era altíssimo... Dona Tereza aos gritos, aos prantos.
Chorava, gritava, ria e colocava a mão no peito. Nos abraçamos.
Os três abraçados chorando forte, alto e soluçando.
Abraçados ficamos por um longo tempo, até nos acalmarmos.
- Ela não parava de chorar e beijar Patrícia.
- Oh minha filha, minha filha... Ganhei uma filha meu bom Deus.
E chorava... E ria... E olhava pra mim... E abraçava Patrícia novamente.
- É Mãezinha... Agora terá que aguentar dois a te perturbar.
- Kkkkkk, dois só? Eu quero pelo menos dois filhos... Serão quatro viu?
- Issssooooo... Vamos encher este apartamento de crianças... Eu cuido... Eu cuido!
Agora era só risadas e gargalhadas... Agora era só alegria.
Deixei as duas que já começaram a planejar sobre o casamento.
Sentei-me no sofá e voltei no tempo, pensando em como tudo começou.
Uma mulher sem escrúpulos, uma festa e a vergonha que passei.
Queria reencontrá-la para poder agradecer... Ela foi o começo de tudo.
Dona Tereza enraivecida com a situação acabou por me amparar.
Levanto-me e vou observar as duas conversando.
Patrícia puxou a cadeira e sentou-se defronte a minha Mãezinha.
Dona Tereza segurava-lhe uma das mãos e gesticulava com a outra.
A alegria era tanta, que, elas brilhavam... Estavam lindas... Linda demais!!!