MIGUEL E NEIF – UMA CONSTELAÇÃO EXEMPLAR DE AMOR AO MUNDO
BODAS DE OURO
Foi exatamente naquele ano de 1932, contado na folhinha o dia 18 de maio, oportunidade em que Dona Pacífica entregava aos olhos do esposo Joaquim, o mais dignificante sopro divino da arte do amor, evidenciando nos primeiros choros o pequenino Miguel Seabra de Oliveira Neto. Em plena Revolução constitucionalista de 1932, e que gerou o mais bravio conflito militar no Brasil do século XX, ocorrido em São Paulo com objetivo fixo na derrubada do governo provisório de Getúlio Vargas. Bem ali, naquele mesmo período de conflituosos dias e meses, nascia Miguel entre as greves de empresários e latifundiários paulistas.
Os dias passaram desfilando como as nuvens na abóbada celestial enquanto o menino Miguel já desfrutava na infância o prazer de brincar conhecendo as verduras do tempo, além de compartilhar com o pai nas lojas de comercio que detinham em Xiririca e várias filiais. Como se sabe, aquele pequeno município foi tradutor dos primeiros aventureiros na constante busca do ouro, era ali em Xiririca onde se via a olho nu os campos auríferos.
A abundância era bastante que o Vale da Ribeira assediava os desejos espalhados por todos os lugares desde a sua foz. Antes, Xiririca desfrutava seus esplendores para a Vila de Iguape, passando após alguns anos como freguesia e conseguindo sua independência como Vila de Xiririca. E assim, Xiririca ganhou espaço e fama granjeando a denominação de Vila por decreto provincial. Em 1875 com sua farta expansão passou a categoria de município com a sua primeira Câmara Municipal. E somente no ano de 1948, mudou o nome de Xiririca para Eldorado. É lá onde se encontra a gruta calcária, estabelecendo, portanto, a famosa “Caverna do Diabo”, visitada por turista de quase o mundo inteiro.
Ali, na antiga Xiririca, “água corrente que emite som (xiriricar), hoje Eldorado localiza-se no sul do Estado de São Paulo, na maior estância cultural bem como apelidada de “Amazônia Paulista”, reconhecida pela UNESCO como a “Reserva da Biosfera do Patrimônio Mundial”. Entre o céu a terra Xiririca se compõe de uma área coberta por mata atlântica. Com risos de alegrias e visitações abriga a tão conhecida Gruta da Tapagem ou Caverna do Diabo além de uma rica história e cultura preservada.
Por isso, Xiririca é hoje Eldorado como diziam os indígenas aos desbravadores espanhóis: uma cidade de construção de ouro maciço com quantidade de tesouros imagináveis. E, na verdade, o tal citado nome Eldorado significa na língua espanhol o homem dourado que tamanha era a riqueza da cidadela, que o imperador tinha o hábito de esposar no ouro em pó, para ficar com a pele dourada. Como se sabe a biografia dessa majestosa Estância Turística de Eldorado teve início quando os portugueses exploradores entraram pelo Rio Ribeira a procura do metal precioso.
O bom menino Miguel celebrou na educação os seus passos até a quarta série, e nas horas vagas seu pai o chamava para acompanhar nas pescarias, não gostando, ele ia “meio obrigado” pisando com passos lentos e choramingando, e se lastimando após levar umas palmadas. Em tudo o que podia se realizar contava com ele, e a pescaria era um profundo desgosto de tal modo que o mesmo até a presente data não saboreia um peixe.
Naquela época a pequena cidade não disponibilizava de estradas ou rodovias e todo o movimento comercial era através do porto, bem como o ponto comercial ficava próximo ao porto na rua de baixo. Sabe-se que a movimentação era um dos cartões postais de Xiririca, com barcos subindo e descendo, vinha barco de Juquiazinho, Bento Martins, passando por Registro. Era uma verdadeira estrada por cima das águas, carregando os destinos daqueles povos. Isso sem se falar das distâncias e horários, e que por ocasião, o irmão de Miguel chamado Celso foi ferido por fogos de artifício e levaram três dias de barco para chegar a Santos, levando-se em conta que foram de canoa até Juquiá e depois de trem a Santos, onde passou por três cirurgias para tratar do ferimento.
Passados alguns anos, a família entabulou projeções e foram residir na Barra do Braço, no município de Eldorado. O seu pai Joaquim era cartorário e na futurista cidadezinha comprou na área rural um local para criação de cabritos. Sendo que Miguel e suas irmãs Madalena e Marta tomavam conta, e sofriam para cuidar e pegar os animais. Com tantos labores, eles ainda tiravam o leite de cabra por que o seu pai gostava muito. É, na Barra do Braço onde não se esgota uma das maiores áreas ocupada por bananicultura.
O garoto Miguel via o mundo em sua volta, a idade já se apresentava nas aquarelas da jovialidade, e com dezessete anos, deixou Barra do Brejo com os laços tristes no coração e partiu com destino à cidade de São Paulo. Aspirando nas trilhas daquele polo em crescimento, este, trabalhou na Companhia Telefônica Brasileira. E com as condições miúdas teve que morar numa pensão com mais dois colegas na Av. Brigadeiro Luis Antonio numa das mais importantes de São Paulo. Naquela época um colega de Miguel adaptou um pequeno sistema que revolucionou a consciência do amigo. Fizera tal amigo um equipamento elétrico que acendia a luz, ligava o rádio e também ligava o “rabo quente”. E, ao mesmo tempo, era um recurso inusitado, pois, fora um dos motivos que ninguém queria acordar cedo.
Não tardou, Miguel Seabra determinou os seus dias indo para o exército, comunicou-se com o tio que deseja servir na polícia, e mais tarde trabalhou na infantaria, cavalaria e foi guarda florestal naquela ocasião..
PARTE 02
O ATO DE NASCER - NEIF
A aurora repartia com a lua o esplendor e despontava na Dona Alice, a doçura encantada de abrir nos lençóis adornados de esperança, as pupilas de mais um sonho, abreviando as ânsias de saborear com o esposo Romeu, a pureza de um olhar na transferência daquele dia 16 de agosto de 1926, um ano com tantos episódios no Brasil e no mundo, ali, naquele simples aconchego materno, nascia a menina que um dia iria transformar as pupilas de um grande amor na mais majestosa aspirações dos sentimentos humanos.
E neste tablado de datas relevantes sobressaiu o “Manifesto Regionalista de 1926, com a divulgação do Modernismo por vários Estados brasileiros com aliança de desenvolver a região nordeste e seus aspectos sociais, culturais e econômicos, além de outros interesses”. E foi ainda, neste mesmo mês de agosto em que arrebentou o “Movimento 28 de Maio” com um ardoroso golpe de Estado, que explodia com as recentes transformações sociais e novas expectativas. Não se pode calar a esmagadora derrota do Flamengo com o São Cristóvão no Campeonato Carioca durante o primeiro turno no dia 16 de maio de 1926, no Estádio Figueira de Melo. Em que apanhou de cinco a zero do São Cristóvão, e nesse período a família resolve morar em Barra do Braço.
Os dias foram acrescentando as germinações que o tempo é capaz de oferecer. E já bem grande a menina Neif, oportunamemente, ajudava a mãe em casa no aprendizado dos afazeres domésticos. E nos meios educacionais, cursou até o quarto ano. Mais, os desejos do pai é que a moça fosse estudar em Sorocaba juntamente com suas amigas. Sob a recusa, Neif observava atentamente para outros horizontes, e neste aspecto, ela resolveu estudar em Pariquera-açu, residindo na casa da tia Sílvia por um ano. Insatisfeita, retornou para Barra do Braço, e achou por bem estudar corte e costura, onde rapidamente iniciou a trabalhar de costureira e ajudava a mãe em todas as tarefas de casa.
Não demorou muito, Neif já com vinte anos foi para Santos e ficou meses fazendo um estágio para saber se tinha vocação para ser freira e voltou entusiasmada, porém, os seus pais não lhes renderam satisfações. Aos costumes. Ela sempre visitava a Dona Madalena e naqueles diálogos amigáveis, a mesma falava que tinha um irmão em São Paulo e que o mesmo desfrutava de muita beleza e que Neif precisava conhecê-lo. Inquirindo com as seguintes palavras:
-Neif! Você desistiu mesma de ser freira?
-Não sei. Às vezes penso que sim e às vezes penso que não. Disse Neif sentada na sala.
-Eu tenho uma novidade pra lhe contar.
Sorriu a dona Madalena.
-O que é mesmo dona Madalena. Conte-me logo.
-Hum! Olha Neif, eu tenho um irmão que mora em São Paulo, é lindo todo, uma graça de rapaz.
-Não acredito! E como se chama?
-Miguel. Parece um bonito nome. A senhora tem foto dele aí?
-Não. Não tenho. Mais ele vai chegar pra festa na igreja e neste dia eu vou lhe apresentar. Tenho certeza que você irá gostar dele. É um rapaz muito ajuizado e de bom comportamento. Você tem que ver ele primeiro pra saber. É melhor esperar.
O GRANDE NAMORO
E o dia da grande festa na igreja de Jacupiranga chegava ao seu dia. E Neif bem pronta e com as fragrâncias encantadoras fora apresentada por dona Madalena ao irmão Miguel Seabra. Ao travarem as primeiras palavras com o jovem, as pupilas brilharam no interior das íris transformando no encanto. E naquele dia, o coração pulsava mais forte, e o seu rosto derramava um contentamento não medido pelo tempo ao sabor de um sentimento inesgotável. Eram os olhares apreensivos na direção do jovem Miguel que elucidava na transmissão de uma corrente invisível de luz e afeto.
Era um amor à primeira vista desenfreando nas cortinas das eras as inquietações que realizam os elos magnéticos. Contudo, Miguel também sentiu ligeiramente o bálsamo cair através da brisa que revoava naquele espaço junto a igreja com a lindeza daquela moça mulher. Até mesmo o seu perfume tragado nas mãos do jovem permaneceu por muitas e muitas horas, com o sorriso que se abria em favos de felicidade. Após a festa, Miguel foi embora e a jovem Neif retornou à sua casa com o sabor de longas venturas a desbravar. A partir daquele dia, Neif enxugou as saudades nas esperas, e realizou nos entardeceres, os sonhos dos últimos momentos em que o amor era uma fantasia e que pudesse um dia se transformar em realidade.
Certo dia, Neif estava a passeio em Pariquera-açu e ao trocar de ônibus viu o amado de farda, de imediato, o seu coração bateu tão forte que as palavras se estremeciam, e de lá vieram juntos conversando, tudo ainda na fase inicial de namoro com as trocas de olhares e inaugurando uma estrada de amizade que os dois trilhavam.
Mas a realidade não se mostrava com os sonhos, e Neif perdurava olhando no céu estrelado das noites em que a lua cobre os enamorados, a distância prateada com o homem ideal de sua vida. Antes de dormir orava, além disso, sustentava fervorosamente seus pedidos para que a luz do Onipotente pudesse lhe dar rumos e que se fosse o homem certeiro de sua vida, Neif prometia que desse certo logo.
Porém, as ansiedades e as lembranças caminhavam de mãos dadas, irrequieta se dirigiu à residência dos familiares do Miguel Seabra, de prontidão estava na porta a mãe e a irmã de Miguel.
Oportunidade em que Neif cumprimentou e também indagou.
-Como vai Dona Patrícia? Quais as novidades?
-Eu vou bem minha filha. E o povo de lá como estão?
-Todos estão ótimos. E aí dona Madalena por onde andavas que nunca mais olhei?
Segurando uma blusa nas mãos, responde com um sorriso:
-Eu estou sempre por aqui. Você que nunca mais apareceu.
-Sim, mais estou vindo agora. Quais as notícias do Miguel? O que aconteceu que ele nunca mais veio por aqui?
Madalena respondeu.
-Sim Neif, realmente ele ainda não veio. Mais quem sabe ele poderá está chegando a qualquer hora. Você ta gostando mesmo dele?
-Sim e muito. Mais tenho receio dessa demora e de algo não corresponder com o que desejo.
-Olha Neif! Quanto a isso eu tenho certeza que ele te admira demais. Pra ser sincera ele até largou uma pretendente paulista, só por sua causa.
-É verdade dona Patrícia?
-Sim, é o que ele me disse e confirmou com a Madalena.
Após longas conversas, retirou-se Neif com destino à sua residência, onde os impérios das imaginações refletiam no descaso, mais repousava na confiança da família em confirmar as paixões e os atrativos que a meiga jovem se desprendia.
Sem sombras de dúvidas, um dia, após a contagem de mais de um ano, apontou Miguel na cidade, sorridente e carregando nas mãos o conforto do seu desaparecimento, ele levava os regozijos que se abriam no coração e os passos apressados, levava a imagem na mente da deusa majestosa e pura. Era ali, um presente, uma lembrança ou recordação que poderia resguardar toda aquela amizade e sustentar sem atrofiar os meigos olhares disfarçados sem sentir a distância. Porém, ao vê-la, os olhares de Miguel foram mais profundos na menina dos olhos de Neif, entregando em suas mãos um Oratório com Nossa Senhora Aparecida. Ela sorriu e agradeceu. A partir desse instante, Neif percebeu que Miguel não havia se esquecido de sua imagem, e as preces e tantas súplicas foram ao caminho e bem atendidas. De tal forma que o seu coração partiu em milhões de exultações e os olhos se encheram de montanhas de afeições. Bem ali, na sua presença estava Miguel que também se encantava com a cordialidade e a boa recepção da moça.
Adiantado os passos desse romance, os dois já sabiam o destino em que a lua se posicionava no céu de Jucupiranga. E nesse passo, os tios Ulisses e Napu incomodavam com brincadeiras de que a sobrinha namorava com um soldado e que iriam rodar o mundo. A moça ficou quieta sem dizer uma palavra, apenas tomando posições na imaginação. Não demorou, e chegando de viagem, Miguel adentrava na cidade com a farda militar, ladeando na ideia refletida da moça que o aguardava. E foi justamente naquele banco da Praça de Jucupiranga que ela afirmou de frente para o namorado:
-Miguel! De farda nem pensar! Por favor!
-Neif! Meu amor! Acredite. Eu só vou tirar a farda quando eu me casar com você. Eu preciso de mais um tempo pra dar uma arrumada na minha vida. Tenha como isto a minha prova de amor. É tudo o que posso fazer por nós.
-Miguel, eu passei dias e noites pensando em ti, e não é por isso que vou aguardar mais uns dias na certeza de podermos casar, manter a nossa família e viver em paz. É tudo o que quero de você. E lhe agradeço de coração esse lindo oratório. Levarei para a nossa casa no dia em que casarmos.
-Eu também nunca lhe esqueci em nenhum momento. Se eu pudesse eu já estaria em seus braços. Você não imagina o quanto sonhei contigo, e por várias noites fiquei acordado no meu quarto a olhar para o teto e pensar..., pensar..., e pensar lá do meu quarto. Era como se eu estivesse vendo você como estou aqui e agora.
-Miguel! De tudo eu farei para honrar as nossas alegrias e tristezas seja em que situação seja. Temos que sermos fortes e lutarmos pelo que se deseja. Eu quero sempre você do meu lado.
-Eu também Neif. Eu vou lutar como um Hércules e vou voltar pra unir os nossos sentimentos. Eu quero ver todo o Vale da Ribeira derramando o nosso amor em cascatas. Somente assim, eu posso assegurar as melhores sementes destes momentos.
E dessa forma compreendeu o recado dito à sua frente, pois Neif se incomodava namorar com Miguel completamente fardado haja vista os comentários de alguns dos familiares. Por justo e receoso motivo é que Miguel todas as vezes que ia visitar a namorada, escondia a farda no bambuzal. E bem refletido, fez um juramento ao grande e enlaçado amor de que só iria casar com Neif quando deixasse a farda.
DO NOIVADO E CASAMENTO
A vida é o relevo que se refaz no cotidiano, e as plumas se estendem nas camadas dos nossos prumos no aprimoramento de que somos capazes de remodelar as tangentes. E neste latifúndio de amor sereno entre as folhagens que se coloram no auriverde da existência. A união nivelada no pleno namoro de aproximadamente dois anos, bem como o despontar do noivado de Neif e Miguel soou no estandarte de primeiro de janeiro de 1959, e nesta época, Miguel já havia deixado o quartel e consequentemente cumprido seu juramento sem a farda. Presentemente, na junção dos esforços solidários, ele já tinha um caminhão em sociedade com o irmão Bimbo. Cujo veículo servia nos domingos para conduzir os jogadores de futebol para a cidade de Jacupiranga. E desta forma, enquanto rolava a bola no meio do campo, Miguel aproveitava o minúsculo tempo para ir até ao sítio onde Neif o aguardava com um bolo.
A noiva quanto mais bela ia encurtando o tempo para a prévia união das alianças, onde brotou naquele apogeu a fortaleza dos sentimentos enraizados nas meiguices do casal, fortificava naquele apogeu as delícias primárias de um romance.
Desatando nas verduras da paixão, a mais harmoniosa junção ofertada pelas preces e amor que trilhavam juntos. E foi desse modo e naquele festivo casamento em que Valdomiro, ladeou de forma inesquecível suas melodias com a igreja lotada. Enquanto Neif e Miguel uniam-se pela primeira vez de suas vidas a amizade, a confiança, a sabedoria, o amor, a compreensão e a preparação para mais uma jornada de alegrias, também percorria na dominação das tristezas que acompanham o ser humano. Mas, ali, desencadeava o sorriso fervoroso do casal embarcando nos sonhos que se propuseram e daquela forma mais justa se entregaram no labor e nas esperanças de uma nova vida.
E assim, a festa continuou na casa da noiva com os toques musicais de Valdomiro alegrando todos os convidados na Fazenda Santa Adélia. Abraços e beijos, sorrisos e amontoados de felicidades riscavam as faces de todos os presentes. O churrasco com dois bois, bolos e doces sacudia as adjacências de todas as prosperidades. A festa não parava, continuava noite adentro sem qualquer interrupção. A presença dos noivos com brios de largos risos chegavam à flora das quatro horas da madrugada e sem descanso rumaram para Juquiá com o seu tio Ulisses, levando a bagagem. Já eram seis horas daquela manhã, e na parada da pequena estação, surgia a Maria Fumaça, o trem da partida sacudindo nos trilhos, zuando, zuando, lá vinha o trem, soltando bastante fumaça.
E o maquinista observava da janelinha o casal de enamorados adentrarem num dos vagões com solavancos. A Maria Fumaça apitava soltando fumaça, era o aviso do maquinista dizendo que iria partir, e por trás, o tio Ulisses balançava a mão ao casal que da janela também acenavam.
Naquele longo trajeto não havia cansaço, e sim, as esperanças que viajavam compactando bem firme e compartilhando na vereda dos trilhos intermináveis o amor entre o casal. Miguel beneficiava em tudo a esposa que adorava a praticidade dos gestos com tanto fervor. De vez enquanto, Neif olhava dentro dos olhos de Miguel, sorriam, beijavam-se e se abraçavam na mansidão da cálida ternura. O tempo não era a razão para medir as horas, e passava sem notar. Logo, as imagens dos lugares eram distorcidas pelo fulgor em que aumentavam as chamas. Nem mesmo as curvas da linha férrea eram capazes de sentirem o termômetro daquele abençoado casal que deglutiam os inesquecíveis momentos de um amor sem fim.
E nesta trajetória de tantos afetos, chegaram a Santos e depois rumaram para São Paulo, chegando de tardezinha na casa da Adelaide em Santo André. Nesta enseada de aclamações nasceu a Lua de mel durante uma semana na terra Santista e depois foram para Aparecida do Norte.
A BIOGRAFIA DE CASADOS - Eldorado e Cajati
Não tardou, e eles foram morar em Eldorado numa casa velha na beira do rio. Ás 23h apagava a luz – e dava muito medo, por isso sempre que seu Miguel viajava para São Paulo, deixava Neif na casa dos pais em Pariquera-çu. Sucede que numa determinada noite de domingo, após seis meses de casada, Neif levou um grande susto, meia-hora antes de apagar a luz às vinte e tres horas. De certo que a companhia emitia um alerta sonoro. Porquanto, ela já se encontrava deitada, e havia deixado a caixa de fósforos e o maço de velas ao lado da cama, quando apagou a luz, ouviu um barulho na porta, suspeitava que houvesse alguém arrebentando a porta. Naquele momento, Neif permaneceu rezando e o que se pode crer que algumas pessoas entraram no espaço ao lado da casa e percebia claramente como se estivessem escavando na parede no quarto a procura de dinheiro. Porém, graças à Deus alguma coisa os assustou e foi embora.
Após tal incidente, Dona Neif não ficava mais em casa à noite, e às vezes, ia para a residência de Bimbo, ocasião em que já se encontrava grávida da filha Carminha. Noutra oportunidade passou seis meses na casa de seus pais.
A alma reverenciada de Miguel tinha sede por um copo de Justiça social, e por fim, veio o sonho de revolucionar a política nacional, momento, em que se filiou ao partido da Republica. Sendo pelo município de Eldorado, eleito ao cargo de vereador após o Golpe Militar em 1964. Ressalta-se que durante o período em que esteve presente na casa legislativa, atuou por 01 ano contra a corrupção, buscando promover a justiça, denunciando irregularidades, devido ao período em que o país sofria pelo regime Militar, com forte pressão política, ainda sofreu atentado contra sua vida e foi cassado pelo regime militar devido seu posicionamento. Afora, algum tempo foi reintegrado e na mesma sessão pediu o seu afastamento, deixando a política naquela ocasião.
Não suportando o grande vacilo da política partiu com a família de Eldorado para Cajati no ano de 1968, levando consigo os quatro filhos – Carminha, Joaquim, Maria Alice e Camilo, vendo-se que naquela oportunidade nascia Romeu cujas fotos do álbum de família demonstram eles no aviãozinho em Eldorado. Era naturalmente que as condições de mudanças céleres não pudessem sobrecarregar ainda mais o leito da consciência. E perante este tablado, o casal já sabia que estavam prontos para atravessarem as tempestades no deserto verde pelo Vale da Ribeira e os mares de tristezas. Obviamente, não lhes faltavam nenhum complemento, vez que a fé era mais forte do que qualquer outro argumento e se posicionava em todas as direções dando ensejos benéficos.
Após cicatrizes de pequenos sofrimentos na fé, Miguel e Neif constituíam-se num grande alicerce de modelo aos filhos, impregnando todas as ferramentas disponíveis no momento, demonstrando que a luta pelo trabalho são os esforços na fé e nos pedidos de orações. Sabendo que a vida era difícil, e, portanto, todos os filhos trabalhavam juntos realizando de tudo o que podiam. Não há como se negar a força de trabalho de Carminha e Romeu com uma caixa de engraxate.
Os tempos, as épocas e as eras nunca sãos as mesmas estações outrora surgem nos horizontes avermelhadas outrora tão azuis que eclodem nas pupilas. E foi dessa forma que a família do senhor Miguel e Dona Neif começaram o atendimento na cantina do Colégio Cajatão, e no ano de 1981, abriram a 2ª cantina no Parafuso e no ano de 1982 com a cantina no Bico do Pato, e sempre fazendo chup-chup para vender.
A HISTÓRIA EM CAJATI - E a vinda para Curitiba
A VIDA EM CURITIBA
Foi no ano de 1983 quando a família procurando um novo horizonte, resolveram mudarem para Curitiba. E nesta época possuíam uma Kombi e travaram de levar todos e tudo no automóvel, com fé, esperança de uma vida melhor. Acompanhando o cachorro de estimação e uma carta de recomendação do PE. Macário que serviria para alugarem uma casa. Em tudo o que se sabe, é que esta família carrega a sua única riqueza, os filhos e a fé.
E tudo fora difícil no começo, tendo a família sofrido em diversas provações, faltava dinheiro para aluguel e a dura luta para as provisões da boca. De tudo um pouco, Miguel e os filhos faziam, eram máquinas de trabalho indo e voltando para o lado em que a situação merecesse. Eles vendiam banana, frutas, verduras, faziam marmitas. Além disso, havíamos agregados que já faziam parte da família. No entanto, a casa era pequenina, mas davam jeito para tudo, um dia serviam refeições e de noite a sala virava quarto.
Sobretudo, a fé, perseverança e a coragem falavam mais alto. E o Santo Antônio sempre abençoando através dos vários Antônios que cruzaram o caminho da família. Esclarece que certa vez, o senhor Miguel procurando no jornal viu um anúncio de venda da Cantina do Cajuru. Ele e Joaquim foram negociar. O chapeiro, o gerente e o dono se chamavam Antônio. E não deu certo. Passados 30 dias o chapeiro Antônio procurou por eles porque a cantina estava à venda novamente.
E lá foram trabalhar com a nova cantina. Tudo foi difícil no começo, não sabiam nada. Mas tinham muita vontade de aprenderem. Acreditavam que ia dar certo e realizavam revezamento nos turnos, sendo os pais de dia e os filhos até tarde da noite.
No álbum da família, veem-se as fotos com o livro caixa da cantina, fotos das cantinas e eles trabalhando. Sabendo eles que era difícil, mais compensavam em festas, baile do Havaí, baile no Morgenau, danceterias, boates. Além de que as meninas reclamavam do cheiro da fritura dos rapazes. Atualmente, a família se encontra bem estruturada e estabelecida.
E assim, as Bodas de Ouro do casal se eternizaram com as vivacidades dos corações de todos os familiares. Ele com setenta e oito anos e ela com setenta e três, disponibilizando a sua residência aos familiares, amigos e conhecidos, havendo sempre um lugarzinho para mais um que chegue.
Diante do calendário do ano de 2010 é especial, pois, nasceu o Francisco, primeiro bisneto, estando o seu neto Mateus Felipe residindo com o casal.
Sem sombras de dúvidas, agora colhem os frutos que plantaram na harmonia e paz, amando todos os filhos, netos e bisneto e sendo muito amados por todos eles.
A grande festa da família, o orgulho dos filhos, netos e bisnetos na maior comemoração de meio século de amor para realizar um casamento totalmente de ouro e emoções. Sem brevidade, foram 50 anos de união nos laços matrimoniais, seguindo uma travessia para a prática diária de doação no compartilhamento de tristezas e alegrias
Duram e servem para muitos exemplos a vida de Miguel e Neif no aprendizado das lições em que um descobriu o sabor de viver bem ao lado do outro. Por isso, a história de vocês merecem constar nas minhas narrativas como uma homenagem especial de Bodas de Ouro.
Felicidades
FIM
Agradeço ao amigo Joaquim residente em Curitiba (PR), filho dos homenageados que me confiou à distância esse labor de Bodas de Ouro para ser lido na missa e festa. Deixando a riqueza dos detalhes com o passeio da minha alma por todos os lugares acima descritos. Aspirando a todos que comemorem juntos, esta data especial de Bodas de Ouro, e numa brevidade possível, estarei aí.
Meus Parabéns!
Vídeo e fundo musical
http://www.youtube.com/watch?v=8b8QPhU2NKs
BODAS DE OURO
Foi exatamente naquele ano de 1932, contado na folhinha o dia 18 de maio, oportunidade em que Dona Pacífica entregava aos olhos do esposo Joaquim, o mais dignificante sopro divino da arte do amor, evidenciando nos primeiros choros o pequenino Miguel Seabra de Oliveira Neto. Em plena Revolução constitucionalista de 1932, e que gerou o mais bravio conflito militar no Brasil do século XX, ocorrido em São Paulo com objetivo fixo na derrubada do governo provisório de Getúlio Vargas. Bem ali, naquele mesmo período de conflituosos dias e meses, nascia Miguel entre as greves de empresários e latifundiários paulistas.
Os dias passaram desfilando como as nuvens na abóbada celestial enquanto o menino Miguel já desfrutava na infância o prazer de brincar conhecendo as verduras do tempo, além de compartilhar com o pai nas lojas de comercio que detinham em Xiririca e várias filiais. Como se sabe, aquele pequeno município foi tradutor dos primeiros aventureiros na constante busca do ouro, era ali em Xiririca onde se via a olho nu os campos auríferos.
A abundância era bastante que o Vale da Ribeira assediava os desejos espalhados por todos os lugares desde a sua foz. Antes, Xiririca desfrutava seus esplendores para a Vila de Iguape, passando após alguns anos como freguesia e conseguindo sua independência como Vila de Xiririca. E assim, Xiririca ganhou espaço e fama granjeando a denominação de Vila por decreto provincial. Em 1875 com sua farta expansão passou a categoria de município com a sua primeira Câmara Municipal. E somente no ano de 1948, mudou o nome de Xiririca para Eldorado. É lá onde se encontra a gruta calcária, estabelecendo, portanto, a famosa “Caverna do Diabo”, visitada por turista de quase o mundo inteiro.
Ali, na antiga Xiririca, “água corrente que emite som (xiriricar), hoje Eldorado localiza-se no sul do Estado de São Paulo, na maior estância cultural bem como apelidada de “Amazônia Paulista”, reconhecida pela UNESCO como a “Reserva da Biosfera do Patrimônio Mundial”. Entre o céu a terra Xiririca se compõe de uma área coberta por mata atlântica. Com risos de alegrias e visitações abriga a tão conhecida Gruta da Tapagem ou Caverna do Diabo além de uma rica história e cultura preservada.
Por isso, Xiririca é hoje Eldorado como diziam os indígenas aos desbravadores espanhóis: uma cidade de construção de ouro maciço com quantidade de tesouros imagináveis. E, na verdade, o tal citado nome Eldorado significa na língua espanhol o homem dourado que tamanha era a riqueza da cidadela, que o imperador tinha o hábito de esposar no ouro em pó, para ficar com a pele dourada. Como se sabe a biografia dessa majestosa Estância Turística de Eldorado teve início quando os portugueses exploradores entraram pelo Rio Ribeira a procura do metal precioso.
O bom menino Miguel celebrou na educação os seus passos até a quarta série, e nas horas vagas seu pai o chamava para acompanhar nas pescarias, não gostando, ele ia “meio obrigado” pisando com passos lentos e choramingando, e se lastimando após levar umas palmadas. Em tudo o que podia se realizar contava com ele, e a pescaria era um profundo desgosto de tal modo que o mesmo até a presente data não saboreia um peixe.
Naquela época a pequena cidade não disponibilizava de estradas ou rodovias e todo o movimento comercial era através do porto, bem como o ponto comercial ficava próximo ao porto na rua de baixo. Sabe-se que a movimentação era um dos cartões postais de Xiririca, com barcos subindo e descendo, vinha barco de Juquiazinho, Bento Martins, passando por Registro. Era uma verdadeira estrada por cima das águas, carregando os destinos daqueles povos. Isso sem se falar das distâncias e horários, e que por ocasião, o irmão de Miguel chamado Celso foi ferido por fogos de artifício e levaram três dias de barco para chegar a Santos, levando-se em conta que foram de canoa até Juquiá e depois de trem a Santos, onde passou por três cirurgias para tratar do ferimento.
Passados alguns anos, a família entabulou projeções e foram residir na Barra do Braço, no município de Eldorado. O seu pai Joaquim era cartorário e na futurista cidadezinha comprou na área rural um local para criação de cabritos. Sendo que Miguel e suas irmãs Madalena e Marta tomavam conta, e sofriam para cuidar e pegar os animais. Com tantos labores, eles ainda tiravam o leite de cabra por que o seu pai gostava muito. É, na Barra do Braço onde não se esgota uma das maiores áreas ocupada por bananicultura.
O garoto Miguel via o mundo em sua volta, a idade já se apresentava nas aquarelas da jovialidade, e com dezessete anos, deixou Barra do Brejo com os laços tristes no coração e partiu com destino à cidade de São Paulo. Aspirando nas trilhas daquele polo em crescimento, este, trabalhou na Companhia Telefônica Brasileira. E com as condições miúdas teve que morar numa pensão com mais dois colegas na Av. Brigadeiro Luis Antonio numa das mais importantes de São Paulo. Naquela época um colega de Miguel adaptou um pequeno sistema que revolucionou a consciência do amigo. Fizera tal amigo um equipamento elétrico que acendia a luz, ligava o rádio e também ligava o “rabo quente”. E, ao mesmo tempo, era um recurso inusitado, pois, fora um dos motivos que ninguém queria acordar cedo.
Não tardou, Miguel Seabra determinou os seus dias indo para o exército, comunicou-se com o tio que deseja servir na polícia, e mais tarde trabalhou na infantaria, cavalaria e foi guarda florestal naquela ocasião..
PARTE 02
O ATO DE NASCER - NEIF
A aurora repartia com a lua o esplendor e despontava na Dona Alice, a doçura encantada de abrir nos lençóis adornados de esperança, as pupilas de mais um sonho, abreviando as ânsias de saborear com o esposo Romeu, a pureza de um olhar na transferência daquele dia 16 de agosto de 1926, um ano com tantos episódios no Brasil e no mundo, ali, naquele simples aconchego materno, nascia a menina que um dia iria transformar as pupilas de um grande amor na mais majestosa aspirações dos sentimentos humanos.
E neste tablado de datas relevantes sobressaiu o “Manifesto Regionalista de 1926, com a divulgação do Modernismo por vários Estados brasileiros com aliança de desenvolver a região nordeste e seus aspectos sociais, culturais e econômicos, além de outros interesses”. E foi ainda, neste mesmo mês de agosto em que arrebentou o “Movimento 28 de Maio” com um ardoroso golpe de Estado, que explodia com as recentes transformações sociais e novas expectativas. Não se pode calar a esmagadora derrota do Flamengo com o São Cristóvão no Campeonato Carioca durante o primeiro turno no dia 16 de maio de 1926, no Estádio Figueira de Melo. Em que apanhou de cinco a zero do São Cristóvão, e nesse período a família resolve morar em Barra do Braço.
Os dias foram acrescentando as germinações que o tempo é capaz de oferecer. E já bem grande a menina Neif, oportunamemente, ajudava a mãe em casa no aprendizado dos afazeres domésticos. E nos meios educacionais, cursou até o quarto ano. Mais, os desejos do pai é que a moça fosse estudar em Sorocaba juntamente com suas amigas. Sob a recusa, Neif observava atentamente para outros horizontes, e neste aspecto, ela resolveu estudar em Pariquera-açu, residindo na casa da tia Sílvia por um ano. Insatisfeita, retornou para Barra do Braço, e achou por bem estudar corte e costura, onde rapidamente iniciou a trabalhar de costureira e ajudava a mãe em todas as tarefas de casa.
Não demorou muito, Neif já com vinte anos foi para Santos e ficou meses fazendo um estágio para saber se tinha vocação para ser freira e voltou entusiasmada, porém, os seus pais não lhes renderam satisfações. Aos costumes. Ela sempre visitava a Dona Madalena e naqueles diálogos amigáveis, a mesma falava que tinha um irmão em São Paulo e que o mesmo desfrutava de muita beleza e que Neif precisava conhecê-lo. Inquirindo com as seguintes palavras:
-Neif! Você desistiu mesma de ser freira?
-Não sei. Às vezes penso que sim e às vezes penso que não. Disse Neif sentada na sala.
-Eu tenho uma novidade pra lhe contar.
Sorriu a dona Madalena.
-O que é mesmo dona Madalena. Conte-me logo.
-Hum! Olha Neif, eu tenho um irmão que mora em São Paulo, é lindo todo, uma graça de rapaz.
-Não acredito! E como se chama?
-Miguel. Parece um bonito nome. A senhora tem foto dele aí?
-Não. Não tenho. Mais ele vai chegar pra festa na igreja e neste dia eu vou lhe apresentar. Tenho certeza que você irá gostar dele. É um rapaz muito ajuizado e de bom comportamento. Você tem que ver ele primeiro pra saber. É melhor esperar.
O GRANDE NAMORO
E o dia da grande festa na igreja de Jacupiranga chegava ao seu dia. E Neif bem pronta e com as fragrâncias encantadoras fora apresentada por dona Madalena ao irmão Miguel Seabra. Ao travarem as primeiras palavras com o jovem, as pupilas brilharam no interior das íris transformando no encanto. E naquele dia, o coração pulsava mais forte, e o seu rosto derramava um contentamento não medido pelo tempo ao sabor de um sentimento inesgotável. Eram os olhares apreensivos na direção do jovem Miguel que elucidava na transmissão de uma corrente invisível de luz e afeto.
Era um amor à primeira vista desenfreando nas cortinas das eras as inquietações que realizam os elos magnéticos. Contudo, Miguel também sentiu ligeiramente o bálsamo cair através da brisa que revoava naquele espaço junto a igreja com a lindeza daquela moça mulher. Até mesmo o seu perfume tragado nas mãos do jovem permaneceu por muitas e muitas horas, com o sorriso que se abria em favos de felicidade. Após a festa, Miguel foi embora e a jovem Neif retornou à sua casa com o sabor de longas venturas a desbravar. A partir daquele dia, Neif enxugou as saudades nas esperas, e realizou nos entardeceres, os sonhos dos últimos momentos em que o amor era uma fantasia e que pudesse um dia se transformar em realidade.
Certo dia, Neif estava a passeio em Pariquera-açu e ao trocar de ônibus viu o amado de farda, de imediato, o seu coração bateu tão forte que as palavras se estremeciam, e de lá vieram juntos conversando, tudo ainda na fase inicial de namoro com as trocas de olhares e inaugurando uma estrada de amizade que os dois trilhavam.
Mas a realidade não se mostrava com os sonhos, e Neif perdurava olhando no céu estrelado das noites em que a lua cobre os enamorados, a distância prateada com o homem ideal de sua vida. Antes de dormir orava, além disso, sustentava fervorosamente seus pedidos para que a luz do Onipotente pudesse lhe dar rumos e que se fosse o homem certeiro de sua vida, Neif prometia que desse certo logo.
Porém, as ansiedades e as lembranças caminhavam de mãos dadas, irrequieta se dirigiu à residência dos familiares do Miguel Seabra, de prontidão estava na porta a mãe e a irmã de Miguel.
Oportunidade em que Neif cumprimentou e também indagou.
-Como vai Dona Patrícia? Quais as novidades?
-Eu vou bem minha filha. E o povo de lá como estão?
-Todos estão ótimos. E aí dona Madalena por onde andavas que nunca mais olhei?
Segurando uma blusa nas mãos, responde com um sorriso:
-Eu estou sempre por aqui. Você que nunca mais apareceu.
-Sim, mais estou vindo agora. Quais as notícias do Miguel? O que aconteceu que ele nunca mais veio por aqui?
Madalena respondeu.
-Sim Neif, realmente ele ainda não veio. Mais quem sabe ele poderá está chegando a qualquer hora. Você ta gostando mesmo dele?
-Sim e muito. Mais tenho receio dessa demora e de algo não corresponder com o que desejo.
-Olha Neif! Quanto a isso eu tenho certeza que ele te admira demais. Pra ser sincera ele até largou uma pretendente paulista, só por sua causa.
-É verdade dona Patrícia?
-Sim, é o que ele me disse e confirmou com a Madalena.
Após longas conversas, retirou-se Neif com destino à sua residência, onde os impérios das imaginações refletiam no descaso, mais repousava na confiança da família em confirmar as paixões e os atrativos que a meiga jovem se desprendia.
Sem sombras de dúvidas, um dia, após a contagem de mais de um ano, apontou Miguel na cidade, sorridente e carregando nas mãos o conforto do seu desaparecimento, ele levava os regozijos que se abriam no coração e os passos apressados, levava a imagem na mente da deusa majestosa e pura. Era ali, um presente, uma lembrança ou recordação que poderia resguardar toda aquela amizade e sustentar sem atrofiar os meigos olhares disfarçados sem sentir a distância. Porém, ao vê-la, os olhares de Miguel foram mais profundos na menina dos olhos de Neif, entregando em suas mãos um Oratório com Nossa Senhora Aparecida. Ela sorriu e agradeceu. A partir desse instante, Neif percebeu que Miguel não havia se esquecido de sua imagem, e as preces e tantas súplicas foram ao caminho e bem atendidas. De tal forma que o seu coração partiu em milhões de exultações e os olhos se encheram de montanhas de afeições. Bem ali, na sua presença estava Miguel que também se encantava com a cordialidade e a boa recepção da moça.
Adiantado os passos desse romance, os dois já sabiam o destino em que a lua se posicionava no céu de Jucupiranga. E nesse passo, os tios Ulisses e Napu incomodavam com brincadeiras de que a sobrinha namorava com um soldado e que iriam rodar o mundo. A moça ficou quieta sem dizer uma palavra, apenas tomando posições na imaginação. Não demorou, e chegando de viagem, Miguel adentrava na cidade com a farda militar, ladeando na ideia refletida da moça que o aguardava. E foi justamente naquele banco da Praça de Jucupiranga que ela afirmou de frente para o namorado:
-Miguel! De farda nem pensar! Por favor!
-Neif! Meu amor! Acredite. Eu só vou tirar a farda quando eu me casar com você. Eu preciso de mais um tempo pra dar uma arrumada na minha vida. Tenha como isto a minha prova de amor. É tudo o que posso fazer por nós.
-Miguel, eu passei dias e noites pensando em ti, e não é por isso que vou aguardar mais uns dias na certeza de podermos casar, manter a nossa família e viver em paz. É tudo o que quero de você. E lhe agradeço de coração esse lindo oratório. Levarei para a nossa casa no dia em que casarmos.
-Eu também nunca lhe esqueci em nenhum momento. Se eu pudesse eu já estaria em seus braços. Você não imagina o quanto sonhei contigo, e por várias noites fiquei acordado no meu quarto a olhar para o teto e pensar..., pensar..., e pensar lá do meu quarto. Era como se eu estivesse vendo você como estou aqui e agora.
-Miguel! De tudo eu farei para honrar as nossas alegrias e tristezas seja em que situação seja. Temos que sermos fortes e lutarmos pelo que se deseja. Eu quero sempre você do meu lado.
-Eu também Neif. Eu vou lutar como um Hércules e vou voltar pra unir os nossos sentimentos. Eu quero ver todo o Vale da Ribeira derramando o nosso amor em cascatas. Somente assim, eu posso assegurar as melhores sementes destes momentos.
E dessa forma compreendeu o recado dito à sua frente, pois Neif se incomodava namorar com Miguel completamente fardado haja vista os comentários de alguns dos familiares. Por justo e receoso motivo é que Miguel todas as vezes que ia visitar a namorada, escondia a farda no bambuzal. E bem refletido, fez um juramento ao grande e enlaçado amor de que só iria casar com Neif quando deixasse a farda.
DO NOIVADO E CASAMENTO
A vida é o relevo que se refaz no cotidiano, e as plumas se estendem nas camadas dos nossos prumos no aprimoramento de que somos capazes de remodelar as tangentes. E neste latifúndio de amor sereno entre as folhagens que se coloram no auriverde da existência. A união nivelada no pleno namoro de aproximadamente dois anos, bem como o despontar do noivado de Neif e Miguel soou no estandarte de primeiro de janeiro de 1959, e nesta época, Miguel já havia deixado o quartel e consequentemente cumprido seu juramento sem a farda. Presentemente, na junção dos esforços solidários, ele já tinha um caminhão em sociedade com o irmão Bimbo. Cujo veículo servia nos domingos para conduzir os jogadores de futebol para a cidade de Jacupiranga. E desta forma, enquanto rolava a bola no meio do campo, Miguel aproveitava o minúsculo tempo para ir até ao sítio onde Neif o aguardava com um bolo.
A noiva quanto mais bela ia encurtando o tempo para a prévia união das alianças, onde brotou naquele apogeu a fortaleza dos sentimentos enraizados nas meiguices do casal, fortificava naquele apogeu as delícias primárias de um romance.
Desatando nas verduras da paixão, a mais harmoniosa junção ofertada pelas preces e amor que trilhavam juntos. E foi desse modo e naquele festivo casamento em que Valdomiro, ladeou de forma inesquecível suas melodias com a igreja lotada. Enquanto Neif e Miguel uniam-se pela primeira vez de suas vidas a amizade, a confiança, a sabedoria, o amor, a compreensão e a preparação para mais uma jornada de alegrias, também percorria na dominação das tristezas que acompanham o ser humano. Mas, ali, desencadeava o sorriso fervoroso do casal embarcando nos sonhos que se propuseram e daquela forma mais justa se entregaram no labor e nas esperanças de uma nova vida.
E assim, a festa continuou na casa da noiva com os toques musicais de Valdomiro alegrando todos os convidados na Fazenda Santa Adélia. Abraços e beijos, sorrisos e amontoados de felicidades riscavam as faces de todos os presentes. O churrasco com dois bois, bolos e doces sacudia as adjacências de todas as prosperidades. A festa não parava, continuava noite adentro sem qualquer interrupção. A presença dos noivos com brios de largos risos chegavam à flora das quatro horas da madrugada e sem descanso rumaram para Juquiá com o seu tio Ulisses, levando a bagagem. Já eram seis horas daquela manhã, e na parada da pequena estação, surgia a Maria Fumaça, o trem da partida sacudindo nos trilhos, zuando, zuando, lá vinha o trem, soltando bastante fumaça.
E o maquinista observava da janelinha o casal de enamorados adentrarem num dos vagões com solavancos. A Maria Fumaça apitava soltando fumaça, era o aviso do maquinista dizendo que iria partir, e por trás, o tio Ulisses balançava a mão ao casal que da janela também acenavam.
Naquele longo trajeto não havia cansaço, e sim, as esperanças que viajavam compactando bem firme e compartilhando na vereda dos trilhos intermináveis o amor entre o casal. Miguel beneficiava em tudo a esposa que adorava a praticidade dos gestos com tanto fervor. De vez enquanto, Neif olhava dentro dos olhos de Miguel, sorriam, beijavam-se e se abraçavam na mansidão da cálida ternura. O tempo não era a razão para medir as horas, e passava sem notar. Logo, as imagens dos lugares eram distorcidas pelo fulgor em que aumentavam as chamas. Nem mesmo as curvas da linha férrea eram capazes de sentirem o termômetro daquele abençoado casal que deglutiam os inesquecíveis momentos de um amor sem fim.
E nesta trajetória de tantos afetos, chegaram a Santos e depois rumaram para São Paulo, chegando de tardezinha na casa da Adelaide em Santo André. Nesta enseada de aclamações nasceu a Lua de mel durante uma semana na terra Santista e depois foram para Aparecida do Norte.
A BIOGRAFIA DE CASADOS - Eldorado e Cajati
Não tardou, e eles foram morar em Eldorado numa casa velha na beira do rio. Ás 23h apagava a luz – e dava muito medo, por isso sempre que seu Miguel viajava para São Paulo, deixava Neif na casa dos pais em Pariquera-çu. Sucede que numa determinada noite de domingo, após seis meses de casada, Neif levou um grande susto, meia-hora antes de apagar a luz às vinte e tres horas. De certo que a companhia emitia um alerta sonoro. Porquanto, ela já se encontrava deitada, e havia deixado a caixa de fósforos e o maço de velas ao lado da cama, quando apagou a luz, ouviu um barulho na porta, suspeitava que houvesse alguém arrebentando a porta. Naquele momento, Neif permaneceu rezando e o que se pode crer que algumas pessoas entraram no espaço ao lado da casa e percebia claramente como se estivessem escavando na parede no quarto a procura de dinheiro. Porém, graças à Deus alguma coisa os assustou e foi embora.
Após tal incidente, Dona Neif não ficava mais em casa à noite, e às vezes, ia para a residência de Bimbo, ocasião em que já se encontrava grávida da filha Carminha. Noutra oportunidade passou seis meses na casa de seus pais.
A alma reverenciada de Miguel tinha sede por um copo de Justiça social, e por fim, veio o sonho de revolucionar a política nacional, momento, em que se filiou ao partido da Republica. Sendo pelo município de Eldorado, eleito ao cargo de vereador após o Golpe Militar em 1964. Ressalta-se que durante o período em que esteve presente na casa legislativa, atuou por 01 ano contra a corrupção, buscando promover a justiça, denunciando irregularidades, devido ao período em que o país sofria pelo regime Militar, com forte pressão política, ainda sofreu atentado contra sua vida e foi cassado pelo regime militar devido seu posicionamento. Afora, algum tempo foi reintegrado e na mesma sessão pediu o seu afastamento, deixando a política naquela ocasião.
Não suportando o grande vacilo da política partiu com a família de Eldorado para Cajati no ano de 1968, levando consigo os quatro filhos – Carminha, Joaquim, Maria Alice e Camilo, vendo-se que naquela oportunidade nascia Romeu cujas fotos do álbum de família demonstram eles no aviãozinho em Eldorado. Era naturalmente que as condições de mudanças céleres não pudessem sobrecarregar ainda mais o leito da consciência. E perante este tablado, o casal já sabia que estavam prontos para atravessarem as tempestades no deserto verde pelo Vale da Ribeira e os mares de tristezas. Obviamente, não lhes faltavam nenhum complemento, vez que a fé era mais forte do que qualquer outro argumento e se posicionava em todas as direções dando ensejos benéficos.
Após cicatrizes de pequenos sofrimentos na fé, Miguel e Neif constituíam-se num grande alicerce de modelo aos filhos, impregnando todas as ferramentas disponíveis no momento, demonstrando que a luta pelo trabalho são os esforços na fé e nos pedidos de orações. Sabendo que a vida era difícil, e, portanto, todos os filhos trabalhavam juntos realizando de tudo o que podiam. Não há como se negar a força de trabalho de Carminha e Romeu com uma caixa de engraxate.
Os tempos, as épocas e as eras nunca sãos as mesmas estações outrora surgem nos horizontes avermelhadas outrora tão azuis que eclodem nas pupilas. E foi dessa forma que a família do senhor Miguel e Dona Neif começaram o atendimento na cantina do Colégio Cajatão, e no ano de 1981, abriram a 2ª cantina no Parafuso e no ano de 1982 com a cantina no Bico do Pato, e sempre fazendo chup-chup para vender.
A HISTÓRIA EM CAJATI - E a vinda para Curitiba
A VIDA EM CURITIBA
Foi no ano de 1983 quando a família procurando um novo horizonte, resolveram mudarem para Curitiba. E nesta época possuíam uma Kombi e travaram de levar todos e tudo no automóvel, com fé, esperança de uma vida melhor. Acompanhando o cachorro de estimação e uma carta de recomendação do PE. Macário que serviria para alugarem uma casa. Em tudo o que se sabe, é que esta família carrega a sua única riqueza, os filhos e a fé.
E tudo fora difícil no começo, tendo a família sofrido em diversas provações, faltava dinheiro para aluguel e a dura luta para as provisões da boca. De tudo um pouco, Miguel e os filhos faziam, eram máquinas de trabalho indo e voltando para o lado em que a situação merecesse. Eles vendiam banana, frutas, verduras, faziam marmitas. Além disso, havíamos agregados que já faziam parte da família. No entanto, a casa era pequenina, mas davam jeito para tudo, um dia serviam refeições e de noite a sala virava quarto.
Sobretudo, a fé, perseverança e a coragem falavam mais alto. E o Santo Antônio sempre abençoando através dos vários Antônios que cruzaram o caminho da família. Esclarece que certa vez, o senhor Miguel procurando no jornal viu um anúncio de venda da Cantina do Cajuru. Ele e Joaquim foram negociar. O chapeiro, o gerente e o dono se chamavam Antônio. E não deu certo. Passados 30 dias o chapeiro Antônio procurou por eles porque a cantina estava à venda novamente.
E lá foram trabalhar com a nova cantina. Tudo foi difícil no começo, não sabiam nada. Mas tinham muita vontade de aprenderem. Acreditavam que ia dar certo e realizavam revezamento nos turnos, sendo os pais de dia e os filhos até tarde da noite.
No álbum da família, veem-se as fotos com o livro caixa da cantina, fotos das cantinas e eles trabalhando. Sabendo eles que era difícil, mais compensavam em festas, baile do Havaí, baile no Morgenau, danceterias, boates. Além de que as meninas reclamavam do cheiro da fritura dos rapazes. Atualmente, a família se encontra bem estruturada e estabelecida.
E assim, as Bodas de Ouro do casal se eternizaram com as vivacidades dos corações de todos os familiares. Ele com setenta e oito anos e ela com setenta e três, disponibilizando a sua residência aos familiares, amigos e conhecidos, havendo sempre um lugarzinho para mais um que chegue.
Diante do calendário do ano de 2010 é especial, pois, nasceu o Francisco, primeiro bisneto, estando o seu neto Mateus Felipe residindo com o casal.
Sem sombras de dúvidas, agora colhem os frutos que plantaram na harmonia e paz, amando todos os filhos, netos e bisneto e sendo muito amados por todos eles.
A grande festa da família, o orgulho dos filhos, netos e bisnetos na maior comemoração de meio século de amor para realizar um casamento totalmente de ouro e emoções. Sem brevidade, foram 50 anos de união nos laços matrimoniais, seguindo uma travessia para a prática diária de doação no compartilhamento de tristezas e alegrias
Duram e servem para muitos exemplos a vida de Miguel e Neif no aprendizado das lições em que um descobriu o sabor de viver bem ao lado do outro. Por isso, a história de vocês merecem constar nas minhas narrativas como uma homenagem especial de Bodas de Ouro.
Felicidades
FIM
Agradeço ao amigo Joaquim residente em Curitiba (PR), filho dos homenageados que me confiou à distância esse labor de Bodas de Ouro para ser lido na missa e festa. Deixando a riqueza dos detalhes com o passeio da minha alma por todos os lugares acima descritos. Aspirando a todos que comemorem juntos, esta data especial de Bodas de Ouro, e numa brevidade possível, estarei aí.
Meus Parabéns!
Vídeo e fundo musical
http://www.youtube.com/watch?v=8b8QPhU2NKs